À Espreita do Mal | O que não faltam são surpresas


É impossível não ter a impressão que de À Espreita do Mal nasceu de cabeça para baixo. Primeiro veio a ideia de um final que iria surpreender a todos, depois surgiu a possibilidade de encaixar uma outra surpresa ainda mais inesperada. O resto é só ir preenchendo os espaços… opa, surgiu uma outra ideia que pode fazer com que tudo não seja aquilo que você imaginou.

O resultado desse monte de reviravoltas é até um passatempo divertido, mas é bem provável que essa estrutura te canse um pouco e faça o espectador pedir por um pouco mais de linearidade para conseguir se aproximar dos personagens, que acabam ficando longe demais de todas as tramas, já que nenhum está nela por muito tempo. Por mais que seja tenso e bem-intencionado, À Espreita do Mal acaba então meio impessoal demais.

Mas com certeza você vai se interessar um pouquinho pela história de Devon Graye, tanto pela premissa, quanto pelo caminhar dela. Ela começa acompanhando um garoto que some em uma floresta dentro de uma daquelas cidades pequenas dos Estados Unidos, onde todo dia tem sol, as bandeiras azuis e vermelhas estão hasteadas e todo mundo é feliz.

O sumiço do menino faz então com que a família de um policial local (Jon Tanney, que você com certeza conhece de um punhado de filmes e séries para a TV), já em crise pelo caso extraconjugal da esposa (Helen Hunt, que não anda sumida, mas na última década não tem tomado as melhores escolhas de trabalho), acaba começando a desconfiar que existe algo de estranho acontecendo em sua casa.

De um lado, a investigação aponta para um antigo serial killer, em casa, nada de respostas e tudo parece até apontar para um lado extraordinário. Mas uma descoberta no desaparecimento do garoto deixa claro que não estamos em um filme de casas mal-assombradas, o que leva o espectador para um segundo momento que irá montar esse cenário de modo definitivamente criativo e irá surpreender muita gente.

O mais legal de À Espreita do Mal é chegar até esse momento sabendo o mínimo possível, o que, definitivamente, te permitirá ficar mais tempo interessado pelo que vem a seguir. A direção de Adam Randall ajuda no começo não dando dicas muito claras dessa reviravolta, o que realmente salva o filme de um ritmo que já estava cansando, já que nada acontecia com firmeza. Esse segundo momento ainda sofre do mesmo problema logo mais para frente, mas nesse caso ele é auxiliado por um final onde uma pilha de outras surpresas começam a ser descartadas e fazem o filme rumar para um lugar de carinho na lista de indicações dos espectadores que derem de cara com essa produção na lista da Netflix.

O filme só não será mais bem falado por aí, pois falha em uma série de pontos que seriam importantes, como uma direção burocrática, uma trilha sonora óbvia e preguiçosa, um elenco medíocre, uma ambientação que nunca avança na ideia de aproveitar o lugar onde está e, principalmente, um esforço enorme para criar uma protagonista (Hunt), só para te contar mais tarde que ela não interessa nada para a trama e é apenas uma figurante com mais falas que o esperado

Mesmo com todas surpresas e reviravoltas, À Espreita do Mal é só um filme com cara de produção para TV (expressão que está definitivamente caindo em desuso), com uma ideia que o fará ser lembrado por quem o assistir. Mas também um daqueles exemplos de produção que não sabe como se manter tão firme assim com todas suas intenções e se perde um pouquinho a cada passo que dá. Podia ser melhor, muito, com certeza, mas fica por ali, em um lugar confortável, mas sem se sobressair. É como um dos personagens que, diante de um ataque fortuito com um machado que mataria seu adversário, dá um grito antes de acertá-lo e acaba estragando tudo e deixando que ele reaja ao invés de tomar uma machadada ali, no meio da sala.

À Espreita do Mal não quer sujar sua parede e nem seu tapete com sangue e miolos, prefere ir devagarzinho até cada um dos momentos que fazem com que ele se torne um divertido filma a ser esquecido, mas com um final que você não esperava.


“I See You” (EUA, 2019); escrito por Devon Graye; dirigido por Adam Randall; com Helen Hunt, Jon Tenney, Owen Teague, Judah Lewis, Libe Barer e Gregory Alan Williams


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