Abigail | É só esperar que fica bom

Será que em pleno 2024 seria possível entrar no cinema para assistir Abigail sabendo nada ou quase nada sobre o filme? Será que seria possível a Universal na hora de distribuir o filme apostar em um marketing que escondesse as reais intenções da história e sua reviravolta? Será que as redes sociais iriam se empolgar com o filme sem essa propaganda? A resposta para todas as perguntas é não, ainda que a primeira lá possa acontecer, e quando acontecer, vai levar o espectador para um lugar ainda mais divertido e interessante.

É mais ou menos como se em 1996 alguém tivesse entrado no cinema para ver o novo filme do George Clooney e tivesse ficado quase uma hora dele se divertindo com o ator sendo um vilão mau sequestrando uma família bacana, mas tendo que parar no meio da viagem de fuga em um bar de stripper chamado “Titty Twister”. Vinte anos atrás seria mais fácil entrar no cinema para ver Um Drink no Inferno sem saber nada sobre ele, por mais que o trailer também estragasse parte da experiência.

A diferença entre o filme de Robert Rodriguez e Abigail não está só na campanha de marketing, mas sim em sua estrutura. E isso não é uma comparação propriamente dita entre os dois, é apenas um questionamento sobre como ambos filmes parecem enxergar suas ideias de maneiras diferentes, mesmo elas sendo bem semelhantes.

Mas se quiser fazer uma comparação mais “pé no chão”, volte apenas até 2019 no filme dirigido pela mesma dupla de Abigail, Matt Bettinelli e OlpinTyler Gillett: Casamento Sangrento. Nesse também o espectador menos informado irá ser surpreendido com uma história maluca que surge de lugar nenhum. E aí talvez esteja o maior problema de Abigail, o que vem antes da “história maluca”.

Abigail abre com uma linda criança de seus dez anos mais ou menos em um palco dançando balé enquanto um grupo de gente vestida de preto e com máscaras parece tramar o sequestro da coitadinha. A ideia então é que esses cinco sequestradores só precisam ficar “guardando” a vítima do rapto em uma casa enquanto o pai dela paga pelo resgate. E quem já viu o trailer, leu a sinopse ou esbarrou com qualquer peça de marketing de Abigail sabe o que vai acontecer. Mas demora.

Os personagens são clichês desinteressantes que só conversam através de diálogos expositivos e não tem função nenhuma na trama a não ser mais tarde serem mortos. E em termos de contar as tramas e “backgrounds” através de linhas de diálogo, Abigail é um “clássico do gênero”. Então é bom se preparar para um monte de gente falando muito mais coisa do que qualquer espectador gostaria de prestar atenção. Dos vilões explicando o plano, até os mocinhos discutindo como sobreviverão aos vilões. Mas não se preocupe, quando o filme começar de verdade, você não vai se importar muito com isso.

E por mais que Um Drink no Inferno e Casamento Sangrento “preparem melhor seus campos” para a partida final, eles e Abigail se esbaldam quando a diversão propriamente dita começa. No caso de Abigail, e isso sendo um spoiler, é sempre divertido acompanhar uma criança vampira bailarina trucidando um bando de marmanjos com toda quantidade de sangue que o orçamento conseguiu comprar.

A dupla Matt Bettinelli e Olpin Tyler Gillett entende disso, como já demonstraram em Casamento Sangrento, então Abigail sai de um começo chatinho para um terror exageradamente ensanguentado e com uma vontade enorme de não se levar a sério. E quando junta essas duas coisas, Abigail é imbatível. Ver vampiros explodindo com suas entranhas voando para todos os lados e cobrindo os personagens de sangue é sempre uma qualidade incrível para o gênero. Mesmo com o final meio arrastado e óbvio, a diversão não acaba e o espectador será presenteado até os últimos minutos com muito gore, sangue e Abigail.

Sim, em meio a um elenco absolutamente sem ninguém que se destaque, Alisha Weir mantém tudo nos trilhos. A menina encarna absolutamente bem essa personagem que finge ser meiga, mas, ao mesmo tempo, é uma pequena psicopata com presas e que só quer mesmo é brincar com sua comida para passar o tempo. A atriz só não é um achado, pois recentemente já estrelou o musical Matilda da Netflix, mas definitivamente depois de Abigail abre uma série de outras oportunidades para sua carreira e prova o quanto pode ser uma ótima assassina maluca.

Ela funciona muito bem durante todo seu tempo em tela, que, infelizmente, não é o que acontece com o filme em si. Para a sorte dos fãs, a metade que funciona faz isso o suficiente para deixa a chatice do começo ser esquecida, até porque, ninguém entrará no cinema sem saber o que acontecerá, então é só ter um pouco de paciência que tudo vai dar certo.


“Abigail” (EUA, 2024); escrito por Stephen Shields e Guy Busick; dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett; com Melissa Marrera, Dan Satevens, Alisha Weir, William Catlett, Kathryn Newton, Kevin Durand, Angus Cloud e Giancarlo Esposito.


Trailer do Filme – Abigail

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