Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes | Quem quer saber dessa história?

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes | Quem quer saber dessa história?

Se uma continuação já precisa ter algo a dizer, uma “prequel” precisa mais ainda de uma razão para existir, afinal, você já sabe o final. Tudo bem, a razão pode ser apenas matar a saudades dos fãs, mas depois não dá para reclamar quando descobrirem que o filme é uma porcaria, como Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes.

O filme é baseado em mais um livro de Suzanne Collins que volta seis décadas antes dos acontecimentos da história envolvendo Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) para mostra a história de Coriolanus Snow, agora vivido pelo esforçado Tom Blyth, mas que na série original era o Donald Sutherland. A ideia então é mostrar como ele se tornou o vilão. Talvez não.

Talvez sim. Sei lá. Em algum momento dessa nova história toda o fã ainda vai descobrir que Snow era, na verdade, um pé-rapado que (sobre) vivia com a fama e o nome da família para conseguir viver entre o pessoal rico e chique de Panem (vulgo grupo de jovens irritantemente cheios de dinheiro e sem qualquer pingo de consciência), o que lhe dá a oportunidade de ser o mentor de um tributo no 10° Jogos Vorazes.

Mas os jogos não vão bem das pernas e Snow tem uma ideia de valorizar e humanizar mais os tributos, o que o leva a se aproximar de Lucy Gray (Rachel Zegler), jovem do Distrito 12 que se estivesse em uma história medieval (ou em um RPG), seria uma barda. Sim, ela fica cantando pelo filme enquanto conta sua história com rimas, melodia e acordes. O resto da história você pode imaginar… mas não acontecerá.

Talvez seja o texto original de Collins, talvez seja o roteiros dos experientes Michael Lesslie (Macbeth e Assassin´s Creed) e Michael Arndt (Jogos Vorazes: Em Chamas), mas a certeza é que, se você não leu o livro, não saberá quem errou, mas com certeza, ou o original, ou o roteiro, esqueceram de contar a tal história de Snow se tornando um mau caráter. Quer dizer, no final ele está lá vilão, mas a preparação para isso fica perdida durante o filme. Suas mudanças e motivações são tão sem razão que beira o gratuito.

Sim, eles estão apaixonados, então pode tudo. A real intenção de Lucy Gray também não fica muito clara, em certos momentos ela é forte como uma rocha, beirando uma revolucionária. Em outros, fica chocada com coisas que não deveriam chocar quem está lutando contra o sistema. Sua força fora dos jogos é contrária a sua inteligência e poder dentro da arena.

Tudo parece estar lá não por motivações que não estão rodeando eles, mas sim por estarem escritas do roteiro. Portanto, nada parece ser preparado e montado, tudo acontece vindo de lugar nenhuma. Até a grande paixão dos dois parece começar como uma falsidade e uma exploração de ambos, mas depois se torna mais verdadeiro do que parecia. Talvez para os fãs, uma oportunidade de acompanhar Snow apaixonado, mas realmente é difícil de acreditar que alguém estivesse interessado por saber o passado do vilão. Afinal, não estamos falando de um Darth Vader, mas sim de um burocrata que não chega nem perto de um sabre de luz. O que é sempre chato.

Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes | Crítica do Filme

No meio disso surge Viola Davis como a Dra. Volumnia Gaul, pessoa responsável pelos Jogos, divertidamente exagerada como vilã. E cada vez que ela dá as caras na tela, fica claro o quanto ela está se divertido com essa mistura de maluquice e maldade. Ao lado dela, Peter Dinklage também tem várias oportunidades para dar uma profundidade a seu personagem que soa muito maior do que poderia ter. Como se só ele estivesse se esforçando em meio a um elenco absolutamente fraquinho e sem motivação.

Em certos momentos os personagens precisam discutir a profundidade socioeconômica dos Jogos, mas tudo acontece tão repentinamente e sem preparo que nenhum personagem (nem os atores) está preparado para se aprofundar nisso. Cinco segundos depois isso não está mais no foco da atenção de ninguém e os mesmos personagens podem volta a ser irritantes e vazios.

Tudo isso só não está absolutamente enterrado e esquecido graças ao que se vê na tela. O designer de produção de Uli Hanisch (de O Gambito da Rainha e A Viagem) consegue realmente acrescentar interesse ao visual da série, mantendo essa mistura de futuro com passado sempre presente em cada detalhe desse mundo. Deixando claro, tanto quanto faz parte da série, como também está em um lugar décadas atrás dos filmes originais.

Toda essa estética ainda ganha mais vida com a direção de Francis Lawrence, que comandou os três últimos filmes com Katniss e sabe exatamente como valorizar o pouco de história que tem em mãos com um visual rebuscado, objetivo e funcional. Suas cenas de ação são claras e empolgantes, mas são tão poucas que nada disso salva a experiência final.

Mas talvez Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes seja tão feito só para os fãs voltarem mais uma vez a esse mundo, que nada disso importa. Nem o trabalho bacana de Lawrence e nem a falta do que falar do roteiro. Nem os ótimos Viola Davis e Peter Dinklage serão lembrados, muito menos o resto de gente meia-boca. Talvez lembrarão das canções, que são chatinhas, vão descobrir que “Katniss” é uma batata e vão até achar que as transformações de Snow de cara inocente até vilão tenha ficado clara. Fã é assim mesmo, não precisa fazer sentido, precisa satisfazer aquela vontade de estar mais uma vez pertinho daqueles personagens, nem que isso estrague qualquer bom senso envolvido.

Porém, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes continua sem muita razão de existir. Mas vai juntar um monte de dinheiro e, quem sabe, até abrir as portas para outra continuação ou “prequels”. Fica a torcida para essa então ter uma história minimamente justificável, coisa que não acontece aqui.

“The Hunger Games: The Balld of Songbirds & Snakes” (EUA, 2023); roteiro de Michael Lesslie e Michael Arndt, a partir do livro de Suzanne Collins; dirigido por Francis Lawrence; com Rachel Zegler, Tom Blyth, Viola Davis, Dexter Sol Ansell, Flonnula Flanagan, Hunter Schafer e Ashley Liao

Trailer do Filme – Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

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