Neil Marshall é um diretor inglês que apareceu à quase uma década atrás com seu interessantíssimo Cães de Caça, que logo virou Cult e em pouco tempo abriu caminho para uma pequena obra de arte do gênero (terror): seu Abismo do Medo (ainda que a distribuidora nacional não tenha percebido que a história se passava em uma caverna). Eis que o filme faz sucesso pelo mundo e, ao chegar na terra do Tio Sam, recebe “carinhosamente” um final “alternativo” ao melhor estilo imposição (aqui nós vimos o original).
Mas onde tudo isso interessa? No exato momento que esse final só serve para, não só destruir o original e toda idéia do diretor, como para deixar aberto a trama para essa continuação que chega aqui direto nas locadoras. Portanto não se espante se ao começo do filme você der de cara com uma personagem que tinha morrido e algum tempo depois ainda receber uma outra visita do outro filme, ambas inescrupulosamente sem razão de serem. Assim como todo filme.
A impressão que fica é não só de uma sequencia sem necessidade de existir, mas, mais ainda, de uma que não percebe a força que o filme original tinha e muito menos onde estavam seus acertos. Se nele, Marshall te apresenta um filme onde o maior inimigo do grupo de protagonistas era uma situação claustrofóbica dentro de uma caverna, com desmoronamentos, privações e mais um monte de conflitos entre elas mesmas, para, só então, depois de desestruturá-las e sufocá-las, deixá-las a mercê de um monstro desconhecido, o novo diretor, Jon Harris, faz exatamente o oposto, preguiçosamente falando.
Se aquela criatura não era a estrela do filme, mas sim uma ferramenta para matar todas elas, aqui ele se torna quase uma diva do cinema clássico, com iluminação própria e tudo mais, esquecendo por completo que tal figura só funcionava sobre o véu da escuridão, encarado de relance e não como agora, com closes e mais closes. Criando não um monstro, mais sim alguns caras nus com cara de morcego, que babam pelos cantos e ainda fazem suas necessidades em uma vala coletiva, pouco higiênica e bem nojenta (além de terem aprendido com algum parente do terror japonês um barulhinho que precede suas chegadas).
E é diante dessa nojeira que o diretor tenta fazer seu filme, já que ele apresenta, além da baba, um show de perfurações e esmagamentos ao melhor estilo “B”, que é onde ele parece ter ido buscar todas suas inspirações, já que sempre que possível dá um jeito das personagens “trocarem fluídos” com cadáveres e com as próprias criaturas. É só alguém ser perfurado, cortado ou esmagado para uma jatinho de sangue espirrar na cara dos outros personagens, sem contar na piscina de fezes (coisa fina mesmo).
O fio de trama passa por uma equipe de salvamento que está à procura das moças perdidas do anterior, enquanto Sarah (aquela que morreu mas não morreu) aparece no meio da estrada. Em poucos minutos e uma ausência total de inteligência do roteiro, a própria Sarah (que acabou de sair da caverna) é escalada pelo xerife da cidade e sua assistente (ambos sem a mínima experiência de busca) para irem com uma equipe de salvamento de volta ao local onde eles acham (isso mesmo, eles acham e levam a vítima com eles sem a menor certeza de nada) que elas estão.
Sem o mínimo de respeito com o espectador Abismo do Medo 2 vem só para te fazer ter vontade de ver de novo a versão original do primeiro, onde, talvez, já se precavendo de algum vexame desse tipo, Marshall brinca com o espectador e “finge” estar salvando sua personagem e não deixando-a livre para essa exploração insensata que Hollywood adora fazer, transformando filmes inesquecíveis em franquias que deviam ter parado antes mesmo de começar a serem feitas.
The Descent: part 2 (EUA, 2009) escrito por J Blakenson, James McCarthy, James Watkins e Jon Harris, dirigido por Jon Harris, com Michale J. Reynolds, Shauna Macdonalds, Douglas Hodge, Joshua Dallas, Krysten Cummings, Natalie Kackson Mendoza e Anna Skelern.
5 Comentários. Deixe novo
Ninguém nunca sabe….
Nem sei prq to aqui 10 anos depois kkkk
time q ta ganhando naum se mexe por q naum chamaran o mesmo diretor do 1 pra fazer o 2?Essas produtoras de filme só ligam mesmo para as bilheterias,os dvds,q vão ganhar com os filmes ”trágico”
Obrigado pelo espaço!!!
revi o primeiro a poucos dias e passei a achar mais ainda que ele tinha uma predisposição a ser um filme interessante, muito mais procupado com o clima e com a tensão, com o desenvolvimento dos personagens e com tudo mais para conseguir chegar àquele final pessimista e coerente, o que faz mais ainda com que essa sequencia se torne um exercício de como aproveitar um hype que foi criado…. com certeza esse segundo ficou melhor que os lançamentos que as locadoras recebem direto para elas, mas isso não é nenhuma qualidade dele…
PS: valeu por comentar e volte sempre!
Cara, não concordo. Acho que “Abismo do Medo” mantém a mesma pré-disposição pela tensão, pelo clima claustrofócio e pelo terror. Salvo algumas decisões da narrativa, trata-se de um suspense bastante eficiente e não considero uma continuação sem razão de existir, embora essa construção seja essencialmente contraditória. Acima da média da grande maioria dos lançamentos do gênero, algo muito semelhante ao que aconteceu na época do lançamento do primeiro filme.