Don Juan | Expõe mediocridade dos dias presentes

A figura de Don Juan vira e mexe é desconstruída, o que tem acontecido bastante nas últimas décadas. Aliás, desconstrução, ou destruição, é a atividade primordial da geração atual, preocupada em desfazer o que foi dito, escrito, visto e pensado ao longo dos séculos. Vivemos na era da destruição sistemática do pensamento, o que pode render bons frutos para críticas válidas, mas na maioria das vezes apenas expõe a mediocridade presente.

No entanto, o cinema ou toda arte merece esse momento de se reavaliar através dos tempos que sempre mudam. Seja uma obra nova ou velha. Nesse caso é uma nova. Um filme francês que apresenta um personagem-título inspirado no arquético da literatura espanhola completamente perdido. Se trata de um papel e “função” em eterno contraste com sua felicidade.

Ele é Laurent (Tahar Rahim), um ator que pela primeira vez pegou um protagonista em uma peça e foi justamente um Don Juan. Porém, isso tem atrapalhado a relação com a noiva (Virginie Efira). Tanto que ela não conseguiu comparecer ao casamento. Foi mais forte que ela. E serve de momento-chave no filme, quando o drama é apresentado, já de forma teatral e cantada.

A partir desse enredo acompanhamos o comportamento inadequado da figura de Laurent, que diz estar focando em seu papel enquanto constrange mulheres na rua. É um pacotão sobre a visão dos novos tempos do impacto da sedução masculina sob o prisma feminino. E a interpretação de Tahar Rahim é exemplar. O sujeito é um falastrão. Sua dicção e seus trejeitos favorecem nossas risadas quando percebemos de imediato cada uma das cantadas que nunca irão funcionar.

O filme não é apenas sobre abordagens a estranhas na rua, mas também da responsabilidade nos relacionamentos quando se está em um. E temos a figura de um pai que perde sua filha depois que seu namorado a abandonou. Aliás, interpretado por Alain Chamfort, é a figura masculina mais fascinante do filme, pela simpatia do ator e pelo seu tom paternal. Mas até ele precisa pisar em ovos para abordar uma mulher e avisá-la dos perigos de ser abandonada.

Don Juan são esses contrastes colocados todos em torno da peça homônima. É metalinguagem para tentar compreender a “obra” original, mas no meio se perde nas digressões do mundo moderno. Também é um musical, o que evoca os romances americanos e, como tudo hoje em dia, os destrói. Podemos arriscar que faz até uma certa questão sádica ao fazê-lo.


“Don Juan” (Fra/Bel, 2022), escrito por Serge Bozon e Axelle Ropert, dirigido por Serge Bozon, com Virginie Efira, Tahar Rahim e Alain Chamfort.


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Trailer do Filme – Don Juan

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