10 Melhores Filmes de 2019 | Mariana González


[dropcap]E[/dropcap]m um ano onde poderemos olhar para trás e enxergar nele o quanto o cinema nos deu momentos únicos, 2019 não deverá ser esquecido. Não só grandes filmes, mas um cinema com responsabilidade social e que sabe que pode enxergar o mundo ao seu redor com o esplendor da sétima arte.

Um cinema que enfrentou seus medos reescreveu suas lembranças, que criou um mundo onde resistir é possível e o terror não vem mais na pele de alguns monstros no escuro, podem estar próximos a todos e à luz do dia.

Confira então os 10 melhores filmes de 2019, exemplos que poderemos marcar como o combustível para um ano inesquecível no escuro dos cinemas (e também no sofá de sua casa).

1 – Parasita | “Gisaengchung” (Cor, 2019), escrito por Bong Joon Ho

Há muito dona de uma das melhores indústrias cinematográficas do planeta, a Coreia do Sul finalmente teve uma de suas obras alcançando o status de fenômeno mundial com Parasita, de Bong Joon-Ho — que muita gente não conhecia e com quem muitos se familiarizaram graças a Okja, mas que é indiscutivelmente um dos mais brilhantes e imprevisíveis cineastas trabalhando atualmente.

Parasita é um filme — não há adjetivo melhor para descrevê-lo — perfeito. Não há absolutamente nada fora do lugar, e Bong demonstra um domínio completo sobre sua arte na forma com que constrói cuidadosamente a trama e os personagens, aqui e ali dando dicas sobre o caos que está por vir. Sem cair em convenções tão simplórias quanto as de “mocinhos” e “vilões”, o longa ainda assim não hesita em apontar quem são os verdadeiros parasitas da sociedade e onde estão as estruturas perversas que os mantém.

2 – Bacurau | “Bacurau” (Bra, 2019), dirigido por Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho

Assistir Bacurau na semana de estreia na sala lotada do CineSesc, ao lado de uma plateia completamente engajada e reativa à obra, foi definitivamente uma das minhas melhores experiências cinematográficas de 2019. Bacurau é um turbilhão de sensações que mantém o público completamente imerso naquela peculiar cidadezinha e seus personagens ao longo de pouco mais de 2 horas que passam voando.

Entre figuras já memoráveis como Lunga e Domingas, sulistas que insistem em se enxergar como europeus e esquecem que são latinos, fortes psicotrópicos e OVNIs, Bacurau é um verdadeiro —  e inesquecível — tour de force.

3 – A Favorita | “The Favourite” (EUA, 2019), dirigido por Yorgos Lanthimos

É sempre complicado fazer listas de “melhores do ano”, porque inevitavelmente acabamos nos lembrando primeiro de obras mais recentes e deixando de lado filmes do ano anterior (2018, no caso) lançados meses e meses depois por aqui. Mas uma lista de melhores de 2019 que se preze não pode deixar de incluir A Favorita, que de imediato se tornou meu filme preferido do Yorgos Lanthimos — o que não deixa de ser curioso, já que este é o menos “Lanthimos” de seus filmes (ao contrário do habitual, o roteiro deste não foi escrito por ele, e sim por Deborah Davis e Tony McNamara).

E que roteiro! Meticulosamente construído em todos os seus aspectos, A Favorita entende cada nuance do fabuloso trio de personagens formado por Abigail (Emma Stone), Lady Sarah (Rachel Weisz) e, é claro, a Rainha Anne (Olivia Colman). As três atrizes, impecáveis, se entregam a um afiado jogo psicológico de ofensas, abusos, poder, sedução e devoção, enquanto as lentes olho de peixe e grande-angulares permitem que Lanthimos realce o inesperado, o perverso e o belo por trás de tudo aquilo. Assim como os dois longas anteriores da lista, A Favorita é impecável.

4 – Rocketman | “Rocketman” (EUA, 2019), dirigido por Dexter Fletcher

Apaixonante, apaixonado e espalhafatoso como deve ser, Rocketman enxerga seu protagonista com um perceptível amor, mas jamais deixa que isso impeça o longa de explorar os erros e os lados mais sombrios de Elton John. Com uma estrutura inteligente que permite que o próprio Elton se reconecte com tudo o que passou desde a infância, o longa é conduzido por uma performance sensacional de Taron Egerton, que se entrega tanto nos momentos mais sensíveis e contidos  — como a belíssima primeira apresentação de “Your Song” — quanto vestindo as elaboradas fantasias de Elton.

Repleto de cenas memoráveis, Rocketman ainda ilustra a grandiosidade que Bohemian Rhapsody poderia ter alcançado se Dexter Fletcher estivesse no comando da cinebiografia de Freddie Mercury desde o início.

5 – O Irlandês | “The Irishman” (EUA, 2019), dirigido por Martin Scorsese

Um ano que tem uma obra-prima de Martin Scorsese aparecendo em quinto lugar em uma lista de melhores filmes certamente foi um ano incrível para o cinema. Fazendo proveito de cada um de seus 209 minutos de duração para construir meticulosamente a trajetória e o final da vida de Frank Sheeran (Robert De Niro), O Irlandês é tão melancólico quanto divertido, tão violento quanto sensível. A trinca O Lobo de Wall Street Silêncio – O Irlandês é a demonstração perfeita da genialidade, versatilidade e energia de Scorsese.

6 – Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (EUA/Sue/Hun, 2019), dirigido Ari Aster

Depois de já mostrar a que veio com seu excelente filme de estreia, Hereditário, Ari Aster oficializa seu posto entre os melhores cineastas trabalhando atualmente com Midsommar. Filme de terror que não hesita em passar-se quase que exclusivamente à luz escaldante do sol, Midsommar não se preocupa em causar suspense ou sequer em dar medo (importante: filme de terror não precisa dar medo!), preferindo chocar pela curiosidade mórbida e pelo estranhamento.

7 – Nós | “Us” (EUA, 2019), dirigido por Jordan Peele

E por falar em diretores de terror que provaram seu brilhantismo ao lançar obras incríveis depois de filmes de estreia que deram o que falar… O que foi dito de Ari Aster também vale para Jordan Peele, comediante experiente que chamou atenção ao aplicar uma versão sombria e altamente crítica de seu senso de humor ao cinema de gênero, primeiro com Corra! e agora com Nós. Obrigado, Jordan Peele.

Nós é um retrato tenso, aterrorizante e sufocante da desigualdade social e das barreiras intransponíveis que mantém aqueles abaixo da sociedade em posições de inferioridade e as medidas drásticas que precisam tomar se quiserem escapar. Se houver justiça no mundo (não há) ou pelo menos na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (…não há), Lupita Nyong’o não ficará de fora das indicadas a melhor atriz.

8 – Era Uma Vez em… Hollywood | “Onde Upon a Time… in Hollywood” (EUA, 2019), dirigido por Quentin Tarantino

Um conto sobre o poder de Hollywood e do cinema de eternizar personagens, momentos e atos. Um conto em que os vilões não saem impunes e uma vibrante e jovem vida não é brutalmente interrompida. Um conto em que Sharon Tate (ficcional) pode despretensiosamente curtir sua própria imagem (verdadeira) na tela de cinema, em uma das cenas mais belas e tocantes já conduzidas por Tarantino. E ainda nem falei de Leonardo DiCaprio e Brad Pitt, impecáveis tanto por conta própria quanto na dinâmica que criam entre seus personagens. Ou da bela sequência em que uma Los Angeles tranquila troca os raios de sol pelos letreiros iluminados, aos poucos tornando-se a cidade que todos conhecemos (talvez não pessoalmente, mas certamente através do cinema). Sublime!

9 – Entre Facas e Segredos | “Knives Out” (EUA, 2019), dirigido por Rian Johnson

Rian Johnson é dono de uma filmografia absolutamente impecável e cada vez mais demonstra não apenas o quão brilhante é, mas também o quão versátil. Em seu quinto longa-metragem, Johnson exibe mais uma vez seu talento peculiar para pegar histórias conhecidas e virá-las do avesso, mas ainda mantendo a essência que nos faz gostar tanto dessas velhas histórias conhecidas.

Construindo um universo em que jovens neonazistas (que existem aos montes por aí) existem ao lado de detetives particulares famosos (que só existem em filmes dos anos 50), Entre Facas e Segredos nos apresenta a um jogo de mentiras e mistérios delicioso. Como se não bastasse, Johnson coloca, no centro de sua obra, uma crítica ferrenha ao sistema que permite a existência de famílias ricas que não precisam mover um dedo para ficarem mais ricas (a desigualdade social foi, definitivamente, o tema central do cinema de 2019) e que enchem a boca para falar que a enfermeira latina “é da família” enquanto não hesitam em entregar-lhe um prato sujo. Sem jamais perder o fôlego, o longa alcança seu ápice no que talvez seja o plano final mais satisfatório do ano.

10 – Assunto de Família | “Manbiki Kazoku” (Jap, 2018), dirigido por Hirokazu Koreeda

Absolutamente triste e absolutamente belo, Assunto de Família inclui uma das cenas mais lindas do ano — a da família na praia — e retrata o amor, o carinho e o cuidado que sobrevivem mesmo diante da luta diária pela sobrevivência. O diretor Hirokazu Koreeda adota uma abordagem cotidiana e familiar, sem jamais cair no melodrama ou perder controle sobre as emoções e relações de seus personagens. Humano, natural e sensível, mas nem por isso menos enfurecedor.

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