A Médium | Crítica do Filme | CinemAqui

A Médium | Gênero ou experiência?

A Médium é um terror tailandês de duas horas e vinte minutos e que questiona durante todos esses minutos o que é o terror: o gênero ou a experiência.

A história começa com uma narração bonita, filosófica, que nos coloca na mesma página das crenças daquele povo a respeito do que são espíritos e almas. Eles consideram algo além do ser humano. É como se todo o universo pudesse ainda reverberar através dos vivos os que um dia foram. É uma boa introdução para um filme que começa como um documentário calmo e tranquilo.

Porém, você sabe que não vai ser assim para sempre. Qualquer espectador, até o mais desavisado, pode afirmar depois de alguns minutos de projeção que este não é um documentário de verdade. Porém, por algum motivo, o diretor Banjong Pisanthanakun (se é fã de terror você irá lembrar dele pelo filme Espíritos: A Morte Está ao seu Lado) resolve brincar disso até o final, pois mais vergonhoso que chegue a ficar.

A narração diz haver uma equipe de filmagens que entrevistou vários médiuns nessa região e escolheu essa mulher, Nim, a filha mais nova de uma família tradicional e que acabou herdando uma entidade secular de seus antepassados, um espírito cuja real natureza nunca é revelada, ou não se sabe. Essas entrelinhas embaçadas beneficiam a história porque o espectador precisa construir uma narrativa para si, e o medo ou curiosidade começa a habitar dentro de nós.

Os eventos da história principal são desencadeados com uma morte nessa família que gera um comportamento estranho na sobrinha da médium, a jovem Mink, que foi a que encontrou o corpo do falecido. É rápido para o “mockumentário” deixar de fazer sentido conforme sua edição começa a ficar caprichada demais e descobrimos atuações do elenco sendo reveladas em um roteiro com diálogos de filme de terror. O filme então se interessa em causar sensações no espectador que nós já conhecemos. O mal estar de uma pessoa que está sendo tentada por espíritos malignos. A relação da jovem e sua comunidade sendo abalada por seus acessos de fúria. Os efeitos visuais que nessa fase não exageram, mas sugerem comportamento sobrenatural. Esse é o pacote dos fãs de terror, e é tudo bem feito, com uma ou mais câmeras na mão.

A Médium | Gênero ou experiência?

Logo surge a trilha sonora e os cortes que tiram o espectador desse “faz-de-conta infantil” do início do filme e o transporta para essa viagem pelo parque de diversões. Mais especificamente no trem-fantasma, onde uma história assombrosa nos é contada e aos poucos vai sendo aumentada. O que fazer para curar a sobrinha da médium? Por que ela está fazendo sexo com estranhos? Por que ela rasga a própria roupa, mostrando seus seios nus? Seria “exploitation” para tornar a película mais valiosa? Não, imagine. Isso não acontece mais no século 21. Ou será que acontece?

Então chegamos no terceiro ato, onde toda a plateia está esperando pelos fogos de artifício e quem é que vai segurar a câmera por último antes de morrer. E, meus leitores, é preciso dizer: é um show de horrores. No melhor e no pior sentidos.

Há um pouco de gore além da conta, assim como algumas tripas filmadas com pouca luz, já que “o grande ritual”, aquela parte integrante dos finais de terror, é conduzido em uma casa abandonada cercada apenas pela floresta. Aos poucos surgem aqueles “jump scares” que empolgam um pouquinho, e não demora para começarmos a nos entediar. Hora de pensar na vida, no que vamos fazer para o almoço, no próximo filme da lista…

Porém, caro leitor, se você gosta de se assustar e tiver a oportunidade de assistir a esta experiência em uma telona com o som original, garanto que irá sentir alguns arrepios. Poderá se entediar eventualmente, mas será menos e será rápido, pois os trilhos colocados para os sustos rápidos são bem escondidos, e a atmosfera bucólica e charmosa facilita a experiência. Tudo facilita no filme. Menos a história difícil de engolir. Mas ela passa como no trem-fantasma.


“The Medium” (Tai/Cor, 2021); escrito por Chantavit Dhanasevi, Na Hong-jin e Banjong Pisanthanakun; dirigido por Banjong Pisanthanakun; com Narilya Gulmongkolpech, Sawanee Utoomma e Sirani Yankittikan.


Trailer do Filme – A Médium

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