A Fantástica Fábrica De Golpes | Faltam ângulos

Este documentário político e totalmente parcial possui um nome ótimo e bonitinho, mas ao longo da projeção se revela apenas um chamariz. Seu conteúdo é problemático e sem estrutura, caindo naquelas armadilhas de quem está começando a fazer cinema. Empolgado com as possibilidades do resultado de sua pesquisa de campo, A Fantástica Fábrica De Golpes mostra conclusões demais e análise crítica de menos. Para piorar, em uma ordem duvidosa.

Seu idealizador é Victor Fraga, que junto de sua equipe agradecem nos créditos finais os cerca de 500 colaboradores/investidores de uma plataforma de “crowdfunding”, pois sem eles e seus cerca de 60 mil reais o filme não existiria. Não é por menos: dedicando 80% de seu tempo para atacar a reputação da maior emissora do país, a Rede Globo, não há outra forma de produzir este filme senão pela ajuda dos anônimos da internet e uma boa dose de voluntariado. É esse tipo de cinema que gostamos: corajoso, que arregaça as mangas e que coloca a cara a tapa.

O tema pouco importa em um projeto desses, desde que nos conte algo de novo. O que não é o caso. Se trata de uma série de recortes de entrevistas seguidas por uma narrativa que deseja mostrar a trajetória em torno do impeachment da ex-presidente Dilma Roussef e a prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Enfim, todas as circunstâncias em torno do eufórico período político brasileiro entre os anos 2016 e 2019.

Porém, ao mesmo tempo, seu objetivo é unir estes anos com acontecimentos mais remotos, que se conectam com a já citada emissora de TV, jornal, revista e rádio. A vaga ideia da fabricação de golpes pela grande mídia busca estabelecer algumas sinapses entre manchetes, ditadura militar e o processo político no Brasil.

Para isso o protagonista fundamental é outro documentário, bem conhecido e já velhinho, lá da década de 90. Se trata do Muito Além do Cidadão Kane, produção britânica de Simon Hartog – um diretor de pouquíssimos trabalhos – e que esboça a arquitetura do poder midiático de Roberto Marinho no comando de produzir conteúdo de comunicação em massa para os milhões de pobres alienados leitores e espectadores brasileiros.

E aqui começa a ironia. Para nos iluminar a respeito da construção de narrativa o filme constrói uma versão completamente partidária. Na sua inocência espera, acredito, que o espectador identifique a sua forma de contar a “História” como a correta, e a outra, em contrapartida, como a errada. Não há meio-termo.

É muito curioso esse processo, pois quando há o mero consumo somos movidos pelos nossos preconceitos a usar nossa pré-formada opinião como lente de interpretação dos fatos. Ao assistir a um filme que explica como as narrativas são criadas, sendo ele próprio uma narrativa, a questão se limita a uma escolha de opiniões, que é uma decisão, se formos analisar, totalmente dissociada do pensamento crítico.

E como já comentei, o discurso é abertamente enviesado. Não são ouvidos lados para a expansão das múltiplas visões a respeito de um fato. A única visão defendida pelo filme é mostrada pelos diferentes ângulos de seus entrevistados, que percorrem as opiniões de esquerda que todos minimamente informados conhecem, para potencialmente informar alguém desinformado. Seria esse o objetivo? Como eu comentei no começo, a consequência é confusa na melhor das hipóteses e de mau caráter na pior. Como um YouTuber já dizia, ou a pessoa está enganada, ou está enganando.


“The Coup d’État Factory” (UK/Bra, 2021); escrito por Victor Fraga; dirigido por Victor Fraga e Valnei Nunes; com Chico Buarque, Glenn Greenwald e Adolfo Pérez Esquivel.


Trailer do Filme – A Fantástica Fábrica de Golpes

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