Como um bom hit punk, The Runaways tem o estilo, o visual, a atitude e o ritmo. E só isso já o faz ser uma boa pedida, assim como exime um pouco de culpa um roteiro muito mais preocupado em ser exatamente isso: uma experiência curta como uma música, sem se preocupar em se aprofundar demais.

A história das cinco meninas que se juntaram no final dos anos 70 para formar uma banda de rock e acabaram conquistando um espaço na história da música está lá, pouco importando se próximo ou não da verdade, o único problema é uma impressão de acabar de vê-lo e ainda não sentir conhecer a banda. Muito provavelmente por que ninguém ali parece preocupado em mostrar muito coisa a não ser o que se relaciona as duas primeiras vocalistas da banda: Joan Jett e Cherie Currie.

Não que isso não fosse esperado, ainda mais quando a dupla de protagonistas é vivida por Kristen Stewart e Dakota Fanning, enquanto o resto da banda por três garotas pouco (ou nada) conhecidas. O problema disso é não conseguir cria uma dinâmica mínima para que o conflito de egos anunciado (como em qualquer filme sobre uma banda de rock) seja eloqüente, já que durante todo tempo The Runaways o convida a olhar apenas para as duas, porém, no fim das contas, obriga todas a entender o lado, até aquela hora silencioso (silencioso mesmo, já que a guitarrista e a baixista não abrem a boca antes do fim) das outras três componentes da banda.

Esse deslize narrativo talvez até passe despercebido, já que o trabalho da diretora estreante Floria Sigismond (que tem suas raízes nos videoclipes) consegue suplantar em muito esse problema. Sempre com composições firmes e (até por que não, rebuscadas), preferindo deixar sua câmera estática enquanto suas personagens se enquadram nela, como se o mundo ao seus redores impusesse aquele caminho, e não o contrário. Isso ainda enquanto conta com a presença marcante da fotografia de Benoit Bebie (do recente Vírus e do mais antigo Irreversível, ambos com o mesmo estilo).

E mesmo que Sigismond não consiga, aparentemente, se distanciar de um clichê estético, com sua câmera colando em uma imagem estourada quando o assunto não é rock´n roll, mas só o sexo e as drogas, sem percerber a decisão quase recatado que dita o filme. Talvez pelo cuidado com a imagem de suas atrizes principais, ou simplesmente até com a censura do filme, duas preocupações que deviam ter sido pensadas antes de deixar sua trama rumar para uma sexualidade que não precisava ser explicita, mas tampouco  totalmente velada. Como se ela apontasse para esses alvos, mas no fim resolvesse não apertar o gatilho.

A impressão que fica é de uma admiração da diretora, tanto com seu material quanto com a banda em si, o que faz com que ela até capte perfeitamente bem a dinâmica entre as duas personagens, como lados de uma mesma moeda. Cada uma presa em sua própria rebeldia, (mas exorcisando-a de modos diferentes). Isso, ao mesmo tempo em que faz um ótimo trabalho com suas atrizes, tirando até um bom trabalho da fraquinha Kristen Stewart, que talvez por interpretar alguém real acabe se livrando de seus inúmeros cacoetes de atuação, como mãos balançado e aquela mordiscadinha no lábio (os olhos cerrado continuam lá, mas isso já seria querer demais).

Mas de qualquer jeito, The Runaway acaba servindo como um filme sobre as duas muito mais que sobre a banda (que talvez merecesse até uma troca de título), o que, de um jeito ou de outro, mostra, pelo menos, a vontade de contar uma história, essa sim, regada a muito Rock´n Roll, o que já é praticamente suficiente para agradar a maioria. Sejam fãs ou não.


idem (EUA, 2010), escrito e dirigido por Floria Sigismond, a patir do livro de Cherie Currie, com Kirsten Stewart, Dakota Fanning e Michal Shannon


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