A Teia | Não vai ser esquecido logo de cara

Novo thriller psicológico tem estreia do roteirista Adam Cooper (Assassin’s Creed e Êxodo: Deuses e Reis) na direção e coloca Russell Crowe em uma espiral de arquétipos do gênero lutando por uma história original. A parte original é que ele tem Alzheimer, mas está levando uma vida normal e sozinha, pois está participando de um tratamento experimental, mas revolucionário, que pode curá-lo.

Os arquétipos do gênero que citei giram em torno de um homicídio resolvido às pressas 10 anos atrás e que agora volta às suas memórias quando o condenado (Isaac Samuel, convincente) irá cumprir sua pena de morte dentro de um mês. Sabendo de sua inocência, ele resolve falar com o antigo detetive que cuidou do seu caso, Roy Freeman (Crowe), para que ele se resolva com a sua consciência ou, quem sabe, tente achar mais alguma pista que descubra o verdadeiro assassino. Só que como o condenado será morto pela justiça em um mês ele tem que ser rápido de novo.

Ambientado em um universo quase de vídeogame, onde os interrogatórios informais que o ex-detetive conduz são respondidos pelas testemunhas casualmente, sem pestanejar, o realismo do mundo é suspenso para dar lugar a inúmeros personagens cujas narrativas incompletas irão se entrelaçar e gerar no espectador uma sensação que emula o que o detetive deve estar sentido com sua falta de memória. No entanto, se essa desorientação é enfatizada no começo, logo se torna uma mera desculpa para que o investigador percorra novamente o caso e enxergue sob uma nova ótica quais as intenções das pessoas em volta da vítima.

Isso envolve o suspeito número um (exceto o condenado), Richard Finn (Harry Greenwood). Estudante na mesma universidade do professor assassinado e teoricamente tendo uma relação com uma de suas pupilas, Finn e a vítima Dr. Joseph Wieder (Marton Csokas) deveriam ter seus desentendimentos em torno do provável triângulo amoroso com a brilhante e misteriosa Laura Baines (Karen Gillan, intensa), a mais próxima de uma femme fatale do longa, só que com doutorado, sabendo falar seis línguas fluentes e com desejos eróticos longe do convencional.

Esse pequeno arco é percorrido com um certo charme através de um rascunho de um livro inacabado do estudante após conviver com os dois. E ele nunca será acabado, já que Finn morreu por uma overdose de uma droga que nunca ingeriu na vida e nem poderá ser interrogado sobre sua versão da história. Enquanto isso o resto das testemunhas e suspeitos, incluindo seu antigo parceiro Jimmy Remis (Tommy Flanagan), possuem seus próprios interesses para que qualquer novo detalhe jamais veja a luz do dia. Ou seja, como se vê e como se fala em inglês, “the plot thickens”. Em tradução livre: o caldo engrossa.

Após estas aspas abertas, o filme parte para a abertura de pontas soltas que nunca serão fechadas, o que deveria causar a sensação de amnésia esperimentada pelo personagem de Crowe, mas entrega algo diferente. Algo mais semelhante a quem assiste a O Espião Que Sabia Demais (de 2011), com Gary Oldman fazendo um espião mais próximo da vida real, coletando e interligando pequenas pistas em uma teia infinita de teorias e possibilidades (daí o título nacional deste filme, até que bem escolhido no lugar do original “Sleeping Dogs”, sem tradução simples).

Russel Crowe tem a difícil tarefa de demonstrar fragilidade de paciente e masculinidade de ex-policial nas mesmas cenas, além de uma certa ambiguidade em seus motivos e um distanciamento justificado pela sua condição da doença, mas ainda empenhado em descobrir o possível real assassino e assim salvar uma vida inocente. A maioria dos atores desistiria ao entender o desafio, mas o ator de Gladiador, Uma Mente Brilhante e O Informante (se você é jovem, pesquise!) continua aos 60 anos demonstrando uma disposição cansativa que tem se tornado sua persona nesta década e com sucesso em muitos projetos, como o desse mesmo ano Zona de Risco.


“Sleeping Dogs” (Aus/EUA, 2024); escrito por Adam Cooper, Bill Collage e E.O. Chirovici; dirigido por Adam Cooper; com Russell Crowe, Karen Gillan, Thoma M. Wright, Tommy Flanagan e Marton Csokas.


Trailer do Filme – A Teia

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