E o digníssimo deputado eleito pelo PC do B, Protógenes Queiroz, quer tirar Ted dos cinemas por que não foi capaz de respeitar a classificação indicativa que o filme estampa em todos seus posters, trailers e programações dos cinemas. Parabéns Protógenes.
Para quem não sabe, tudo começou com esse ex-delegado da Polícia Federal (que ficou famoso com a Operação Satiagraha) e seu filho, de 11 anos, indo a uma sessão do primeiro filme dirigido por Seth MacFarlane (aquele mesmo que criou a série Uma Família da Pesada). O problema é que, após a sessão, Protógenes (no auge de sua modernidade, pelo Twitter) resolveu se indignar com o filme, que, de acordo com ele “não poderia ser liberado nem para 16, nem para 18, nem para idade nenhuma”. Em resumo, esse cidadão pediu por censura em alto e bom som.
Mas se você acha que relacionar a imbecilidade desse deputado com a censura idiotizante que a ignorância pede (já que não consegue conviver com aquilo que não entende), é exagero, pode parar de ler esse texto por aqui. Sério.
Então o melhor é ir por partes. A primeira coisa que Protógenes gorjeou ao ver Ted foi a respeito da apologia a drogas com que foi exposta ao “pequeno Juan” (seu filho). Mas vamos aos fatos, Ted tem classificação indicativa Não Recomendado para Menores de 16 anos, pois (de acordo com o site do Ministério da Justiça) apresenta conteúdo sexual, Drogas e Linguagem imprópria. Check. Check. Check.
Então o que diabos o “pequeno Juan” estava fazendo lá? E já que essa classificação indicativa serve para, justamente, “indicar”, o que excelentíssimo senhor deputado esperava encontrar?
E ai entra em questão um outro problema que aqueles defensores das dublagens talvez nunca tenham pensado a respeito. Existe uma grande possibilidade de Protógenes e seu “pequeno Juan” terem sido enganados pela falta de copias legendadas, já que um filme com um urso de pelúcia e ainda dublado, poderia ajudar nesse erro. E ai Protógenes teria sido “desculpado” caso mostrasse sua indignação pela dublagem de um filme tão “adulto” (o que seria assunto para uma outra discussão maior ainda).
Infelizmente não, o deputado se manteve estático em sua ignorância. Mesmo depois de (aparentemente) ter visto o filme inteiro, Protógenes continua sua “caça às bruxas” ao chamar Ted de “infanto-juvenil” e ainda culpar o filme por relacionar “consumo de Drogas e crime” com um “ícone infantil”. O que talvez ele não saiba é que aquele pequeno número colorido do lado do nome do filme o avisa de tudo isso mesmo sem ele precisar nem ao menos ler a sinopse do mesmo.
Relembrando: Drogas, Linguagem Imprópria e Conteúdo Sexual.
E, provavelmente, Prótógenes não vá ler essas linhas, mas caso o faça, uma pequena dica: Você poderia ter visto Paranorman 3D, Vizinhos Imediatos de 3° Grau, Tinker Bell e até Abraham Lincol: Caçador de Vampiros (caso o “pequeno Juan” seja à frente de sua idade real), mas ao invés disso resolveu entrar em um filme sobre um urso de pelúcia maconheiro, mal educado e edonista. Para sair da sala reclamando que o filme fala sobre drogas?
Parabéns.
Protógenes não entendeu absolutamente nada de Ted ou preferiu ignorar tudo que entendeu para começar uma cruzada imbecil contra um inimigo que não existe. Ted não faz nada que não se proponha a fazer, e o Ministério da Justiça sabe disso. A distribuidora do filme sabia. Todos que entraram na sala junto com o “pequeno Juan” sabiam. Mas, aparentemente, apenas um homem de 53 anos, estudado, ex policial federal e atual deputado não percebeu.
O que assusta mais ainda é ver o dono da conta @ProtogenesQ tentar proibir o filme de ser exibido. Entendam bem: Proibir uma comédia por tentar ser engraçada com a combinação de maconha, um urso de pelúcia que fala e um cara que ainda anda com ele enquanto está na casa dos 30. Notem que só a frase anterior já é engraçada e, obviamente, pouco indicada para uma criança de 11 anos.
Esse “pouco indicado” é que é a grande questão, já que a função do Ministério da Justiça é analisar e mostrar o resultado de sua análise, não proibir. Proibir é censura, e quem tem que impedir seu filho de ir ou não àquele filme é você, não o estado. A questão, infelizmente, é que ninguém sabe a opinião do “pequeno Juan” que, provavelmente, por não exercer uma função eleita pelo povo, não precisa demonstrar nem comprar brigas contra inimigos invisíveis em busca de alguns votos.
Talvez, o “pequeno Juan” entenda a piada pois não tem uma vontade recalcada de aparecer com frase de efeito. Em poucos dias Protógenes passará a estar lutando a favor da “moral e dos bons costumes” contra “esses filmes” que atacam o Brasil com apologia às drogas, dando ao desavisado que chegou no meio da história a impressão que a Classificação Indicativa pode deixar que uma (fictícia) continuação de 9 Canções chegue aos cinemas com classificação livre (esse sim deixaria o Protógenes e o “pequeno Juan” ruborizados).
A verdade é que, enquanto isso, os cinemas continuarão usando corretamente o sistema indicativo, barrando quem estiver abaixo da idade recomendável (se desacompanhado de responsável) e fazendo aquilo que sempre fizeram. Convenhamos, cinemas, distribuidoras (e até o Ministério da Justiça) erram bastante, então é preciso reinterar quando todos fazem seu trabalho corretamente. Como agora.
A notícia boa é que Ted deve ganhar uma continuação, o que deve levar em torno de dois anos para ser filmada e finalizada e já com 13 anos, o “pequeno Juan” poderá tentar passar despercebido pelo “lanterninha” e ir ver o filme em paz, sem o chato do Protógenes.