A História de uma Nomeação | Crítica do Filme

A História de uma Nomeação | Demora, mas fica bom


A diretora russa Avdotya Smirnova, junto dos roteiristas Pavel Basinsky e Anna Parmas, constrói este conto de guerra ambientado na época de ninguém menos que Leo Tolstoy, o escritor nomeado ao Nobel por cinco vezes e que nunca ganhou. Toda a humanidade do personagem de Tolstoy está a serviço da trama de A História de uma Nomeação, que gasta muito tempo no seu desenvolvimento até chegar em seus finalmente e começar a ficar bom.

A história é baseada em um fato real, o que impacta ainda mais quando vemos seu final. Gira em torno da vinda de um filho de general para servir a uma tropa interiorana em época de paz, treinando para servir o Czar no ainda império russo. Grigoriy Apollonovich Kolokoltsev é um jovem imaturo que junto de seus colegas se diverte com brincadeiras inconsequentes, como embebedar um elefante até a morte. Sua chegada intimida o capitão em serviço, além de revelar mágoas de parte do pelotão, em especial do alferes, um alcoólatra cuja idade já avançada contém uma história escondida em seu passado.

As melhores cenas do filme contam com a presença do escritor russo, interpretado por Evgeniy Kharitonov como um símbolo. Incapaz de qualquer ato humano, vemos Tolstoy mais como uma visão idealizada e canonizada do que um ser humano com olhar perspicaz para a natureza humana. Ele já vem com as conclusões prontas conforme os acontecimentos ocorrem sob seu olhar relaxado. Mesmo uma trama familiar envolvendo sua cunhada é pouco para forçar alguma emoção.

A direção de Smirnova é de quem está com o orçamento apertado, mas usa a câmera a seu favor, realizando transições elegantes, mas que passam despercebidas porque todo o resto cheira a telenovela. O elenco não é experiente em épicos, e este épico de guerra contém poucos soldados. Falta substância onde sobra filosofia. Por isso o desenvolvimento fica moroso, já que o terceiro ato é onde a maioria dos acontecimentos se desdobra para um dilema que ninguém que não conhece a história conseguiria prever (muito menos se você não for um russo habituado à sua história). É nesse momento que o filme emplaca, mas termina logo. Os momentos mais angustiantes são dirigidos com uma burocracia lastimável.

Ainda assim terminamos o filme querendo ler algum conto de Tolstoy ou pesquisar por essa suposta história real. É o gostinho de quero-mais quando a coisa começa a ficar boa.


“Istoriya Odnogo Naznacheniya” (Russia, 2018), escrito por Pavel Basinsky, Anna Parmas e Avdotya Smirnova, dirigido por Avdotya Smirnova, com Aleksey Smirnov, Filipp Gurevich e Evgeniy Kharitonov.


O FILME FAZ PARTE DA COBERTURA DO 2° FESTIVAL DE CINEMA RUSSO

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