E aqui uma pausa de irmãos Lumiere, Edison e trens chegando, é hora de falarmos de coisas chatas, técnicas, cheias de nomes difíceis e teorias científicas. Mas acreditem, só assim vocês entenderão como esse tal de cinema realmente funciona.
Por isso, lembre-se que seja Edison, Le Prince, Dickson, Bouly ou qualquer um dos Lumiere, o cinema só existe por causa da imperfeição do ser humano. Sim, é uma falha da nossa visão que explica essa ilusão do movimento, seja se “olharmos” pelo lado da ótica, seja se mergulharmos na psicologia. E como tem gente que não acredita na segunda (deviam!), o melhor é tentar entender primeiro o lado mais “científico” (sim, psicologia também é uma ciência, mas fica melhor assim na frase).
Voltando então para 1826, você encontra um cientista (na verdade, médico, teólogo e lexicógrafo) chamado Peter Mark Roget que apresentou um estudo falando sobre como você vê as imagens através das rodas das carruagens enquanto elas estão girando rápido. E nascia ai o conceito de Persistência da Retina.
Roget apontava a capacidade da retina de manter a imagem intacta por uma fração de segundo mesmo depois dela ter mudado. As células de sua retina enviam a imagem para seu cérebro, e mesmo depois dele receber o estímulo, a retina (teimosa ou lenta, como você preferir) continua mandando a imagem com um décimo de segundo (vulgo 0,1 seg.).
O “pulo do gato” está nessa imagem ser trocada em um tempo menor que esse, fazendo então que essas duas cenas estáticas se fundam no cérebro e ele acredite que quilo está em movimento, já que não ¿enxerga¿ o espaço entre elas.
Já o Efeito Phi, que tem um nome muito mais simpático e já é um estudo relacionado ao cinema propriamente dito, foi discutido em 1912, por Max Wertheiner. De acordo com ele, essa ilusão é de ordem psicológica, “Se dois estímulos são expostos aos olhos em diferentes posições, um após o outro e com um pequeno intervalo de tempo, os observadores perceberão apenas um único estímulo que se move da posição primeira para a segunda”.
O segredo da projeção do cinema está então nesse filme com várias imagens estáticas que passa em frente entre um obturador que abre e fecha e uma fonte de luz que apaga e acende em uma combinação menor que aqueles 0,001 segundo e que resulta no seu cérebro achando que essa imagem é continua.
Já a quantidade de frames por segundo e porque quando vemos filmes do começo do século eles parecem pular entre um frame e outro, a gente pode discutir mais para a frente em outro capítulo. Principalmente, pois antes disso o cinema ainda encontrou seu lugar entre as massas, filas nas bilheterias, estrelas e muita pipoca.
Confira mais Cinestória:
Capítulo 1 | Picareta, gênio, milionário e pop star ¿ Capítulo 2 | Bouly e Irmãos Lumiere