Diferente da velocidade dos carros nos games, demorou para que a franquia Need for Speed ganhasse as telas dos cinemas. A série de jogos vem desde lá em 1994, sete anos antes de Velozes e Furiosos ser lançado e reviver esse hype por velocidade na sétima arte (os anos 60 e 70 já foram marcados por carrões muito mais estilosos e envenenados). O que sobra então para Need for Speed? Bom, não muita coisa.
Bem verdade, o filme dirigido por Scott Waugh (do meio ficção, meio real Ato de Valor) nem bem funcionaria como mais um jogo da série, principalmente diante do roteiro preguiçoso da dupla John e George Gatins (o primeiro escreveu Gigantes de Aço). Uma provável meia dúzia de páginas carregadas de desculpas pouco empolgantes para que Aaron Paul (recém saído da série Breaking Bad) entre em seu carro e pise no acelerador. Pensando bem, talvez até funcionasse nos video-games, já que parte da diversão está lá.
Não há como negar que as perseguições, corridas e manobras sejam empolgantes, por isso cada uma delas, por mais longa que seja, acabe fazendo valer o ingresso de quem foi ao cinema só em busca disso. Em quando me refiro a “só”, não há exagero algum. 130 minutos de filme que podem ser divididos entre mais da metade disso emulando o que o jogo faz de melhor: colocar você por trás do volante.
E nesse caso, muitas vezes literalmente, já que entre um monte de planos aéreos, cameras grudas nos chassis dos veículos, ou no chão das ruas e estradas, não são poucas as vezes que a sentimento é (realmente) estar com as mãos no volante encarando o para-brisas. Waugh ainda extrapola esse objetivo e na maioria dos (grandes e voadores) acidentes até mesmo mantém o esquema visual com o espectador sentindo “na pele” o papel do motorista.
Isso, enquanto você acompanha a história desse piloto amador (Paul) que acaba aceitando uma parceria com o “vilão” Dino (Dominic Cooper). Não pergunte de onde vem a antipatia e nem quais razões ele teria para não confiar nele, mas ela está lá, e curiosamente nem acaba sendo um problema, já que o trabalho em conjunto entre os dois dá certo, o suficiente pelo menos para um virar as costas para o outro e continuar vivendo suas vidas. Até que em um momento “macho” (leia-se também idiota) um desafia o outro para ver quem é o melhor nas pistas. O resultado disso são dois anos de cadeia do protagonista, um trauma e uma vingança anunciada.
No resto, a adaptação do game é sobre esse herói e sua equipe cruzando os Estados Unidos em busca de uma vaga para uma corrida clandestina bancada por um milionário misteriosos vivido (bem!) por Michael Keaton. Bom, talvez “bancada” não seja a melhor palavra, pois ele não parece enfiar a mão no bolso para absolutamente nada, já que o rota é uma estrada, cada competidor tem seu próprio carro e o vencedor leva o carro dos perdedores. Mas lógico que Tobey (Paul) não está preocupado com o dinheiro.
Need for Speed então pode até ser sobre essa vingança, mas de modo pragmático é movido por uma decisão idiota e uma disputa que poderia acontecer em um vestiário masculino e envolver o tamanho dos órgãos genitais dos dois (sendo que nesse caso ela seria mais aceita, já que não colocaria em risco a vida de de ninguém). “Mas nós já passamos por vários problemas, não precisamos corroborar com o vilão”, diz um dos amigos do herói, só para ele responder : “Mas agora é diferente!”. O problema é que nada é diferente.
Mas como fica óbvio, a maioria que entrar no cinema não vai se preocupar muito com a capacidade do roteiro de criar motivações críveis, e o ronco dos motores será mais que suficiente, ainda que Waugh acabe se repetindo demais em alguns planos dentro do carro (ao invés de apelar para uma montagem frenética, como faz Velozes…).
E é lógico que seria impossível não comparar Need for Speed com Velozes e Furiosos, entretanto, é mais difícil ainda conseguir fazer isso diante do abismo entre os dois. Enquanto um foi responsável pelo frenesi nos video games, mas demorou demais para se livrar dos joysticks e ganhar os cinemas, o outro tinha uma história para contar, Vin Diesel, carros mais bacanas e a impressão de ser inédito e não alguém que demorou para aproveitar o hype.
“Need for Speed” (EUA, 2014), escrito por John e George Gatins, dirigido por Scott Waugh, com Aaron Paul, Dominic Cooper, Imogen Poots, Scott Mescudi, Rami Malek e Micahel Keaton
1 Comentário. Deixe novo
Vixi, o filme deve ser fiel aos jogos então, por que eu brincando com meus carrinhos quando criança inventava histórias melhores que as dos jogos rsrs