Desaparecida (2018) | Crítica do Filme

Desaparecida | Era melhor que ficasse perdida


Uma das piores coisas que podem acontecer com uma história é ela não se permitir sair das jaulas que a criatividade fica presa quando fica perto demais de um gênero. Desaparecida é tão refém de seus clichês que é impossível acompanha-lo com qualquer interesse.

O filme é a adaptação de uma obra da escritora argentina Florence Etcheves, na verdade, uma série focada na presença do detetive Francisco Juárez, que nesse terceiro livro “passa o bastão” para a policial Pipa (Luisana Lopilato), que aparece no segundo livro. De qualquer jeito, Desaparecida parece ser um daqueles exemplos de uma boa história que funciona nas páginas, mas perde a força no cinema.

Uma estrutura com cheiro de literatura, onde o foco da trama pode passear através dos capítulos buscando o ponto de vista de seus personagens enquanto monta um cenário maior. Uma lição que muita gente não consegue entender no cinema. Nem o roteiro escrito pelo trio Jorge Maestro, Alejandro Montiel e Mili Roque Pitt, nem o diretor Alejandro Motiel, entendem isso.

Desaparecida é disperso. Vai e volta demais no tempo, na maioria das vezes, pois não consegue encaixar na linha central as informações e o suspense necessários para contar sua história. O filme começa anos atrás, acompanhando um grupo de jovens em uma excursão para a Patagônia, depois pula no tempo para acompanhar a detetive Pipa abraçando os clichês do gênero e se permitindo ser uma daquelas personagens bidimensionais que o gênero adora.

Ela não gosta do parceiro, trabalhar melhor sozinha, invade a casa do sequestrador, dá uma surra dele, não quer falar com a imprensa, lida mal com hierarquia e leva todos casos para o pessoal. Nesse caso, ela faz parte de uma unidade que lida com tráfico humano. O que é uma “mão na roda” para o resto da trama.

Pipa é assombrada pelo passado, precisa lidar com o desaparecimento da melhor amiga mais de uma década atrás (Patagônia, lembra?). É em um missa para a amiga que ela começa a desconfiar que o caso talvez precise ser reaberto. Sobre o “tráfico humano”, é só esperar mais um pouquinho que toda trama convenientemente converge para esse assunto.

Portanto, Desaparecida é preguiçoso em tantos sentidos que dá sono até de acabar esse parágrafo. E quando um dos vilões surge com uma tatuagem na careca, um bigode excêntrico e uma cicatriz na cara, toda esperança de um filme interessante é esmagada por uma tonelada de estereótipos.

Infelizmente isso tudo faz com que a ideia interessante, tanto dos traumas da protagonista, quanto da história da vilã (que surge logo depois, meio languida, porém perigosa), sejam embaralhados nessa trama que se arrasta sem surpresas. A resolução é tão óbvia que seria muito mais eficiente se ela fosse discutida logo no começo do segundo ato, deixando então o final da história para o confrontamento e não para uma surpresa que surge fraquinha e desinteressante, principalmente, pois é colocada sobre ela a responsabilidade de salvar o filme. Não salva.

Toda essa experiência intelectualmente desestimulante ainda é completada por um elenco extremamente fraquinho e uma trilha sonora ainda mais frouxa e molenga, daquelas que começa a gritar na cena antes mesmos dos personagens sentirem qualquer coisa. Já o espectador, sente sono.

A última esperança de Desaparecida poderia ser o trabalho de Alejandro Motiel, que começa bem, apresenta um filme bonito, próximo das jovens, esteticamente imediato e plasticamente impactante, assim como um plongee alto da busca pela desaparecida, mas já no corte seguinte, a própria multidão se torna comum, com uma composição sem graça e que marca o resto do filme.

As pessoas na floresta encontram uma pista importante, mas do lado de fora do filme, o espectador só tem o que lamentar, antes não tivessem encontrado nada e o filme acabasse ali mesmo.


“Perdida” (Arg, 2018); escrito por Jorge Maestro, Alejandro Montiel e Mili Roque Pitt; a partir da obra de Florencia Etcheves; dirigido por Alejandro Montiel; com Luisana Lopilato, Rafael Spregelbud, Juan Ignacio Cane, Amaia Salamanca e Oriana Sabatini


Trailer do Filme – Desaparecida

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