Batem à Porta | Crítica do Filme

Batem à Porta | A persistência de M. Night Shyamalan

A persistência de M. Night Shyamalan é um negócio de outro mundo. É lógico que isso também só é possível graças ao período de cinco anos de sua carreira, entre 1999 e 2004, que lhe permite errar nas duas décadas seguintes, mas ainda assim continuar tendo acesso e dinheiro para fazer grandes produções como Batem à Porta, que para a felicidade de seus fãs é a melhor coisa que ele assina desde A Vila.

O filme é baseado no best-seller de Paul Tremblay, lançado no Brasil com o título O Chalé no Fim do Mundo, e Shyamalan também escreve o roteiro em parceria com Steve Desmond e Michael Sherman, nenhum dos dois sendo reconhecidos por nada que já tenham feito. Mas a ideia da história é realmente interessante e fica fácil fazê-la funcionar.

Nela, um quarteto de estranhos invade um chalé no meio da floresta onde o casal Eric (Jonathan Groff) e Andrew (Ben Aldridge) estão passando férias com a filha Wen (Kristen Cui). Munidos de umas armas com cara de medievais, os quatro prendem a família e explicam o caso: Um dos três precisa morrer para impedir o apocalipse e a escolha deve ser deles.

E saindo completamente de seus últimos trabalhos preguiçosos e presos demais a estruturas aceleradas e surpresas que remetem a seus primeiros e cultuados trabalhos, Batem à Porta está mais interessado no clima e quase em um brincadeira entre história e espectador sobre no que eles devem ou não acreditar.

A grande dinâmica do filme está sempre entre a veracidade ou não das ideias daqueles quatro malucos. Acertadamente isso ainda não perdura o tempo inteiro e ofende a inteligência do espectador, rapidamente é difícil não acreditar naquilo tudo e então o filme ganha uma outra possibilidade de discutir o assunto, menos interessante, mas ainda assim dentro das expectativas.

Sem uma grande surpresa no final ou reviravolta que faça os fãs do diretor se sentirem enganados (no bom sentido), só uma história que caminha no seu ritmo e chega em uma conclusão que não é das mais surpreendentes, mas que é eficiente e firme.

Batem à Porta | A persistência de M. Night Shyamalan

As surpresas do filme recorrem, justamente, ao andamento da trama e do crescimento da tensão diante dos acontecimentos da história. Quanto mais o clima fica angustiante e urgente, mais o filme acelera e aponta para um final explosivo e violento. E isso é, talvez, o maior acerto do filme.

Para quem é fã do diretor, o acerto do filme também está comum trabalho econômico e eficiente de Shyamalan que não rebusca suas opções e nem tenta emular nenhuma pirotecnia estética de seus melhores momentos no cinema. Quase como se esse novo Shyamalan dos últimos 10 anos de filmes insossos estivesse aprendendo a usar essa economia plástica para contar uma história funcional que sustenta através de sua trama, não de uma surpresa qualquer.

Shyamalan ainda acerta ao valorizar o trabalho do elenco, que é boa parte da ação do filme. O roteiro é ágil, os diálogos funcionam com rapidez e o elenco aproveita bem todas oportunidades, principalmente o grandalhão Dave Bautista que faz com que seu personagem seja inusitado, delicado e poderoso. O diretor sabe disso e aproveita bem todas oportunidades de deixar o filme fluir através dos diálogos e de composições que permitem que seus esforços sejam recompensados e fiquem claros na tela.

Mas não tem jeito, Batem à Porta ainda assim será julgado por seu terço final. As surpresas da trama são corajosas e não escondem a vontade de serem fantasiosas e até um pouco exageradas. Se isso deixar alguns espectadores chateados com as decisões corajosas da história e das soluções que podem parecer um tanto quanto abusadas e descomedidas, é isso também que ajuda o filme a ser diferente. Como se não tivesse vontade de ser só mais uma história onde tudo termina bem e todo esforço do roteiro de ser diferente durante o resto do tempo é jogado fora. Shyamalan e o roteiro se mantém firmes na ideia original e não tentam esconder uma carga grande de pessimismo que marca o filme. Quem não embarcar, com certeza irá se irritar. Quem curtir irá se refastelar.

Mas sobre tudo isso tem a persistência de M. Night Shyamalan de ainda buscar pelo filme que o fará voltar a ser reconhecido e (re) cultuado, mas se ele continuar buscando isso enquanto faz filmes como Batem à Porta e não bobagens como Fim dos Tempos e Depois da Terra, tudo ótimo e que sua persistência perdure.


“Knock at the Cabin” (EUA, 2023); escrito por M. Night Shyamalan, Steve Desmond e Michael Sherman, a partir do livro de Paul Tremblay; dirigido por M. Night Shyamalan; com Dave Bautista, Jonathan Groff, Rupert Grint, Nikki Amuka-Bird, Bem Aldridge, Abby Qruinn e Kristen Cui.


Trailer do Filme – Batem à Porta

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