Existe uma sensação de realidade em Brighton 4th que extrapola qualquer fórmula que ele pense em ter. Afinal, o mundo de verdade é sempre mais fantástico, emocional e surpreendente do que qualquer ficção.
O filme da Geórgia acompanha esse ex-lutador que parece preso à sensação de estar ali para ajudar. Kakhi (Levan Tedaishvili) é um gigante com um coração maior ainda, tenta entender o problema com jogos do irmão, cuida da esposa machucada e decide largar tudo e partir para os Estados Unidos para ajudar o filho devendo dinheiro para um mafioso local.
Parece que o final você pode imaginar e até chega perto disso, mas antes disso Kakhi descobre esse pequeno mundo de imigrantes vivendo na pensão da nora. Não mergulha em nenhum tipo de ação, mas vai vivendo um pouco e escutando essas histórias. O poder do filme está nessa sinceridade e verdade.
Tedaishvili também é o diretor do filme e busca esses olhares reais em um mundo tenso, triste e destruído. Seu trabalho é ainda esteticamente forte e de uma segurança emocional incrível. Suas composições têm algo a dizer e constroem um filme belíssimo e cheio de personalidade.
Mas sem nunca perder essa tristeza, mesmo com um fio de felicidade. O pouco de felicidade do grupo vem das pequenas bebedeiras diante de uma realidade que só os espreme cada vez mais e mais.
Kakhi está lá para entregar o pouco de esperança para todas essas pessoas com as quais seu caminho cruza. Incluindo seu filho, um médico que não consegue o dinheiro para começar a praticar sua profissão nos Estados Unidos, mas continua perdido como um estranho dentro de um mundo estranho.
Kakhi e seu filho são personagens complexos, assim como todos à volta deles, e é isso que o roteiro de Borin Frumin procura: pessoas. Aos poucos Brighton 4th vai se permitindo ser um pouquinho sobre cada uma dessas pessoas, não procurando conflitos ou reviravoltas, mas sim a vontade de entender essas pessoas.
O elenco inteiro é incrível e todos soam sinceros e poderosos, mesmo com dores e complexidades que os colocam em um lugar acinzentado e difícil. É mais complicado ainda perceber o caminho que o filme segue, não por enfraquecer a trama, mas sim por rumar para um local triste, porém verdadeiro. Afinal nenhuma realidade precisa pedir permissão para a ficção para ser incrível, mesmo estando nesse lugar de ficção.
“Brighton 4th” (Geo/Rus/Bul/EUA/Mon, 2021); escrito por Boris Frumin; dirigido por Levan Koguashvili; com Levan Koguashvili, Giorgi Tabidze, Kakhi Kavsadze, Irakli Kavsadze, Tornike Bziava e Anastacia Romashko