Capitães de Zaatari | Crítica do Filme | CinemAqui

Capitães de Zaatari | O sonho do futebol


Entender a importância social do futebol passa por entender o conceito por trás de um grupo de garotos descalços ou de chinelos desgastados correndo atrás de uma bola improvisada com fitas no meio de um campo de refugiados na Jordânia. Capitães de Zaatari é sobre isso, por mais que seja difícil explicar.

O documentário dirigido por Ali El Arabi acompanha esses dois garotos, Mahmoud e Fawzi diante da oportunidade de disputarem um campeonato promovido por um programa de futebol que dá a oportunidade desses garotos irem até o Qatar jogar. Na verdade, lhes entregam um pingo de esperança.

Talvez mais do que “um pingo” e é isso que o filme busca de modo tão sincero e sutil. Ainda que seja um documentário, Capitães de Zaatari tem absolutamente todos os pontos necessários para que essa história tivesse saído da imaginação de um roteirista. Isso não quer dizer nada forçado, mas sim apenas real e mais impressionante do que qualquer ficção.

A câmera de Arabi ainda faz isso parecer menos documentário ainda. Seus personagens em cena parecem tão precisos em suas atitudes e diálogos que é difícil acreditar na completa não influência da câmera em cena. Talvez essa impressão seja verdade e o filme rume estruturalmente para onde o diretor quer tanto, mas mesmo assim, o resultado funciona tão bem que é impossível achar que tudo foi montado.

Com sua câmera baixa e rente à bola, o diretor faz o que muito diretor de ficção não consegue quando o assunto é o futebol: filmar direito uma partida, mesmo que essa seja em um chão de terra e sob o sol de uma esperança cercada de grades. Mas o futebol está lá, desprovido da racionalidade, mas profundamente repleto de expectativa por algo que vai além de qualquer campo de refugiados.

A fantasia de sair daquele lugar e se tornar um jogador famoso pode ser um sonho distante, mas a possibilidade de vestir um uniforme e representar algo, mesmo diante de uma situação tão opressora talvez seja o suficiente para mudar essas vidas. É isso que o filme de Arabi procura, enxergar a transformação de seus protagonistas junto com o grito de gol.

Essa realidade sem nação é sempre dolorosa, mas Arabi mantém sua câmera ligada, não só para ver esses garotos jogando com uma bola improvisada, mas também enquanto descobrem que o futebol muda a vida de ambos, mesmo diante das tristezas e necessidades.  Capitães de Zaatari dá então um pequeno salto para o futuro e descobre que sempre esteve certo: o futebol mudou esses dois garotos e ainda deve mudar a vida de diversos outros garotos.


Captains of Za´atari” (2021); dirigido por Ali El Arabi


O filme faz parte da cobertura da 45° Mostra de Cinema de São Paulo

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