A Odisseia de Peter Filme

A Odisseia de Peter | Puro desejo de voltar para casa


[dropcap]É[/dropcap] difícil imaginar o que se passa pela cabeça de uma criança de 12 anos. E essa é a sensação ao assistir A Odisseia de Peter, um filme que lida com a quebra repentina de laços familiares, culturais e linguísticos de um garoto russo e sua incessante vontade inconsciente de conseguir essas raízes de volta.

Os diretores estreantes Anna Kolchina e Alexey Kuzmin-Tarasov pegam uma vaga história dos anos 90 e adaptam nessa aventura que é narrada a partir dos olhos do pequeno Peter, interpretado pelo ator-mirim Dmitriy Gabrielyan. O resultado é tão onírico em alguns momentos que, mesmo que você não conheça nada de cultura russa, irá se encantar com uma nostalgia infantil latente e vinda direta da imaginação de uma criança que tem que lidar com responsabilidades que seus pais o impuseram ao mudar para a fria mas sem neve Alemanha.

Aliás, note como a própria realidade da vida do pequeno Peter soa como uma interpretação dos piores momentos: acordar cedo, o frio sem neve, os colegas estranhos a ele… o ocasional bullying. Somado a tudo isso temos a fotografia que transforma tudo em não convidativo, frio, escuro e impessoal.

Ao mesmo tempo, dia após dia, testemunhamos seus sonhos noturnos onde ele revê momentos cheios de cores banhadas pelo sol com as duas pessoas favoritas de sua vida: a avó (“babuska”, do russo) e sua amiga mais velha. Enquanto a avó e a casa onde passou a infância soam como fortalezas emocionais para Peter, com comida, música e pequenos prazeres bucólicos, seus momentos com sua amiga soam mais exploratório, mas que, igualmente, nos remete ao ambiente onde ele estava acostumado a explorar, e que agora é impossível. São esses os momentos mais ricos de sua vida passada.

O filme é puro desejo. Peter não esboça nenhuma razão em suas ações, e não se pode culpar uma criança por não agir com disciplina, pois seus culpados, em última análise, são seus relapsos pais, que se preocupam com o filho, mas parecem incapazes de agir (não fica claro porquê). Pegando carona na recorrente história dos refugiados, o filme tenta universalizar a situação de quem deixa sua pátria mãe em busca do desconhecido. Uma visão um tanto poética, no mínimo.

Esse texto faz parte da cobertura da 42° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo


“Odysseya Petra” (Rus, 2018), escrito e dirigido por Anna Kolchina e Alexey Kuzmin-Tarasov, com Dmitriy Gabrielyan, Svetlana Nemolyaeva, Maria Shashlova.


 

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