Clímax

Clímax | Violento, vil, difícil e incômodo


[dropcap]É[/dropcap] difícil julgar Gaspar Noé de modo simples. É mais complicado ainda apontar Clímax como uma simples experiência pretensiosa. Isso ele é mesmo, mas julgando pela carreira de Noé, quem disse que não é isso que ele quer? E quando o resultado é tão visualmente complexo e perturbador, fica impossível não celebrar o trabalho do diretor franco-argentino.

Essa provocação faz parte do cinema de Noé desde seu maior sucesso, Irreversível, portanto, não é surpresa que Clímax siga o mesmo caminho. Se essa é uma opção que agrada a todos, muito provavelmente não, mas é com certeza uma opção que não permite ninguém sair do cinema sem estar sentindo algo.

Nesse caso, um sentimento que pode beirar o desespero, aquela vontade de desviar o olhar ou apenas acordar de um pesadelo. Clímax chega exatamente nesse ponto, do pesadelo, onde Noé cria uma sequência perturbadoramente enorme, com a câmera invertida sob uma luz vermelha enquanto seus personagens se contorcem em um bailado infernal.

Esse terceiro ato é o resultado de uma história que envolve um grupo de dançarinos e um ensaio que durou três dias em uma espécie de escola vazia. O que é um incrível número de dança onde a câmera de Noé observa toda coreografia com a calma estática de um espectador, se transforma em terror quando os efeitos de uma sangria (bebida espanhola de vinho com frutas) batizada com LSD começa transformar tudo em terror.

Assim como o último filme do diretor, Love, Clímax não parece ter uma história que o empurre para muito mais que um curta metragem, assim, o que sobra é experiência. Love queria chocar com um pornô 3D, Clímax quer te jogar dentro de um pesadelo.

Não criar um filme alucinante ou psicodélico, apenas perturbador, onde, através de planos gigantescamente longos (existem cortes escondidos, mas a ideia é de um filme com o segundo e o terceiro atos sem cortes) que perambulam por essa escola enquanto observam a transformação desses personagens em criaturas ensandecidas.

Clímax

Clímax é violento, vil, difícil e incômodo, mais que tudo isso, é visceral e sabe o quanto é muito mais impressionante ser realista diante do peso de uma história tão perturbadora. Noé não deixa nem por um segundo você descansar enquanto vê seus personagens cometendo atos completamente descontrolados.

É lógico que a ideia de Noé, assim como em Irreversível e Love é chocar. Portanto, pensar que ele foi longe demais quando envolve grávidas, crianças e um incesto como subterfúgio para esses sentimentos, é o mesmo que entender que ele foi bem sucedido naquilo que se propunha.

No filme, o único grande nome do elenco é o de Sofia Boutella (de Kingsman), mas o mais importante é que Noé, de modo preciso, consegue fazer com que, em pouco tempo e com muita improvisação, o espectador se acostume e conheça cada um dos mais de vinte personagens. O resultado disso é entender perfeitamente de onde sai cada motivação animalesca movida pela droga. É fácil entender a razão de cada um estar fazendo aquilo, e isso é mais perturbador ainda, já que você se importa com todos eles.

Ao mesmo tempo, Clímax deixa essa impressão de ser apenas um experimento visual onde o objetivo final é te fazer virar o rosto (ou abandonar a sala de cinema). Se isso soa pretensioso, tudo bem, talvez seja esse o objetivo de Gaspar Noé, e isso faz disso tudo um acerto visualmente incômodo. Mas nunca entediante.


“Climax” (Fra/Bel/EUA, 2018), escrito e dirigido por Gaspar Noé, com Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub, Kiddy Smile, Claude-Emmanielle Gajan-Maull, Giselle Palmer, Taylor Kastle, Thea Carla Schott, La Vlamos e Sharleen Temple.


Trailer do Filme – Clímax

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