Antes de qualquer coisa, é melhor explicar um pequeno detalhe. Não deveria existir pudor nenhum de escrever sobre filmes como “All Hallow´s Eve” (Terrifier: O Início) com preocupação de dar spoiler. Ninguém tem que ser obrigado a assistir porcarias assim sem ser de livre e espontânea vontade. Um mistura de um clichê tão batido que se vê todas as reviravoltas e desenvolvimento a quilômetros de distância. E quem ficar a quilómetros de distância dessa produção, só irá sair ganhando.
Estreia em longas metragens de Damien Leone (de Terrifier e Terrifier 2, ou como foram batizados por aqui, Aterrorizante e Aterrorizante 2), esse All Hallow´s Eve serviu de oportunidade para se lançar como cineasta, depois de vários trabalhos como especialista em efeitos especiais e alguns curtas. E toda essa expertise em maquiagem e efeitos especiais aparece com destaque neste primeiro trabalho, que capricha (ou tenta) no gore e no visual geral do filme, embora esteja em detrimento de detalhes como trama ou suspense.
Juntando seus curtas “The 9th Circle”, de 2008 e “Terrifier”, de 2013, Leone decidiu um caminho mais fácil, que é o da antologia, onde somente precisou criar a história de conexão e o segundo segmento. Foi lançado direto em DVD, sem ter passado pelos cinemas, há 10 anos, com pouca atenção da crítica especializada e mesmo dos apreciadores do gênero, que focaram muito no personagem Art the Clown e praticamente ignoraram o resto.
O interesse requentado sobre este filme aumentou muito com todo o barulho dos fãs e e de um “hype” online que pousou sobre a sequência “terrorizante 2, lançada este ano nos cinemas e que fez fama com as histórias (reais) de pessoas desmaiando e precisando de atendimento médico durante as sessões.
Falando sobre o filme em si, na história (fiapo) de ligação, uma mulher que está como babá, Sarah (Katie Maguire, que depois aparece no primeiro Aterrorizante, no papel da apresentadora do programa de TV que entrevista a sobrevivente do massacre e é a melhor atriz do filme) encontra na sacola de doces das duas crianças que está cuidando uma fita VHS. Depois da insistência dos garotos, ela coloca a fita no aparelho e os três assistem a história de Casey (Kayla Lian).
Aguardando seu ônibus, Casey é abordada por um palhaço sinistro e sliencioso, Art (Mike Giannelli) e, de repente, ela é sedada e acorda em um porão, acorrentada pelo pescoço com duas outras moças. Desesperada para fugir, ela vê uma das garotas ser arrastada e morta. Convencendo a outra a saírem dali pelo túnel em frente, são atacadas por um mutante ou sei-lá-o-quê, que mata uma delas e acaba libertando Casey, rompendo sua corrente. Correndo a esmo, Casey é capturada por Art, amarrada e obrigada a ver um grupo de encapuzados estranhíssimos torturar e matar uma outra moça, grávida, além de ser submetida a um estupro por um suposto demônio.
Voltando para a casa onde está Sarah, ela manda os petizes irem dormir, mas Incapaz de resistir ao fascínio da fita, volta a ela e ao começa do segundo segmento, onde Caroline (Catherine Callahan) está ao telefone com uma amiga em sua nova casa, que fica em local isolado. Ela comenta que o marido, John, pintou um quadro horroroso, que a deixa incomodada e ele alega nem mesmo se lembrar de tê-lo pintado. Pouco depois, todas as luzes se apagam e ela ouve um enorme baque após luzes fortíssimas passarem pela janela e ela percebe que algo está na casa, Ela tenta escapar, mas nenhum aparelho eletrônico, nem luz, nem o carro funcionam.
Perseguida por um alienígena, ela acaba sendo assassinada e descobrimos que o tal retrato é de ninguém menos que Art.
Sarah agora está muito assustada e resolve olhar as crianças, deixando o filme de lado, mas enquanto está subindo as escadas, ouve que não precisa verificar como elas estão a cada cinco minutos. Só que ela não tinha subido nenhuma vez ainda… mas isso não importa. A TV liga sozinha e começamos o terceiro segmento, onde acompanhamos uma moça (Marie Maser), que para em um posto para abastecer. O atendente está discutindo com um palhaço sinistro e silencioso, porque Art acabara de, literalmente, “esmerdear” todo o banheiro do lugar, com excrementos em todas as paredes.
Depois de expulsar o palhaço, que, obviamente, tinha encarado fixamente nossa heroína sem nome, o atendente volta para resolver a situação no sanitário. Precisando de informações de como chegar na estrada principal e incomodada com a demora do rapaz, nossa mocinha chega ao banheiro e testemunha Art desmembrando ferozmente sua vítima.
Fugindo dali, ela é perseguida implacavelmente por Art até sofrer um acidente. Ao acordar, percebe que está deitada numa maca, toda mutilada (sem mãos, pernas e seios além de ter palavras de baixo calão cortadas em sua pele) com o palhaço ali, sorrindo todo ensanguentado. Fim de mais um segmente.
Assustadíssima agora, Sarah fica desesperada para tirar a fita, não consegue e Art, por trás da televisão, interage e tenta sair. Parece, inclusive, que a imagem que aparece ali na tela, é a da sala de estar. Destruindo o VHS, Sarah sobe correndo para tirar as crianças dali e descobre que apenas as cabeças delas estão no quarto. Sobem os créditos.
Enfim, uma estréia minimamente interessante de Leone, que buscou de todas as formas driblar o baixo orçamento, com muito gore, efeitos práticos decentes e um esforço visual, embora sofra com um roteiro desconexo, total desprezo por qualquer sinal de lógica, seja interna ou do mundo real (o palhaço Art tem superpoderes, aparentemente) e a produção semi-amadora.
Os melhores momentos são da história de ligação, com uma boa atuação de Maguire e o terceiro segmento, que é o que melhor se sustenta, apesar da preguiça de nem mesmo dar um nome à heroína ou qualquer outro dos personagens secundários ali. No primeiro segmento, não tinha grana para nem mesmo dar uma polida no curta, deixando como estava mesmo. Outra vantagem é que o filme sabe de suas limitações e é enxuto, direto ao ponto.
O único segmento realizado para compor esta antologia é o mais ridículo, com um suposto alien canibal dançarino tosco e decisões incrivelmente burras da protagonista, além de desrespeito à própria lógica da trama – o marido conseguir ligar para ela e o telefone tocar de novo para expor a mocinha ao monstro chega a ser risíveis de tão destoante com o suposto pulso eletromagnético que a nave do ET causou.
Os sinais do desprezo do realizador pelas mulheres já apareciam aqui, reservando a elas destinos terríveis e sádicos, que chegam a incomodar. O destaque é mesmo para Art, que tem um cuidado visual e na composição que acabaram por transformá-lo no mais novo ícone do gênero. A pressão dos fãs do palhaço tornaram possível um filme só dele e geraram uma sequência, doa a quem doer.