No livro de Bran Stoker, a viagem do Demeter dura seis páginas. O próprio personagem título dá a cara duas ou três vezes durante essas páginas, “retiradas do diário” do Capitão da embarcação que nem nome tem (afinal ele está escrevendo e não faria sentido citar o próprio nome). Mas Drácula – A Última Viagem do Demeter (o filme), vai além de tudo isso. Azar de todo mundo.
Mas ainda assim a ideia é boa, fazer virar filme esse pequeno episódio que é absolutamente clássico e é lembrado em praticamente toda adaptação (oficial ou não) da obra de Stoker. O momento em que o monstro da Romênia chega até a Inglaterra e deixa o barco chegar até seu destino sem tripulação.
Portanto, a curiosidade de participar dessa viagem é sempre interessante. No caso do filme, Liam Cunningham é o Capitão Eliot, Woody Norman é seu neto, Toby, e David Dastmalchian é seu imediato, Woljchek. O resto da tripulação é descartável, a não ser Clemens (Corey Hawkins), um médico negro que consegue ir com eles de volta para a Inglaterra e surge como protagonista.
Já o Demeter é contratado para carregar um monte de caixas misteriosas até o um advogado de Whitby, Sr. S. F. Billington. Mas isso não vem ao caso, o importante é que a tripulação começa a sumir, os sobreviventes passam a desconfiar de um mal dentro do navio e, aos poucos, isso vai ficando mais claro e eles começam a trombar com essa figura esquisita e sugadora de sangue. Depois disso, o resto todo mundo já imagina.
A história ficou nas mãos de Bragi F. Schut e Zal Olkewicz. O primeiro nos últimos anos escreveu Samaritano, os dois Scape Rooms e Caça às Bruxas (aquele com o Nicolas Cage). O segundo assinou a segunda parte de Rua do Medo e ainda Trem-Bala (aquele com o Brad Pitt). E se é difícil se empolgar com qualquer uma dessas citações, imagine com Drácula – A Última Viagem do Demeter.
Para começo de conversa, o melhor para o filme seria tirar o “Drácula” do título e deixar isso quase como um easter egg. Mas não o faz, durante todo o tempo o filme grita “Drácula” e mostra demais o dito cujo. Para sorte do espectador, os efeitos visuais são interessante e o pessoal do design de produção é esforçado, mesmo diante da óbvia falta de dinheiro para ir além daquilo.
Mas enquanto o visual funciona, nem os roteiristas, nem o diretor André Øvredal, conseguem levar adiante a sua principal referência. É lógico que não estamos falando de Drácula, mas sim do Alien de Ridley Scott. Mas enquanto Scott esconde sua criatura e deixa sua tripulação sentir a tensão daquela presença, André Øvredal, só quer saber mesmo de empurrar seus personagens através de soluções e ideias preguiçosas até chegarem nas noites para o Drácula atacar e mais um personagem morrer.
Só isso mesmo. Cena após cena até chegar na Inglaterra. E vai chegar vazio, porque você já sabe disso (o começo do filme acompanha a chegada do Navio… e todo mundo já viu algum Drácula). O resultado é chato e previsível. E se não fosse uma ou outra surpresa envolvendo um pessoal pegando fogo, o filme nem bem sairia de uma dinâmica absolutamente repetitiva e preguiçosa.
Mas também é bom lembrar que Liam Cunningham entrega absolutamente tudo que o personagem poderia e mais um pouco. Infelizmente tem tão poucas cenas que nem isso salva o filme como passatempo. É impossível se divertir mais do que se irritar com esse Drácula – A Última Viagem do Demeter. E mais difícil ainda acreditar na cara de pau dos realizadores de terminar o filme com um gancho para uma continuação. E para a surpresa de todos, uma sequência que não é aquela escrita pelo Bran Stoker, humildemente tentando melhorar o clássico?
“The Last Voyage of The Demeter” (EUA, 2023); escrito por Bragi F. Schut e Zak Olkewicz, a partir do livro de Bran Stoker; dirigido por André Øvredal; com Corey Hawkins, Aisting Franciosi, Liam Cgunningham, David Dastmalchian, Chris Walley, Stefan Kapicic, Woody Norman e Javie Botet.