Onze anos atrás O Contador foi um sucesso, não só por ser bom, mas principalmente, por ter um personagem diferente do que se espera dos filmes de ação e, ainda assim, usá-lo de um jeito que despertava o interesse em uma trama cheia de reviravoltas e surpresas. E ainda, é claro, um monte de cenas de ação divertidas. Agora, O Contador 2 não faz nada disso.
Como se essa continuação estivesse viva apenas para valorizar um pouquinho a marca original enquanto os fãs do primeiro matam a saudade dos personagens. Mas nada no filme faz com que isso tudo soe como necessário para a existência dessa história, escrita e dirigida pela mesma equipe e ainda trazendo de volta a maioria do elenco. Portanto, não há mudança que aponte a falta de qualidade, é apenas desgaste mesmo.
Talvez porque o Christian Wolff (Ben Affleck) vivendo mais uma vez o personagem savant deixa de ser uma novidade, ainda mais quando seu trabalho como contador é completamente deixado de lado na continuação (a não ser por uma cena onde faz umas contas de cabeça). Affleck mais uma vez está ótimo no papel, mas é difícil saber se a ausência de sentimentos da síndrome ajuda na interpretação (se é que você me entende…), mas o que importa é que ele continua funcionando.
A diferença agora é que ele interage muito menos com o “público geral”, então suas características savants acabam ficando mais perto apenas de um cara que não lida muito bem com sutilezas, figuras de linguagem e sentimentos do que alguém que estava “fazendo o caixa” de criminosos de manhã e descendo cacete em gente nas horas vagas. Existe ainda espaço para mostrar sua equipe de savants pesquisando coisas impossíveis em seus computadores e isso é até divertido, mas não o suficiente para salvar o filme.
Wolff é chamada para a trama depois que o agente Ray King (J.K. Simmons) é assassinado logo no começo e consegue antes disso apontar para que “o contador” seja chamado. Sua antiga parceira, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), então “recebe” a ajuda de Wolff, mesmo sem pedir diretamente, o que fica ainda pior quando ele próprio pede ajuda de seu irmão Braxton (Jon Bernthal), um assassino profissional com uma carreira super-reconhecida e respeitada. O que para a agente se torna um problema, já que os dois não estão muito preocupados com a lei.
Mas pouco importa, O Contador 2 tem apenas um arremedo de trama suficiente para guardar uma pequena surpresa envolvendo uma outra personagem e quer mesmo é colocar os dois irmãos para interagir. O resultado é, disparadamente, a única coisa que funciona realmente no filme. Wollf é frio e calculista, sem sentimento e pragmático, Braxton é emocional, carente, dramático e empolgado (e Bernthal dá conta do recado demais!). Sem muito o que contar de trama, uma das decisões mais acertadas do filme é deixar muito espaço para os dois ficarem por aí conversando e discutindo. E isso é ótimo.
Em termos de ação, tudo que tem parece pouco e se permite ser apenas um ápice de terceiro ato cheio de tiros contra um punhado enorme de bandidos genéricos. A cena de ação funciona e demonstra o quanto os irmãos são duas máquinas de guerra azeitadas e em sintonia, mas não parece nunca que aquilo está lá para ser o melhor do filme
Principalmente, pois a trama parece ser tão despretensiosa que talvez seja até simples demais e confia mais do que devia nessa estrutura sem um vilão mais atuante e apenas observando os protagonistas tentando encontrar uma solução para aquilo e deixando de lado algum de confronto mais direto. O resultado é um filme meio sem propósito, onde a história parece que vai chegar em um lugar tão óbvio que fica difícil não se irritar com o tempo que demora para chegar lá.
Um problema que não estava no primeiro, muito mais centrado nos acontecimentos da trama do que em seus personagens. É lógico que voltar a vê-los tem um certo prazer, mas, com certeza não o suficiente para salvar o filme.
“The Accountant 2” (EUA, 2025); escrito por Bill Dubuque; dirigido por Gavin O´Connor; com Ben Affleck, Jon Bernthal, Cynthia Addai-Robinson, J.K. Simmons, Allison Robertson, Daniella Pineda, Robert Morgan e Grant Harvey.