Por uma série enorme de razões que não caberiam nesse texto, Alfred Hitchcock foi o “Mestre do Suspense”. E entre essas, poderia ser citada que até no menor e menos interessante de seus filmes (a escolha de um exemplo fica a seu critério) o espectador ficará pregado na poltrona nem que seja por uma misera sequencia. Toque de Mestre talvez pudesse ter sido dirigido por ele em um desses momentos menos inspirados.
Obviamente não foi, e mais obviamente ainda não se deve nem penser em comparar o diretor espanhol Eugênio Mira com Hitchcock, pelo menos não nesse momento de sua carreira (quem sabe um dia?). Mira não imita, copia ou emula, faz seu filme, com suas ideias e uma proposta interessante, mas é curto grosso e se esforça tanto para entregar um filme com um visual marcante que é impossível não celebrar tudo isso. Talvez ele então esteja para Brian De Palma assim como o próprio está para o “Hitch”, o que continua sendo um enorme elogio.
E essa necessidade de compará-lo não vem da mediocridade desse texto, mas sim do amontoado de momentos que lembram as obras dos dois comparados. Mira tem uma câmera habilidosa (junto da fotografia de Unax Mendía), passeia pelo concerto, sobe até seu balcão, acompanha um dos personagens pela frente da plateia e termina em um plano dividido (daqueles que o De Palma adora), mas quebra essa magia ao permitir que um desses lados se desprenda e se aproxime em um zoom. Toque de Mestre então é como uma linda moça, com um belo vestido, mas que quando abre a boca não sabe conjugar um verbo nem usar um plural.
Nele, Elijah Wood vive um jovem pianista que volta aos palcos depois de uma desastrosa última apresentação. Cinco anos se passaram e ele agora prestará uma homenagem a seu grande mentor, falecido recentemente. E tudo vai de vento em polpa durante essa longa (e até meio chata) introdução do filme, até que ele, já no palco, abre a partitura e descobre que está sob a mira de um maluco qualquer que ameaça ele e sua esposa (uma atriz famosa) caso não faça tudo que ele mandar.
E é impossível não se surpreender com esse pretexto, já que toda trama se passa durante o concerto, já que entre um ato e outro o protagonista ganha um ponto eletrônico onde pode se comunicar com o vilão. Uma premissa que ainda desponta uma terceira inspiração de Mira, o ótimo filme de Joel Schumacher, Por Um fio, que, por sua vez, faz muito melhor uso dessa situação e não derrapa nas várias esquinas do roteiro.
Aqui, o roteiro de Damien Chazelle (que escreveu a continuação de O Último Exorcismo) até prende a atenção em um primeiro momento, mas aos poucos vai se implodindo. Primeiro por uma mania americanizada de explicar demais tudo, tanto no começo, quanto no meio e até no final. Até por que, em uma trama simples dessas, qualquer razão não tem muito tempo de ser desenvolvida e o que sobra são soluções bobas. E John Cusack ter o nome no poster do filme para chamar a atenção passa por isso, afinal, ainda que todos reconheçam a voz dele como a do vilão, o ato final, físico e cheio de socos, é pueril e não empolga, já que todos sabem o que irá acontecer (à título de curiosidade, Kieffer Sutherland é a voz de Por um Fio, e só aparece de relance no final).
E isso fica pior com um “superlativismo” mais bobo ainda para resumir certos detalhes. Wood é o “maior pianista de sua geração”, sua esposa é a “maior atriz da atualidade”, a arma do vilão é a “melhor e mais silenciosa do mundo”, a última peça é “intocável”. Tudo é grande demais, cansativo e meio mimado. Pior ainda, tudo é tão enorme que ao se descobrir que tudo é sempre pelo dinheiro (à lá Duro de Matar), é fácil soar como desculpa de um roteirista com pressa.
Mas diferente das poucas inspirações/homenagens de Toque de Mestre, esse erros são comuns ao gênero. O que permite que o filme seja muito mais um exemplar mediano com alguns momentos inspirados do que o contrário.
“Grand Piano” (Esp, 2013), escrito por Damien Chazelle, dirigido por Eugenio Mira, com Elijah Wood, John Cusack, Kerry Bishé, Alex Winter, Tamsin Egerton e Allen Leech