O Orfanato (2007) | Crítica do Filme

O Orfanato


O Orfanato é simples, muito mais simples do que parece. É totalmente construído em cima da máxima do fantasma que apavora a casa pois seu passado precisa ser encontrado e enterrado, coisa que milhões de “Sadakos”, e sua irmã ianque “Samara”, vem fazendo por aí na última década, sem contar a criancinha fantasma, as portas abrindo e fechando sozinhas, o policial tentando ajudar e o protagonista perdendo a sanidade, tudo igualzinho a outros tantos. Mas, uma coisa impede que tudo isso junto não se transforme em um filme igual a um saco de outros que aparecem todo ano no cinema: o modo como ele é feito. Não técnica, mas intelectualmente falando.

Tanto o roteiro de Sergio G. Sanchez quanto a direção de Juan Antonio Bavona, ambos em seu longa de estréia, sabem que estão fazendo um filme para um público acostumado com esse terror moderno, que não se assusta mais com um fantasma a lá Gasparzinho com seu lençol branco, como isso, tudo parece se resumir a criar um clima maior que o espectador possa suprimir.

Alejandro Amenábar já tinha feito isso com seu Os Outros assim como A Espinha do Diabo de Guillermo Del Toro (que aparece como produtor em O Orfanato), isso só para citar exemplos mais recentes, e tanto esses dois como Bavona, enchem a tela com situações que podem tanto resultar em um susto, quanto em uma aparição fantasmagórica de qualquer tipo, mas que se dão, muitas vezes, ao luxo de deixar a própria imaginação do espectador criar aquele vulto que deveria sair daquela sombra. Pode parecer que isso enfraqueceria aquela tensão obrigatória desse tipo de gênero, mas não, muito pelo contrário, com o susto sendo o fim dessa tensão, quanto mais esse “pré-susto” se estenda mais colado na cadeira você, coitado espectador masoquista, fica. Quase como um anti-climax usado à favor.

O preço disso é que obriga o diretor a se amparar muito menos em uma suposta aparição do fantasma principal e muito mais em toda linha narrativa da história. Mais obrigado a conquistar o público por sua trama, pelos acontecimentos e situações que a circulam e levam para um desfecho que por obrigação tem que guardar uma ou outra surpresa para que ninguém saia do cinema percebendo que entrou para ver um filme de terror e saiu tendo visto um “drama” de terror, quase sem fantasmas.

A sutileza é tanta, que, depois de ver o nada entrando pela porta, deixando uma pilha de conchinhas, o nada batendo a porta, rodando o brinquedo no playground e fazendo seus barulhos na madrugada, quando aparece, no mais claro dos dias, sem nem uma sombrinha para escondê-lo, muito menos um susto, Tomás, fantasma de plantão do filme, não deixa a ficha da plateia cair.

A beleza disso, é não precisar se apoiar em Tomás para contar a história da mãe que perde o filho e acaba não conseguindo seguir sua vida enquanto não o reencontrar, que acaba tendo que revisitar seu passado, mesmo que por meio de um encontro com o desconhecido, com as sombras, não só da sua alma, mas da alma da casa que hoje mora, que antes foi o orfanato onde ela mesmo passou sua infância.

Cheio de surpresas, O Orfanato não perde um segundo de sua atenção, assusta quando tem que assustar e emociona quando precisa, se tornando indispensável não só pra quem gosta do gênero de terror.


El Orfanato (Mex/Esp, 2007)  roteiro de Sergio G. Sanchez dirigido por Juan Antonio Bevona com Belén Rueda, Edgar Vivar, Geraldine Chaplin


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