Muitas vezes um filme não é só aquilo que está na tela. Fugir do que está simplesmente sendo colocado em frente de vocês passa então a ser uma obrigação, tanto do público, quanto da crítica especializada. Black & White deve ser entendido além daquilo que está na sendo visto.
O projeto parece ter nascido da inquietação do diretor Tristan Aronovich de discutir o preconceito. Para chegar nesse objetivo, escolhe focar no crescente número de ¿adeptos¿ do neo-nazismo no Brasil.
Black & White conta a história de um grupo de neo-nazistas comandado por um velho nazista que é investigado por uma espécie de célula de alguma polícia de algum lugar e que pretende se aproximar dele através de um de seus principais capangas, Freddie (o próprio Tristan).
A ideia passa então a ser convencer esse vocalista meio viking com a suástica no peito a entregar o chefão, e para isso eles criam essas sessões onde Freddie vomita suas verdades nazistas enquanto a equipe de policiais refuta tudo e mostra a ele o quanto ele está errado.
Sim, em tempo de redes sociais, Black & White arranca a “Lei de Godwin” à porradas do canto da sala e vai logo de cara até Hitler para enchê-lo de sopapos. O que é uma missão relativamente simples, já que todo discurso de ódio desse pessoal passa pela total e completa ausência de sentido.
De qualquer jeito, ainda que seja simples chegar nisso, Black & White vale ainda por estender essa discussão depois que as luzes se acendem. E conseguir fazer com que um filme seja responsável por isso, já é uma vitória completa.
E essa vitória deve ser dada para o diretor Aronovich, que leva o conceito de ¿faça você mesmo¿ a níveis que deixariam George Melies orgulhoso. Você encontrará seu nome não só na direção, no roteiro e no elenco , mas ainda na montagem e na produção. E essa última função sendo o retrato dessa vontade que ele parece ter de simplesmente fazer, haja a dificuldade que houver.
Portanto, isso, essa vontade de criar o cinema em sua mais pura essência, compensa até uma série de defeitos da produção, como o roteiro meio bagunçado e atuações abaixo da média (sem contar algumas motivações não muito inspiradas), mas isso fica de lado diante da sensação de dever cumprido. De existir ali o resultado de uma vontade maior do que qualquer barreira ou dificuldade.
Black & White existir, diante da vontade de Aronovich é o principal acerto. E que isso sirva de inspiração para muitos outros ¿Aronovichs¿ que podem estar por ai, dormentes e esperando apenas um empurrãozinho para se tornarem cineastas.
*Black & White faz parte da cobertura do 2° Santos Film Fest
“Black & White” (Bra, 2015), escrito e dirigido por Tristan Aronovich, com Tristan Aronovich, Chad Christopher, Marjo-Riikka Makela, Amanda Maya e Eric Sherman
4 Comentários. Deixe novo
As vezes vc segue algo sem ter noção do que é. Se prestar atenção, entendi a mensagem. Vejo isso muito nas religiões, política,…. As pessoas seguem pelo que o outro diz, mas não pq tem opinião própria. Muitas vezes se decepcionam. É clara a mensagem por trás desse filme.
Obs.: Leandro tenta começar a refletir qd vê e não julgar.
Eu gostei a primeira vez que assisti, já estava quase na, metade e alguns dias depois assistir na íntegra é filme que propõe uma séria reflexão de questões ainda pouco levada a sério mas que tem cada vez mais atingido aqueles que encontram nesse tipo de discurso “torto’, uma pseudo resposta.
Não achei tão tosco assim. Realmente tem umas “forçadas de barra”, mas expõe um grupo doente que age em nosso país, o que é uma temática preocupante e pouco explorada. A questão do filme ser em inglês, mesmo se passando no Brasil, com alguns diálogos isolados em português trazem realmente um ar tosco e irreal, mas o filme é interessante e atinge o seu objetivo: discutir o preconceito.
Nunca vi coisa mais tosca. Ataca uma minoria ja meia doente. Só mais gasolina na fogueira. Tosco, mal feito… e acima de tudo: irreal.