A Nuvem | #016 | 666 Filmes de Terror

A Nuvem | #016 | 666 Filmes de Terror


A nova produção francesa lançada pela Netflix, A Nuvem, pode ser um terror sobre gafanhotos carnívoros, mas acreditem, o filme está preocupado em mergulhar de cabeça em algo muito mais delicado, poderoso e sutil. Não que os gafanhotos comendo gente atrapalhem a diversão, muito pelo contrário, mas ainda assim têm muito mais coisa ali para ser apreciado.

O filme é o primeiro longa do diretor Just Philippot, que vem de uma carreira de roteiros e curtas que conversam com um fantástico que enfrenta a realidade bem de perto, quase sempre do jeito mais perturbador possível. Um lugar onde o real faz uma curva para encontrar aquele lugar onde o terror se instaura sem pedir passagem. Um lugar incômodo por definição.

A premissa está lá, mas longe de ser uma daqueles de algum terror descartável. Virginie (Suliane Brahim) é uma mãe que aposta o futuro de sua família em uma criação de gafanhotos após a morte do marido. Mesmo com relação delicada entre ela e o casal de filhos, continua firme nessa espécie de sonho, mas seu trabalho duro parece não estar dando resultado, aos poucos, seu empreendimento começa a dar errado e o fracasso a leva diretamente para a obsessão.

É essa obsessão que move A Nuvem. As ações dessa mulher para salvar seus filhos e conseguir protege-los, custe o que custar. E esse “o que custar” chega a um lugar desconcertante e onde reside essa mistura de terror psicológico com gore.

O roteiro de Jérôme Genevray e Franck Victor parece saber exatamente o limite entre esses dois momentos e constrói com segurança, tanto a ruína psicológica e emocional da personagem, quanto os detalhes que aos poucos vão arquitetando essa imagem maior que brinca, tanto com aquele tipo de “terror corporal”, quanto com o gênero em seu modo mais explícito. Mas é a calma através desse caminho que faz de A Nuvem um espécime diferente dentro do gênero.

O verdadeiro terror do filme está no lugar onde o espectador acompanha a protagonista se deixando levar por essa obsessão e quanto ela se deixar levar por uma espécie de simbiose. Protagonista e obsessão vivem em um mesmo espaço, seu sacrifício se confunde com a esperança de fazer com que seu sonho se realize e sua família sobreviva, mesmo diante da dor da perda e de uma quase necessidade de deixar isso para trás. A morte do marido parece ser um tabu para a mãe, assim como um trauma gigantesco para a filha (Marie Narbone).

O relacionamento complicado entre mãe e filha é a metáfora que discute o sacrifício da mãe e os arroubos da filha que movem parte da trama. A vontade de discutir os dois problemas parece apequenar a própria trama, que acaba se arrastando de modo formulaico para rumar para um fim mais óbvio e conveniente, por mais que se encaixe bem na necessidade do filme de entreter os fãs de terror mais puristas.

Entretanto, é a relação das duas que move o filme e representa esses dois lados do luto, cada uma lidando de modo diferente com a perda. É também delas que surge aquele momento visual que mais deve servir para um ou outro pesadelo dos espectadores. A ideia é boa, perturbadora, cria uma dinâmica interessante e empurra o filme para o fim enquanto encara a reação das duas e o desespero diante da obsessão levada até um ponto sem retorno.

Junto isso a uma nuvem de gafanhotos carnívoros comendo gente e o fã de terror tem em mãos um daqueles exemplos onde tudo se junta: uma ideia maluca, bons personagens, um roteiro inteligente e algumas cenas de gore cheias de estilo. Tudo que um bom terror precisa para ser um achado para qualquer amante do gênero.


“La Nuée” (Fra, 2020); escrito por Jérôme Genevray e Franck Victor; dirigido por Just Philippot; por Suliane Brahim, Sofiam Khammes, Marie Narbonne e Raphael Romand


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Trailer do Filme – A Nuvem

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