A Cinco Passos de Você | Parece aquele outro filme, mas não é…


[dropcap]É[/dropcap] impossível ver A Cinco Passos de Você e não pensar em A Culpa É das Estrelas. Muito menos se livrar da impressão de que a ideia aqui era encontrar um casal ainda mais desgraçado pela vida e com um problema ainda mais complexo e triste. Mas isso não quer dizer que a ideia não funcione.

O filme conta a história de Stella e Will, dois portadores de Fibrose Cística que estão internados em um hospital enquanto passam por um tratamento. É claro que os dois se apaixonam, mas com isso vem a constatação de que, com perigo de transmissão de certas bactérias entre os doentes, os dois não podem chegar a menos de seis passos um do outro.

Baseado no livro homônimo de 2018, escrito por Rachael Lippincott com Mikki Daughtry e Tobias Laconis (os dois também roteiristas do filme), A Cinco Passos de Você é então esse drama que não se cansa de tentar emocionar. E ainda que no final perca um pouco a mão e exagere no esforço de coisas dando errado, funciona na maior parte do tempo por sua sinceridade e sensibilidade.

Fora isso, a química bonitinha entre o casal principal completa toda experiência. Ela, Haley Lu Richardson, esteve recentemente em Quase 18 e Fragmentado. Ele, Cole Sprouse, da série Riverdale, talvez seja mais conhecido pelos mais velhos por ser o garoto loirinho de O Paizão e o filho do Ross em Friends. E essa experiência de ambos ajuda a não permitir nunca que o filme despenque para um sentimentalismo vazio.

É fácil acreditar na dificuldade das vidas desses dois personagens, nos altos e baixos de ânimo e nas conversas onde a morte é uma companheira que espreita seus desejos e amores. A direção de Justin Baldoni, que é uma estrela na série Jane a Virgem e estreia por trás das câmeras de um longa, parece demorar um pouco para entender isso, mas assim que o faz deixa o filme correr solto e agradavelmente simples.

Baldoni parece imprimir uma aproximação inicial de seus personagens que cria um clima um pouco sufocante demais, mas, aos poucos, vai deixando sua câmera mais leve e se permite ser apenas um observador dessa história. A boa química dos atores, o roteiro inteligente e as situações emocionantes cuidam do resto.

A Cinco Passos de Você é um filme sobre contato, na verdade sobre a ausência dele, portanto, fazer com que isso não termine em um filme frio e distante já é um acerto por si só. Baldoni demora um pouco, mas quando encontra o caminho, faz um filme com composições precisas e uma movimentação de câmera que não atrapalham a ação. Mas nem isso salva o filme de seus próprios erros.

Simplesmente todos os clichês que vierem à sua cabeça quando você ler a sinopse estarão no filme. E isso não só torna a experiência óbvia, como em certos momentos até incômoda, já que aqueles outros estereótipos de gênero também estão por lá. A enfermeira negra e a médica indiana estão lá o filme inteiro, mas na hora da cirurgia, melhor mesmo um homem branco até nos cabelos. E se isso pode parecer bobagem para você, para as mulheres negras e indianas, não é, afinal elas já devem estar cansadas de serem retratadas como estereótipos ambulantes.

Falando em estereótipo, A Cinco Passos de Você é preguiçoso e usa todos. E nesse caso, muito provavelmente não só o filme, como o livro também. Portanto, Stella é meiguinha e modernosa, Will é rebelde e está sempre com uma mecha de cabelo sobre os olhos. Poe (Moises Arias), melhor amigo dela é latino, gosta de futebol, gay, alívio cômico, simpático, tem a mesma doença e você sabe o que irá acontecer com ele assim que ele diz “voltei com meu namorado e semana que vem vamos jantar com a minha mãe”.

Como em grande parte dos filmes sobre doenças terminais, a felicidade sempre chama a atenção do ceifador, em A Cinco Passos de Você isso não poderia ser diferente. O problema aqui é que talvez a história exagere um pouco no final e muita coisa dê errado em sequência, não permitindo que o espectador respire e sinta o drama de cada acontecimento.

Não comparando (mas já comparando!), A Culpa é das Estrelas faz exatamente o oposto, permitindo que todos “curtam” a desgraceira uma de cada vez e nunca se sintam obrigados a ficarem tristes com a doença, mas sim com o arco dos personagens e seu amor.

E isso tudo acontece junto de uma série de mudanças nos personagens de A Cinco Passos de Você que são difíceis de engolir, principalmente em um segundo ato onde um conflito surge de absolutamente lugar nenhum e é resolvido com uma facilidade mais mágica ainda.

Esse tipo de equívoco enfraquece A Cinco Passos de Você e não permite que essa bela história seja apreciada de seu começo ao fim, interrompendo demais os diálogos inteligentes e os personagens carismáticos para lembra-los que estão sempre às portas da morte. Falta então um pouquinho sensibilidade para entender que ninguém precisaria lembrar ninguém disso e deixar que eles aproveitem melhor esse pouco tempo que têm.


“Five Feet Apart” (EUA, 2019), escrito por Mikki Daughtry e Tobias Iaconis, à partir de um livro de Rachael Lippincott, dirigido por Justin Baldoni, com Haley Lu Richardson, Cole Sprouse, Moises Arias, Kimberly Helbert Gregory, Parminder Nagra e Claire Forlany.


Trailer do Filme: A Cinco Passos de Você

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