Há uma tensão no ar que é reflexo de amargura. A Professora de Violino em suas nuances vira um ensaio de coisa nenhuma, mas é uma coisa nenhuma fácil de assistir. Fácil talvez até demais.
As sutilezas sobre a história de vida de uma professora de violino começa, é claro, nas suas frustrações durante a juventude: aquela fase quando a pessoa tem todo o potencial e o desperdiça. No caso dela, quando ela poderia ser uma habilidosa musicista e a vida acontece e atravessa seus planos. Daí “quem não sabe ensina”, já diz o ditado, e não é novidade nenhuma no cinema que professores obcecados perderam sua chance e descontam em cima dos alunos, dos seus filhos, de quem estiver na frente. Se você gosta de Hollywood ecos de Whiplash chegarão aos seus ouvidos ao ver este equivalente europeu.
Aproveitando esse tema, o filme faz uma incursão, essa bem mais original e empolgante, na sensibilidade e habilidade com que músicos interagem com seus instrumentos musicais. O marido da professora, um artesão, observa em uma folha de madeira que poderia ser usada para criar o próximo instrumento musical os anos de chuva além da conta que forçaram um crescimento acelerado em sua árvore, o que forjou seu padrão com uma falta de harmonia entre os anos. E vejam só: até quando se fala na qualidade dos violinos de hoje em dia podemos colocar a culpa no aquecimento global.
A virtude do filme também está em alta nos detalhes técnicos, como quando a professora instrui seu aluno sobre o compasso e que ele deveria tocar a nota Si em vez de Si bemol. E seu perfeccionismo nas aulas realça a beleza quando ouvimos um quinteto de cordas de veteranos treinando para um concerto.
Por outro lado, o filme é tão lento que também nos deixa observar impressões que podem não ter qualquer relação com o tema, como ela preferir educar um aluno que demonstra passividade em seus trejeitos — e que justamente por isso pode ser explorado através de um tom enérgico por seu professor — ou uma inesperada e deslocada metáfora familiar envolvendo queijos muito secos. Seguindo o estilo sisudo europeu, apesar de tudo dizer respeito à história e aos seus complexos personagens, paradoxalmente apenas os transforma em versões mais fracas e soltas da vida real.
Dessa forma passamos por minidramas envolvendo um caso extraconjugal e o comportamento de jovens veganos da geração contemporânea, e nada disso contribui para a análise da única personagem que interessa, a personagem-título (ao menos no Brasil). Esta é uma abordagem narrativa arriscada e que poucos diretores e roteiristas podem se dar ao luxo. Discorrer sobre um assunto requer uma disciplina e habilidade sobrenaturais para continuar citando aleatoriedades e ainda haver espectadores assistindo no final. A Professora de Violino não é um bom exemplo de um filme desses.
“Das Vorspiel” (Ale/Fra, 2019); escrito por Daphne Charizani e Ina Weisse; dirigido por Ina Weisse; com Nina Hoss, Sophie Rois e Thorsten Merten.