Until Dawn | Melhor ir jogar

Until Dawn (o filme) tem uma tarefa das mais complicadas, já que Until Dawn (o jogo) é justamente uma tentativa de chegar o mais perto possível de ser um “filme jogável”. Adaptar isso para o cinema (de volta?!) para aproveitar a propriedade intelectual é quase uma metalinguagem. Um oroboros de vontade de ganhar dinheiro.

A ideia do jogo, na verdade sua mecânica, tenta colocar o jogador em situações em que pequenos comandos ditam as decisões de cada um dos personagens, fazendo com que cada um deles esteja sempre em perigo e tomando um rumo, ao melhor estilo slasher, onde você sabe que não conseguirá “salvar” todo mundo. Para isso funcionar, a direção extrapola qualquer possibilidade de ângulos de câmeras e “jump scares” que prejudiquem o raciocínio do jogador (no melhor dos sentidos!), mas sempre com aquele jeitão de filme. Já o filme…

Bom, ele não é o jogo, então o jogador não terá nenhum tipo de imersão na experiência. Também não terá a ajuda da trama, que se fosse repetido pelo filme seria “apenas um filme de terror genérico”. O roteiro de Blair Butler e Gary Dauberman então vai para um outro lugar, que não deixa de ser interessante, mas nasce com um prazo de validade extremamente curto: o “continue”.

Para quem não está acostumado com os videogames, quando “você” (personagem) morre, você volta para tentar mais uma vez. No cinema isso é conhecido como “looping”, popularizado, por exemplo, no clássico Feitiço do Tempo. Portanto, salvo uma ou outra referência do jogo, os que os fãs do game encontrarão no filme é apenas a adaptação de um dos conceitos mais antigos desse mundo. Mas tudo bem, se isso fizer o filme ser divertido, a gente releva.

Então, os cinco jovens prontos para se tornarem vítimas estão em busca da irmã de um deles que sumiu na mesma região um ano antes. Para o azar deles, acabam chegando em uma casa esquisitona com uma grande ampulheta na parede que quando vira começa a contar o tempo para que os personagens sobrevivem, cada vez que eles não conseguem, começam de novo, mas todos meio ferrados e sem saber exatamente o que aconteceu antes, o que os coloca no “nível hard”.

Oportunidade então de David F. Sandberg, de Annabelle 2 e Quando as Luzes se Apagam (e Shazam!), se divertir com um punhado de referências para cada uma das vezes que os personagens dão de cara com algum assassino, criatura ou situação que mata eles. E os fãs não precisam se preocupar, já que sobram boas ideias, um visual bacana e muitas mortes criativas e cheias de gore. Portanto, enquanto o pessoal está se dando mal, o espectador está se dando bem. Mas tudo tem um fim.

Nesse caso, isso vem com a necessidade de contar uma história, se esforçando mais do que o necessário para alinhavar todas ideias sobrenaturais em algo que faça sentido, mesmo que, no final das contas, não faça nenhuma. Por isso, do exato momento que os personagens decidem que irão “desvendar” tudo e sobreviver, Until Dawn perde completamente a graça. Ainda mais por chegar em um lugar de Wendigos e um trauma da cidade com a explosão de uma mina. Ambos assuntos vêm diretamente do jogo, mas lá tudo tinha muito mais tempo de ser desenvolvido, aqui é apressado, destrambelhado e até meio bobo.

Falando em “bobeira”, Until Dawn ainda tem um problema maior ainda, se levar a série demais. Como se fingisse sempre ser um terror “serião” em vez de se entregar aos possíveis exageros e comentários sobre o próprio gênero, afinal, está o tempo inteiro referenciando diversas ideias. Principalmente por não perceberem a cretinice e fragilidade dos diálogos dos personagens, o que não é ajudado com um elenco tremendamente meia boca.

Todas essas fragilidades passam despercebidas no jogo, já que a imersão e o desafio do game permitem que uma trama ruinzinha e diálogos não muito inspirados funcionem melhor, até porque você está muito mais preocupado com os botões que precisa apertar no seu joystick. No escuro do cinema, sem o controle, o que sobra, além das mortes divertidas é uma história que você acaba prestando atenção demais e percebendo o quanto ela não presta. A tarefa de Until Dawn (o filme) de levar Until Dawn (o jogo) para o cinema é frustrante e não há “Continue” que te ajude a querer ficar naquele filme.


“Until Dawn” (EUA, 2025); escrito por Blair Butler e Gary Dauberman; dirigido por David F. Sandberg; com Ella Rubin, Michael Cimino, Odessa A´zion, Ji-young Yoo, Belmont Cameli, Maia Mitchell e Peter Stormare.


Trailer do Filme – Until Dawn

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