O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos | Crítica do Filme

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

Surge uma dúvida ao final de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos: Quem não deveria existir é ele ou outros dois filmes anteriores?

Talvez ele, já que a tal batalha no livro não dura mais que duas páginas e o ataque do dragão, que abre os trabalhos desse terceiro filme da saga dirigida por Peter Jackson, deveria era estar no segundo filme, dando razão a tal “desolação de Smaug”. Por outro lado é impossível ignorar todos acertos da batalha que une cinco raças da Terra Média com a Montanha Solitária no centro.

A tal batalha então não só é o carro chefe do filme, como talvez seja o momento mais incrível dos três filmes. Ok, então os outros filmes não deveriam ter existido? Também não, já que são as peças colocadas no tabuleiro enquanto os dois filmes enrolavam é que permitem que a batalha corra de modo tão objetivo.

Então os três filmes são perfeitos? Muito menos ainda, já que o poder de condensação deles em dois (ou até em um grande e épico filme) talvez colocasse ele dentro do clássicos modernos. Em três, estendido e espremido até a última gota, o que sobra é uma casca lustrosa sem vida. O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos é exatamente isso: vazio.

A verdade é que existe pouquíssima história para se contar, sobra então para Jackson perder longos períodos de tempo observando o que acontece com os moradores da Cidade do Lago, enquanto desenvolve personagens que não tem a menor importância (como o tal Alfrid). Do mesmo jeito que força um encontro de Gandalf (Ian McKellan) e seu entourage com ninguém mais, ninguém menos que Sauron, como se posicionasse o espectador dentro da “Saga do Anel”, mesmo que isso não tenha a menor necessidade.

Sem enrolação e sem rebarbas dos últimos filmes, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos deveria ser apenas sobre a leve insanidade de Thorin “Escudo de Carvalho” (Richard Armitage) após conquistar a montanha e peitar Bard (Luke Evans) e Tharanduil (Lee Pace), consequentemente entrando em guerra contra humanos e elfos. O quarto exército a entrar na pendenga são os Orcs liderados por Azog. O quinto é surpresa.

Com muita enrolação e conversa fiada até ela começar efetivamente, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos enfim vale o ingresso mais caro do 3D e os 48 frames por segundo (se você não o fez, pode voltar ao cinema!). É Peter Jackson voltando a ser aquele diretor que impressionou o mundo com as batalhas de As Duas Torres e O Retorno do Rei, e não aquele que se empolgou fazendo uma perseguição de barris e uma enfadonha sequencia dentro de uma mina. Tudo fica pequeno perto da batalha.

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

É claro que ela evolui e se separa em menores focos para poder acompanhar cada um dos protagonistas, mas ainda assim o faz só depois de matar a vontade de todos no cinema de uma cena de ação que se preze. Bard e Tharanduil tem então seus momentos, enquanto Legolas surge para ser aquele Logolas do Senhor dos Anéis, fazendo as coisas mais incríveis que um elfo poderia fazer em meio a uma batalha, mas o foco é mesmo em Thorin e seus anões. E a grande verdade é que você não está muito preocupado com eles.

Jackson até tenta, principalmente ao aprofundar a personalidade de Thorin, ou forçar o romance entre Kili (Aindan Turner) e Tauriel (Evangeline Lilly), assim como dar alguns momentos para cada um dos outros, mas a grande verdade é que nenhum chama a atenção nem cria qualquer simpatia. Se um troll tivesse caido e esmagado todos no meio da batalha o espectador nem se importaria e seguiria em frente. E isso acontece mesmo com a eficiente luta final de Thorin, que tem todos os quesítos para ser emocionante e alguns momentos empolgantes, mas ainda assim nada de tão impressionante.

E onde está o hobbit Bilbo Bolseiro (Martin Freeman) nesse tempo todo? Por ali, ora com os anões,ora usando o anel e sumindo, ora com Gandalf, hora no título do filme, ora indo embora. Mas em todos esses momentos mostrando o quanto o filme ganharia se focasse mais nele ao invés de ficar enrolando por ai, já que o personagem continua sendo fantástico e Freeman mantém a qualidade e humildade de seu trabalho, mesmo que se descubra coadjuvante em seu próprio filme.

E talvez isso seja o maior sinal de quem não deveria existir. Já que mesmo com a batalha empolgante e a rebarba do filme anterior, seja “A Batalha dos Cinco Exércitos” que não necessitasse existir (e para Tolkien, ela não tinha a menor importância).

Ainda que resulte no melhor momento da trilogia, a existência de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos é supérflua e não interessa nem para o protagonista, e pior, acaba sem qualquer mudança significativa. Mostrando então que muito mais que os Elfos, Humanos e Anões estivesse brigando pelas riquezas da montanha, quem mais lucrou com isso foi mesmo Peter Jackson, a essa hora sentado em uma montanha de dinheiro, muito mais satisfeito com suas posses do que Smaug nunca esteve.


“The Hobbit: The Battle of The Fiver Armies” (NZ/EUA, 2014), escrito por Fran Walsh, Philippa Boyesm Peter Jackson e Guillermo del Toro, à partir do livro de J.R.R Tolkien, dirigido por Peter Jackson, com Benedict Cumberbatch, Evangeline Lilly, Luke Evans, Richard Armitage, Cate Blanchett, Orlando Bloom, Martin Freeman, Ian McKellen, Hugo Weaving, Christopher Lee, Billi Connolly.


Trailer de O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

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