A Minha Versão do Amor

Por Vinicius Carlos Vieira em 21 de Julho de 2011

A Minha Versão do AmorÉ bem verdade que A Minha Versão do Amor por um segundo parece se tratar de uma comédia cínica, e esse humor em nenhum momento parece se esconder, mas no fim das contas seu resultado acaba sendo uma história sensível que, justamente por essa surpresa, se torna uma opção interessante para quem tenta fugir um pouco do óbvio.

Dirigido por Richard J. Lewis (depois de um monte de trabalhos descartáveis em série e filmes para TV) A Minha Versão do Amor conta a história de Barney Panofsky (Paulo Giamatti), um produtor de televisão que já em sua velhice olha para o passado talvez à procura do caminho que o levou até aquele momento.

Nessa viagem, o espectador é convidado a acompanhá-lo desde a juventude, os três casamentos, as traições, as paixões e as decisões que resultam nesse velho rabugento que tem como principal passatempo infernizar a vida do atual marido da ex-mulher. No meio disso A Minha Versão do Amor ainda se permite ter uma pitada de suspense (que, talvez no único grande escorregão do filme, é pouco equilibrado diante do resto da trama) sobre a morte do melhor amigo do protagonista (em um trabalho surpreendentemente bom de Scott Speedman).

Mas talvez não seja ainda essa história que Lewis queira realmente contar (baseado no livro de Mordechai Ricler), mas sim de como tudo isso culmina nesse personagem quase trágico (e por vezes cômico) que descobre ter um coração, e um amor, muito maior que ele, ao mesmo tempo em que não consegue conviver com si próprio, com essas escolhas, seus erros (e até uma espécie de egoísmo) que não lhe permite seguir adiante sem se arrepender do passado.

É verdade que por um breve momento o espectador vai até se divertir com esse lado desapegado ao drama, até com o tal mistério do crime e com um ou outro momento esporadicamente engraçado, como a sua segunda esposa (uma madame irritante “com sua pós” e que acaba ganhando mais vida com o trabalho correto de Minnie Driver, e que produz umas das cenas de sexo oral menos sexy do cinema), mas no âmago de A Minha Versão do Amor tenta ser sobre como o amor pode ser uma faca de dois gumes, pelo menos para o protagonista.

Diante disso, tanto a história de Ricler, quanto o roteiro de Michael Konyves e a direção de Lewis por vezes procuram uma certa ironia para mover toda essa história, já que não tem como não perceber que é próprio Panofsky quem estraga a sua única chance de ter a vida que sonhou com o amor de sua vida (que conhece, justamente, no dia de seu casamento). Por outro lado, é diante disso que o filme parte para a sensível e surpreendente conclusão, como se permitisse que o espectador gozasse com ele da felicidade desses últimos momentos antes de, poético e emocionante, ganhar uma chance de passar uma borracha diante de todos esses erros.

De modo apaixonado pelo personagem, A Minha Versão do AmorA Minha Versão do Amor então se permite, no final de tudo, dar essa última chance a esse velho que, sentado em um bar, olha para trás com desilusão e amargor, e aos poucos, no decorrer do filme, vai visitando por uma última vez todos esses momentos. Mais ainda, dá a ele a oportunidade de permanecer, mesmo que de modo completamente trágico (ainda mais com o trabalho sutil e esplendoroso de Giamatti, que, com uma enorme habilidade, navega entre as pequenas mudanças desse personagem ao redor dos anos, fazendo todos entenderem exatamente a razão de cada ruga, por menor que seja, do ótimo trabalho de maquiagem), nesse relance de felicidade no alto da escadaria do salão onde foi seu casamento, com seu verdadeiro amor e sem mágoas a serem lembradas.

A Minha Versão do Amor então prefere ser um drama emocionante e verdadeiro, que não nega a predileção por tentar arrancar algumas lagrimas de seus espectadores (mesmo que sejam apenas alguns olhos marejados e embaçados, como alguns preferem encarar tal emoção) e que tenta mostrar que no final das contas, talvez, um único e puro momento de amor valha por toda uma vida de desilusões.


Barney´s Version (Can/Ita, 2010), escrito por Michael Konyves baseado no livro de Mordecai Richler , dirigido por Richard J.Lewis, com Paul Giamatti, Macha Grenon, Rosamund Pike, Minnie Driver, Scott Speedman, Mark Addy e Dustin Hoffman .


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5 Comentários. Deixe novo

  • WagnerLeite
    25/08/2019 2:11

    Recomendo!! Um filme que retrata a sensibilidade e realidade humana de uma forma muito inteligente…

  • LUIZ CARLOS
    30/11/2011 0:42

    Acabei de assistir o filme. Trata-se de um dos melhores filmes que assisti. Maravilhoso. Tem a mesma sensibilidade de um “Beleza Americana”. Boa diversão, para quem for assisti-lo.

  • to curiosa pra assistir o filme

  • Vinicius Carlos Vieira
    21/07/2011 15:52

    não gosto de escrever em primeira pessoa, mas, de qualquer jeito, “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação” digo então que chorei sim….. entrou para minha lista de filmes que me fizeram derramar lágrimas… ponto para ele…

  • Escarlate
    21/07/2011 15:37

    Ah, tava louca pra assistir este filme e não me decepcionei nem um pouco, aliás, pelo contrário. Esperava bem menos, e ganhei um maravilhoso filme!
    Paul Giamatti sempre ótimo, Dustin Hoffman idem.
    Na cena da lua-de-mel eu rachei, Minnie Driver está ótima em seu personagem…
    Enfim, filme ótimo, recomendo a todos!

    PS: Adorei ser citada no texto… Aliás, meus olhos marejados, rs… Engraçado que o crítico não comentou nada sobre os olhos dele cheio de lágrimas, né?

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