Algumas semanas atrás surgiu a pergunta: Quem queria saber de uma história sobre o décimo Jogos Vorazes, três décadas antes dos acontecimentos do filme original? A resposta: Ninguém… por mais que o filme tenha, desde lá, se tornado um sucesso nas bilheterias, o que não o redimiu de ser um exercício vazio em termos de cinema. Agora voltamos com uma pergunta semelhante: Quem quer um prequel de A Fantástica Fábrica de Chocolates? Talvez ninguém, mas com certeza seria um desperdício enorme que agora Wonka não existisse.
Wonka é então o “begins” que o personagem merecia, mas não aquele esquisitão vivido por Johnny Depp no remake de 2005 que foi um desperdício, Wonka vem para completar a experiência de algumas gerações que cresceram com o clássico de 1971 com Gene Wilder. O Wonka agora de Paul King e Timothée Chalamet é um herdeiro daquela magia e emoção.
E falando em “magia e emoção”, Wonka cai nas mãos do mesmo Paul King que deu vida aos dois Paddingtons, um currículo recente mais que apropriado para esse novo filme. Principalmente, pois a ideia de ambos é levar o espectador para esse lugar que transita entre uma realidade meio parada no tempo em algum lugar longínquo do começo do século 20 e uma fantasia que entrega cores e vida para um cenário meio cinza e apagado dessa espécie de Inglaterra criada para ser quase um sonho.
Talvez “quase” não. Wonka é um sonho, mais precisamente um devaneio.
Uma fantasia que acompanha o jovem Wonka chegando nesse lugar meio sem nome depois de anos de aventuras pelo mundo a bordo de um navio onde conseguiu conhecer o mundo e descobrir diversos ingredientes para seus chocolates. Seu objetivo agora é abrir sua própria loja e levar o sabor de seus doces para a maior quantidade possível de pessoas.
Mas Wonka acaba caindo, tanto na rivalidade com os três maiores vendedores de chocolate da cidade, quanto no golpe da dona de um hotel, a Senhorita Scrubbit (Olivia Colman), que acaba fazendo de Wonka um escravo de sua lavanderia.
É lógico que Wonka (o filme) vai além disso e cria uma história leve e cheia de aventura que brinca com um monte de coisas enquanto o personagem dá um jeito de democratizar seu chocolate e lutar contra um sistema opressor sustentado por chantagem e extorsão (e ótimas canções!) a base do mesmo doce. Portanto, não se enganem, Wonka parece inofensivo, mas realmente tem intenções sociopolíticas intensas e que são movidas a metáforas a alegorias inteligentes e potentes (e adocicadas).
Em volta disso, Paul King faz o que sabe fazer de melhor. Wonka é quase uma fábula, com personagens incríveis e canções absolutamente bem construídas para se encaixarem tanto no filme e na narrativa, quanto no coração dos espectadores. E King consegue valorizar absolutamente todas qualidades do filme, do visual extravagante e fantástico, até um elenco que é ainda mais perfeito e poderoso em seus exageros.
Timothée Chalamet se afasta do exótico Wonka de Depp e mira no de Gene Wilder, principalmente pela pureza com que enxerga o personagem. Quase como se movido por uma força de esperança e bondade que o empurra para frente mesmo diante de qualquer tipo de ameaça. E talvez essa seja a principal característica desse personagem, desde sua criação, alguém que está pronto para fazer seu chocolate significar muito mais do que só um doce.
Por algumas poucas cenas ao lado de Wonka surge Hugh Granteno papel do Oompa Loompa que ninguém sabia que queria ver no cinema. Mas acreditem, ele faz valer o ingresso, mesmo com tão poucas cenas.
Se é difícil imaginar que o mundo precisava de Hugh Grant como um Oompa Loompa e o “pai” do Paddington comandando uma “pré-continuação” de A Fantástica Fábrica de Chocolate, pois é, diferentemente de “alguns outros filmes por aí”, Wonka não só é necessário, com é quase uma obrigação para os fãs de cinema em 2023.
“Wonka” (EUA/UK/Can, 2023); escrito por Simon Farnaby, Paul King e Roald Dahl; dirigido por Paul King; com Timothée Chalamet, Tom Davis, Olivia Colman, Calah Lane, Paterson Joseph, Matt Lucas, Hugh Grant , Mathew Baynton, Freya Parker, Keegan-Michael Key, Jim Carter, Rakhee Thakrar, Natasha Rothwell, Rowan Atkinson e Sally Hawkins.