Clube da Luta Para Meninas | Maluco e imperdível

Muita gente deve se irritar com Clube da Luta para Meninas. Alguns pelo título ruim em português. Outros por não entenderem o tom do seu humor. Tem até quem estiver confortável em um certo espectro político e ideológico que ficará bem bracvo com as ideias da produção. Mas tirando o título ruim, “Bottoms” (título original) é uma comédia completamente maluca e divertida. Azar de quem não estiver com ela no mesmo clima.

E a ideia é da dupla do incrível Shiva Baby (se ainda não viu, veja!) Emma Seligman e Rachel Sennott. A primeira dirigiu o outro e agora esse. A segunda estrelou o primeiro e agora se junta à diretora para escrever o roteiro e o resultado é incrível, ainda que completamente desprovido de bom senso e substituindo isso por uma cara de pau gigantesca.

Em “Bottoms”, Sennott é PJ e Ayo Edebiri (da série The Bear… também se não viu, veja!) é Josie, duas amigas lésbicas em pleno ginásio dos Estados Unidos. Sim, aquele com todos clichês possíveis, mas nesse caso com um toque de “non sense” que permite que os personagens e diálogos sempre caiam em soluções que beiram o devaneio.

A extravagância narrativa de “Bottoms” começa com as duas sendo típicas adolescentes meio “losers”, com hormônios à flor da pele e querendo “pegar” a dupla de amigas mega populares da escola. Entre indas e vindas, as duas acabam sendo mandadas para a diretoria e conseguem sair de lá com a ideia de um “Clube de Defesa Pessoal para Garotas”, ou popularmente falando, um “Clube da Luta”. PJ prefere a segunda opção e Josie a primeira opção, mas ambas acabam caindo no mesmo lugar: a porradaria.

Mas Clube da Luta para Meninas vai além disso. Enquanto brinca com todo estapafurdismo, tem uma intenção bem clara de potencializar e empoderar uma visão feminina de um mundo absolutamente machista e desequilibrado, mas sem nunca perder a piada sobre nada disso. As duas conseguem juntar um grupo de garotas que precisam enxergar suas vidas de modo diferente, através de seus olhos e de suas potências, nem que seja com violência.

Sim, o filme de Emma Seligman não consegue falar sério nem por um segundo sequer. As lindas mensagens estão por lá, que sejam por um segundo, então é bom agarrá-las rápido, porque o que vem da sequência é quase sempre uma surpresa doida. A dupla de roteiristas não só celebram o ridículo do masculino clichê (o que vai deixar muito “macho inseguro” bravo… porém é sempre hilário!), como tentam criar um clima absolutamente caótico que vai tomando conta de tudo até um final absolutamente catártico, violento e com muita câmera lenta.

E Seligman não só dá conta do visual quando o assunto é ação, como constrói todo visual do filme com capricho e inteligência. As piadas estão na tela, não só nos diálogos, mas também em todas composições das cenas. Portanto, o que não faltam são cenas do fundo que arrancarão risos de todo mundo que conseguir enxergá-las.

Na frente de tudo isso, a dupla de protagonistas são um espetáculo à parte. Principalmente, pois conseguem se completar de modo não só equilibrado como se completando. As personagens são construídas como faces muito diferentes de uma mesma moeda e em pouco tempo de tela já é possível prever as maluquices de cada uma delas em cada cena. E isso é maravilhoso, aproximando demais as duas aos espectadores, já que suas dores são transparentes, mas tudo vem com uma carga enorme de excentricidades e um humor ácido e que chega em momentos que serão inesquecíveis.

Junta às duas a presença do ex-”running back” do Seattle Seahawks, Marshawn Lynch em seu primeiro longa onde não é ele mesmo. Lynch é o professor das duas, Sr. G, e é uma enorme piada com a postura masculina convenientemente livre de qualquer culpa, isso repleto de frases de efeito que parecem todas criadas loucamente ali na hora. Uma grata e cínica surpresa para os fãs de futebol americano.

E “Bottoms” é tudo isso também, surpreendente, parecendo uma piada feita na hora, que não se leva a sério e dá muita risada de si mesmo, tudo muito exagerado cínico e completamente maluco. Com certeza uma das melhores oportunidades do ano de dar boas risadas. A não ser que você seja uma das duas opções do primeiro parágrafo, aí azar o seu, que não vai se divertir tanto quanto o resto do pessoal.


“Bottoms” (EUA, 2023); escrito por Emma Seligman e Rachel Sennott; dirigido por Emma Seligman; com Rachel Sennott, Ayo Edebiri, Ruby Cruz, Havana Rose Liu, Kaia Gerber, Nicholas Galitzine, Miles Fowler e Marshawn Lynch


Trailer do Filme – Clube da Luta Para Meninas

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