Enquanto cada dia mais os diretores de Hollywood mais se mostram reféns de grandes conflitos e reviravoltas, Cameron Crowe é um daqueles cineastas que vai na contramão, e Compramos um Zoológico é mais um exemplo desse tipo de filme que só quer contar uma história.
Nela, Matt Damon é Benjamin Mee, um bem sucedido escritor de livros de aventura que, após a morte da esposa acaba tendo que criar os dois filhos, mas, diante de tantas lembranças acaba decidindo mudar tudo e comprar, e colocar para funcionar, um zoológico falido.
É lógico que, assim, de modo distraído, Compramos um Zoológico não convenceria nenhum espectador a pisar dentro de um cinema e é ai que o nome de Cameron Crowe pesa, já que, especializado em dramas simpáticos e sensíveis como o sensacional Quase Famosos e o divertido Jerry Maguire, fica fácil apostar que, mesmo diante dessa história, coisa boa estivesse à espera. E, de certo modo, está.
Assim como em Quase Famosos Crowe então parte em busca dessa história, que, mesmo tendo um ponto de partida, não precisa de um conflito para chegar ao seu final, se sentindo mais que satisfeito em mostrar como esses personagens passam por essa história, por essa aventura real (o livro no qual foi inspirado foi escrito pelo próprio Mee, contando suas experiências). Diante disso, é normal que logo de começo Compramos um Zoológico não consiga fugir de todo “esquemão” de apresentar os personagens (principalmente pai e filho adolescente) tentando lidar com a perda, já que o único esforço ali é empurrá-los para essa nova casa.
Essa atitude meio blasée com o começo do filme, assim como fez em seu filme anterior Tudo Acontece em Elizabetown, de cara afasta um pouco a atenção de seu espectador, mas, por outro lado, sustenta, como uma pedra, toda personalidade deles (e também da filha, vivida por Meggie Elzabeth Jones, uma ótima candidata a próxima “Dakota Fanning” de Hollywood) e faz com que primeiro rugido do leão, enquanto eles buscam uma nova casa, não só de início ao segundo ato, mas dê abertura para que Compramos um Zoológico seja esse exercício sensível e divertido, que sabe contar a história da família, mas também encontra lugar para que o zoológico seja esse outro personagem que faltava para criar essa dinâmica.
Enquanto olha para esses personagens tentando dar a volta por cima, Crowe ainda dá ao seu filme um punhado de animais, uma equipe de funcionários e a corrida contra o tempo para reabrir o zoológico. De um lado, assim como no começo, Compramos um Zoológico se permite mais uma vez ser esquemático, apresentar alguns personagens estereotipados, um fiscal (o engraçado John Michael Haggins) para atrapalhar (mas que termina bobinho e sem graça) e algumas situações que pouco resumem, ou combinam, com o verdadeiro tom de Compramos um Zoológico, muito mais sensível e feliz do que, simplesmente, engraçado. Por outro lado a firmeza narrativa de Crowe sobre e todos esses escorregões pouco atrapalham.
Nesse meio, Crowe ainda acaba desperdiçando o interessante personagem vivido por Angus Macfadyen, um simpático e expansivo projetista do Zoológico, que acaba com pouco espaço, já que não se encaixaria nesse tom, ao mesmo tempo em que faz seu ex-astro de Quase Famosos, Patrick Fugit, aparecer demais, o tempo todo com esse macaco no ombro, a mão na cintura fazendo pose, e algumas pouquíssimas linhas de diálogo sem a menor importância.
Esse desequilíbrio, e essa procura por ser mais “comum”, não ajudam no ritmo de Compramos um Zoológico, que acaba ficando um pouco maior e cansativo do que deveria, talvez pelo medo de ser simplesmente um drama, sem gargalhadas e bobeiras, o que acaba se mostrando desnecessário, já que, no resto do tempo, da um verdadeiro banho de sensibilidade.
Com uma enorme preocupação em não deixar Compramos um Zoológico se tornar um passatempo melodramático e descartável, Crowe parece tomar pisar em ovos na hora de traçar a relação de Damon com a chefe de seu novo Zoológico, Scarlett Johansson, sem deixar que seu filme se torne uma simples história de amor ou um romance, do mesmo jeito que não permite que a morte de uma dos animais seja algo senão a analogia com o assunto vida e morte, que remete à mulher do protagonista, e não “um grande gatinho morrendo” para comover toda platéia (do mesmo jeito que se segura para não deixar nenhum segundo sequer que Johansson seja nada a não ser um mulher normal, e não um sex simbol de Hollywood).
É assim que Crowe então carrega seu filme, seguro do que quer contar sem se perder em subterfúgios e atalhos, contando essa história de cabo a rabo e tendo a certeza que o combustível de seu Compramos um Zoológico é essa aventura do pai que tem que esquecer seu passado, entender seu filho adolescente (que por sua vez precisa se encontrar nessa nova vida e ainda descobrir o amor diante da excelente Elle Fanning, de Super 8 e irmã da Dakota) e não decepcionar todas essas pessoas que dependem desse Zoológico.
Compramos um Zoológico é, por fim um filme sobre felicidade e não uma comédia com “bichinhos”, como muitos devem acabar esperando, assim como uma tentativa de não contar uma história sobre simples problemas, mas sim sobre suas soluções, seus modos de dar a volta por cima e continuar a vida seja o que quer que tente impedir.
We Bought a Zoo (EUA, 2011), escrito por Aline Brosh McKenna e Cameron Crowe, dirigido por Cameron Crowe, com Matt Damon, Scarlett Johansson, Thomas Haden Church, Colin Ford, Maggie Elizabeth Jones, Ell Fanning, Angus Macfadyen, John Michael Higgins e Patrick Fugit
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2 Comentários. Deixe novo
eu adorei o filme, fala de coragem, de se levar uma ideia adiante, mesmo com todos falando que não vai dar certo.
ADORE! RECOMENDO PARA TODA A FAMÍLIA.