Pedro e Inês Filme

Pedro e Inês: O Amor Não Descansa | Impossível mapear o amor através da razão


[dropcap]P[/dropcap]edro e Inês é uma viagem lindíssima por três tempos, três costumes e a mesma perda. Brincando com diferentes narrativas e suas trágicas coincidências, o estado da loucura pode ser impossível de mapear na razão ou é apenas a beleza do essencial que ofusca a rotina.

A história principal de Pedro e Inês, que compartilham nomes e relações nas outras duas histórias, termina em um sanatório. O filme começa lá e vai nos desvendando os devaneios de Pedro, que nos tempos atuais tenta trazer alguma luz ao clichê máximo do romantismo: o amor proibido.

Trazendo interpretações do elenco em mais dois tempos distintos, a monarquia e possivelmente um futuro pós apocalíptico (embora isso não seja certo), a narração de Pedro e sua história soa como um poema em prosa, pois possui a reflexão dos acontecimentos sem precisar explicar os detalhes, que vamos acompanhar em uma filmagem convencional, quase teatral, mas estilizada de maneira magnífica, imortalizada, pela arte e fotografia.

Esses detalhes estéticos são importantes, pois os três cenários são limpos, sem poeira, como se os três estivessem acontecendo de fato como Pedro imagina: não com a separação de séculos, mas em paralelo. E se formos levar a questão metafísica que ele levanta, sobre a alma, imortal, sendo condenada a sofrer o mesmo destino várias vezes, o que é o tempo senão a situação dos costumes de uma época? Os seres humanos continuam humanos, e junto deles seus já conhecidos pecados: ciúmes, poder, ambição, desejo por normalidade às regras vigentes.

Pecando pela perfeição extrema na narrativa, Pedro e Inês parece assim elevar o essencial: Pedro precisa de algo para viver, para ser completo. Esse alguém é Inês. Mas por analogia, imagine que não fosse essa amada sem personalidade e apenas beleza. Ela poderia ser uma metáfora mais poderosa ainda, sobre o que cada ser humano deseja mais que tudo. E isso, segundo o filme pessimista, nunca lhe será dado pelas situações da época (ou pela natureza humana).

Pedro e Inês

A interpretação de Diogo Amaral é do mesmo rapaz, preso mentalmente no tempo e espaço onde a história se passa, incapaz de se desvencilhar de sua tragédia e ainda capaz de perceber que ela aconteceu em outros momentos da História, em outras transformações de sua mesma alma. Amaral é apenas impressão que nos traz tensão. Ele e os outros atores não estão ali para criar pessoas de carne e osso, mas para representar peças que se juntam em um emaranhado simples de sensações. É impressionante que mesmo sem muita história para contar, ou com uma história previsível para se desvendar, o filme consiga seguir um ritmo graças à narração apaixonada do ator.

Mas não necessariamente ele vai agradar a todos. Solene e com uma trilha sonora coerente, Pedro e Inês pode dar sono em um espectador desatento em um primeiro momento, podendo soar como uma história que já se viu tantas outras vezes. Mas calma, respire e pense nas diferenças das outras histórias. Aqui o objetivo não é encontrar semelhanças ou diferenças desses personagens em diferentes momentos do tempo.

Talvez uma trama que se costure como o A Viagem, das irmãs Wachowskies, onde é a essência que nos transporta para as lendas. Portanto, esqueça o amor proibido; foque no que você sempre quis e, por algum motivo, não está conseguindo.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


“Pedro e Inês” (Por/Fra/Bra, 2018), escrito por António Ferreira baseado no romance de Rosa Lobato Faria, dirigido por Antonio Ferreira, com Diogo Amaral, Joana de Verona, Vera Kolodzig, João Lagarto, Miguel Monteiro.


Trailer – Pedro e Inês

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