[dropcap]E[/dropcap]ste é o quarto da série de filmes onde humanos e máquinas estão brigando desde 1984, e de certa forma é a primeira continuação aguardada. Se considerarmos o final de A Rebelião das Máquinas, onde o fraco John Connor interpretado por Nick Stahl é acompanhado por sua futura esposa, Kate Brewster, para um abrigo anti-nuclear horas após as máquinas controladas pela rede Skynet destruíssem boa parte da raça humana e iniciassem uma guerra sem precedentes, O Exterminador do Futuro: A Salvação é um filme previsto há décadas nos roteiros anteriores de James Cameron, Gale Anne Hurd e William Wisher.
Agora Connor está onde todos esperaram que ele estivesse: liderando a Resistência contra as máquinas. E por isso mesmo seu papel é entregue a um ator com mais presença de tela como Christian Bale, que emagrece entre um Batman e outro para fazer o carismático mas abatido líder que constrói empatia entre os sobreviventes do massacre articulado pelas máquinas através de discursos visionários sobre um futuro em que a humanidade irá vencer.
Connor demonstra uma certeza absoluta disso e é visto como profetas pela massa, apesar de charlatão pelo alto comando dos militares restante. Este Connor é uma versão retroalimentada pela história contida nos filmes de 1984 e 1991, pois recebeu instruções de sua mãe, Sarah, sobre o que estava por vir, instruções essas que não existiriam se seu filho não enviasse seu próprio pai para salvá-la desde o princípio da história.
A trama principal é complexa e profunda, mas o diretor McG não se intimida por estar mexendo em uma arte abraçada por vários fãs e parte para a ação que muitos estavam esperando. Este é o filme com mais ação e efeitos de todos os anteriores, mas é o primeiro que não nos preocupamos tanto assim com a história, pois ela se amarra ao universo do Exterminador do Futuro apenas de passagem, e os novos personagens, que parecem ter vindo de outros filmes como Matrix, Jogos Vorazes e Ghost In The Shell, se adaptam de maneira pobre ao universo, como a incógnita ambulante do personagem de Sam Worthington, cuja reviravolta é boba e previsível desde a primeira cena em que vemos Helena Bonham Carter praticamente materializar a futura Skynet convencendo-o a doar seu corpo para a ciência.
Este é o primeiro dos filmes também em abraçar por completo a nova Hollywood, tomada pelo barulho de explosões cada vez maiores e cenas de efeito cujo sentido se encontra plenamente na catarse do escapismo emocional, mas sem nos envolver por completo por ignorar a construção de seus personagens. É a estética dos heróis dos quadrinhos que aos poucos começa a invadir o mundo realista de O Exterminador do Futuro.
Humanos são capturados por braços de um robô gigante e jogados a vários metros de altura para dentro de uma prisão onde serão mantidos. Por que a máquina se preocupa em manter prisioneiros? Não há motivos claros, exceto permitir que John Connor tenha humanos para salvar.
Com o uso da computação e o fundo verde praticamente em toda cena, boa parte do filme foi filmado em estúdio e trabalhado arduamente em pós-produção. E o resultado é um mundo pós-apocalíptico crível, embora saído dos melhores vídeo-games atuais, já que a fotografia de Shane Hurlbut usa um tom monocromático sem imaginação típico de jogos de computador de tiro em primeira pessoa que não podem processar tantas cores em tão pouco tempo.
Dessa forma, aquele azul melancólico do início da série de filmes foi substituído por cores mais… militares. O design de produção focado em ruínas e poeira, no entanto, acerta em evocar um novo tipo de melancolia, do tipo que se pode vencer.
Criando novos personagens e máquinas pela diversão de acompanharmos as missões dos humanos na guerra contra as máquinas, A Salvação não é um filme ruim, mas se arrisca tão pouco em sua história que vira um passeio por um parque temático, onde os diálogos e as situações estão delimitadas para cumprir a função de trazer mais cenas de ação. E ao ignorar a diferença primordial entre humanos e máquinas, a reviravolta que conta com uma máquina explicando para outra máquina todo seu plano perfeito lembra as paródias de James Bond como Austin Powers em uma versão cibernética e incompreensível.
Por que uma máquina precisa ter o gostinho de explicar seu plano perfeito? A resposta é simples e direta: para o espectador do parque temático conseguir compreender toda a trama em apenas alguns minutos. Se você não estiver interessado em um pano de fundo para tantas cenas de ação, esse é momento de ir ao banheiro. Logo depois haverá mais cenas de ação e uma participação virtual de Arnold Schwarzenegger, fora do elenco principal, mas necessário para a história. Afinal, este é um filme da série Exterminados do Futuro.
“Terminator Salvation” (EUA, Ale, UK e Ita, 2009), escrito por John Brancato e Michael Ferris, dirigido por McG, com Christian Bale, Sam Worthington e Moon Bloodgood e Arnold Schwarzenegger.