É preciso tão pouco para que o documentário As Bruxas do Oriente se torne uma experiência imperdível, que nem as péssimas decisões do diretor Julien Faraut conseguem destruir o filme. Mas que ele tenta destruir o filme, isso ele tenta.
A história é imperdível, porque é um daqueles momentos do esporte onde tudo se junta para culminar em uma partida que vale muito mais do que uma vitória, medalha ou troféu. Nesse caso, o ponto mais alto do pódio olímpico de Tóquio em 1964. As personagens, no caso, o time feminino de vôlei, que já era uma espécie de sensação do esporte, mas chegou até ali com a responsabilidade de representar o país.
Mas o filme de Faraut existe por duas razões. Uma delas foi o reencontro dessas ex-jogadoras cinquenta anos depois. A outra é uma quantidade enorme de imagens de arquivo, consequentemente, a tentação de reapresentar os feitos incríveis dessas mulheres para uma nova geração.
Em ambos os esforços Faraut fracassa. Tem pouco dessas mulheres cinquenta anos depois, poucas histórias olhando para elas nos olhos e muito “voiceover” com imagens de arquivo. O diretor até tenta cria uma dinâmica moderna apresentando cada uma delas, mas isso não é suficiente, tudo se mistura demais, acaba repetitivo e demora mais tempo ainda para chegar em qualquer lugar. No fim, chega, mas demora.
Faraut também não consegue criar um interesse real enquanto acompanha algumas das ex-jogadoras em suas vidas atuais, demonstrando o óbvio, o coração do time está no passado, não no presente.
Quando Faraut não está tentando contar história demais por meio de textos na tela ou acha que a melhor ideia é criar uma montagem repetitiva com uma música que nada tem a ver com o resto do clima enquanto desgasta um anime baseado no time (ufa!), As Bruxas do Oriente funciona. Vai contando a histórias dessas mulheres, funcionários de uma fábrica têxtil que formaram um time de vôlei bancado pelos patrões. Tudo bem, isso parece esquisito, mas, ao que tudo indica, no Japão, nos anos 50 e 60, isso não era tão esquisito assim.
O time foi ficando bom demais para as ligas regionais e em pouco tempo começou a representar o país como seleção do Japão, o que se transformou em uma série de 24 vitórias em um tour pela Europa que lhes rendeu o apelido que batiza o filme. Mas elas foram mais longe ainda, ganharam um mundial na União Soviética e ainda a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 1964.
Faraut pelo menos consegue colocar o espectador dentro dessa sensação. Entende a necessidade de contar um pouco de história para que se entenda a importância da Olimpíada de Tóquio pouco menos de duas décadas após os ataques atômicos americanos em Hiroshima e Nagasaki, além da derrota na Guerra. Para os japoneses, cada medalha de ouro representava uma retomada, principalmente em dois esportes que tinham se tornados símbolos: o judô e o vôlei feminino.
O diretor perde mais tempo do que deveria estabelecendo esse cenário, mais uma vez emocionado com a quantidade exacerbada de imagens de arquivo, mas consegue passar a mensagem. A frustração da derrota no judô se torna esperança nas mãos das “Bruxas do Oriente”. Em seu momento mais interessante, o filme refaz o jogo em uma montagem ágil, emocionante e climática.
Viver essa história vale o filme. Entender o que realmente essas mulheres significaram faz do filme uma experiência obrigatória. Mas ter que aguentar um trabalho tão lento e desproporcional do diretor, pode ser realmente um impeditivo para o filme alcançar cortadas mais altos. Mas nem isso estraga o filme.
“Les Sorcières de L´Orient” (Fra, 2021); escrito e dirigdo por Julien Faraut