Decisões de Risco Filme

Decisão de Risco | Thriller discute drones e o valor de uma vida

Abordando as novas estratégias e tecnologias envolvidas na guerra e na defesa, Decisão de Risco é eficiente tanto em seus aspectos dramáticos quanto de thriller — demonstrando bem a complexidade da situação aterradora que retrata e, enquanto isso, construindo personagens multifacetados mesmo que os conheçamos apenas por algumas horas.

A Coronel Katherine Powell (Helen Mirren) finalmente descobriu a localização de dois dos alvos mais procurados pela inteligência britânica — um casal de extremistas islâmicos, sendo que ela (Lex King) é uma cidadã britânica que se converteu à religião (ou melhor, ao fanatismo) do marido queniano. Quando os alvos chegam a um bairro dominado pelo grupo e descobrimos que eles contam com dois homens-bomba preparando-se para o ataque, a missão de captura ganha permissão para matar — algo que será feito através de um drone controlado de Nevada pelo piloto Steve Watts (Aaron Paul).

Tudo preparado — arma em posição, alvos na mira, riscos calculados. E então… Uma garotinha sai de casa, vira a esquina e monta sua barraquinha para vender os pães preparados pela mãe. Ela está na zona que será atingida pelo míssil — que, se for disparado, tem chances altíssimas de feri-la mortalmente.

Se os alvos extremistas não forem eliminados, a operação dos homens-bomba matará milhares de pessoas; o lançamento do míssil matará uma garotinha. Uma tragédia é muito mais extensa do que a outra, obviamente, mas… Como simplesmente justificar a morte de uma criança inocente, ali, naquele momento? Assim, a natureza do conflito mostra-se essencial para o envolvimento do espectador — continuar com a missão parece algo abominável, mas deixar de impedir o ataque que se dará logo em seguida, também. Mas Alia Mo’Allim (Aisha Takow) está ali, na nossa frente — e não é à toa que a cena de abertura acompanha a menina brincando, estudando e convivendo em harmonia com seus gentis pais. Conhecemos sua rotina, seu jeito, sua vida familiar — ela é um ser humano, não um número anunciado em uma manchete.

Alia pode não ser milhares de pessoas, mas ela é.. Alia. E, agora, seu destino está nas mãos de pessoas em outros continentes — “dê a essa garota uma chance de sobreviver”, diz um dos oficiais em Londres. A partir de então, segue-se uma série de discussões, telefonemas e videoconferências entre oficiais e representantes dos Estados Unidos e da Inglaterra — alguns tentando impedir a operação para salvar a criança, outros buscando justificativas e permissões para seguir adiante mesmo com o novo elemento na missão.

É resultado de um roteiro bem estruturado o fato de Decisão de Risco ser habitado por personagens reais, complexos. O filme, afinal, poderia facilmente ser movido apenas pela trama — mas isso, claro, diminuiria muito a sua eficiência, já que entendermos as motivações dos personagens é parte importante de nosso envolvimento com esta obra. E esta é uma daquelas histórias que, inevitavelmente, deixarão você pensando no que faria se fizesse parte daquela situação. O roteiro encontra espaço também para uma discussão do conflito do ponto de vista midiático — é melhor levar a culpa pela morte de uma criança ou deixar que milhares morram pelas mãos de terroristas, reforçando assim a urgência de combater os extremistas? — e de como as mídias sociais mudaram totalmente a cobertura de tais acontecimentos.

Decisões de Risco Crítica

E tudo se torna ainda mais complicado ao considerarmos que todos os envolvidos — exceto os alvos e Jama Farah (Barkhad Abdi), que atua como os olhos da inteligência em solo queniano — estão a milhares de quilômetros da ação. E isso também é explorado com cuidado; quando o Tenente-general Frank Benson (Alan Rickman) ouve um discurso sobre isso, destacando que é muito fácil para ele, “da segurança de sua cadeira”, tomar a decisão de permitir a morte de uma garota, ele responde que já viu a guerra pessoalmente, concluindo que a experiência de um soldado com a guerra, o sofrimento e a morte não pode ser questionado — para, então, sair da sala e receber de um subordinado a boneca que Benson havia pedido que ele comprasse para sua neta.

Dessa forma, Decisão de Risco coloca ambos os pontos de vista lado a lado — mas prova que há, sim, algo perturbador em ter a vida ou a morte de alguém a milhares de quilômetros de distância dependendo daquelas pessoas. Se o roteiro de Guy Hibbert é responsável pela tensão e complexidade, Gavin Hood conduz a direção com segurança — mesmo revelando-se apenas competente na função.

O elenco, por sua vez, mostra-se homogeneamente talentoso, transmitindo as características, sentimentos e emoções de seus personagens de forma discreta. Helen Mirren e Alan Rickman dominam a narrativa com sua segurança e competência — e Rickman só ressalta a falta que fará ao cinema. Aqui, os oficiais e representantes fazem seu trabalho de forma natural — frequentemente demonstrando a tensão e o nervosismo da situação, mas sem ceder a excessos de raiva ou ataques de choro. É interessante notar, por exemplo, o contraste entre a conversa entre Watts e Carrie Gershon (Phoebe Fox) quando eles chegam à base em Nevada — conversando animadamente sobre suas carreiras na Força Aérea e conhecendo um ao outro — e quando eles saem de lá a caminho de casa — caminhando lado a lado, em silêncio.

Decisão de Risco é um filme que não toma caminhos fáceis, mais interessado em explorar a fundo suas temáticas do que em simplesmente retratar uma situação tensa com o único intuito de manter o público preso à cadeira. Uma produção digna da complexidade a que se propõem.


“Eye in the Sky” (Reino Unido, 2015), escrito por Guy Hibbert, dirigido por Gavin Hood, com Helen Mirren, Alan Rickman, Aaron Paul, Phoebe Fox, Barkhad Abdi, Lex King, Iain Glen e Aisha Takow.


Trailer – Decisão de Risco

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