Duas Irmãs, Uma Paixão Filme

Duas Irmãs, Uma Paixão

Existe um problema que persegue toda e qualquer biografia: sua universalidade. Um inimigo que talvez seja a principal adversidade do alemão Duas Irmãs, Uma Paixão, que decorre sobre a vidaposts do famoso poeta e escritor Friedrich Schiller.

Célebre muito mais pelos lados da Europa, principalmente em seu próprio país e talvez na França no máximo (já que inspirou muitos durante a Revolução Francesa), mas ainda assim renomado. E mesmo que no final das contas ele não seja o foco principal do filme, fica óbvio o quanto de fora da Alemanha pode ser fácil o espectadorDuas irmãs, Uma Paixão Poster ser menos levado pela (provável) enorme quantia de referências e personalidades.

Mas como o próprio título diz, o filme do experiente diretor Dominik Graf é sobre duas irmãs aristocratas, Caroline e Charlotte von Lengefeld. A segunda, por ventura, vem a se tornar esposa de Schiller. Mas um relacionamento que ao passar dos anos e séculos acabou ganhando status de triângulo amoroso, já que uma série de cartas e situações dão a entender que tanto ela, quanto sua irmã Caroline, tinham um relacionamento com o poeta.

Um ponto de partida para o competente roteiro também escrito por Graf, que ainda faz ótimo uso dessas famosas cartas como parte incisiva de sua trama. Um modo então interessante de posicionar melhor ainda o espectador dentro daqueles dias. Algo que ajuda ainda mais a completar o belo trabalho de recriação de época. É fácil então mergulhar na Alemanha do século XVIII enquanto acompanha essa história sobre amor e seus limites.

Uma imersão que fica ainda maior graças à habilidade estética de Graf em criar planos plasticamente fortes. Sempre trabalhando com composições abertas e que valorizam aquele mundo ao redor de seus personagens. Um mundo que só se fecha diante da paixão dos personagens, da proximidade das duas com Schiller.

Um cuidado estético que fica claro na maior parte do tempo, mas que também faz com que certos escorregões pulem aos olhos de modo incrivelmente graves. Ainda que criativos e aproximem demais os personagens do espectador, toda vez que Graf recorre a uma opção de encarar de frente seus personagens, quase tirando-os do universo diegético e deixando seus olhares cruzarem com o público a impressão que fica é de uma falta de imagem melhor para colocar ali. Por sorte esses são momentos menores e a estrela do filme acaba mesmo sendo seu andamento.

Uma trama que sabe caminhar por um conflito de cada vez ao invés de uma reviravolta que tornaria o filme refém de uma surpresa. Duas Irmãs, Uma Paixão ainda assim sofre com um ritmo lento demais. Talvez por um lado repetitivo que a troca de cartas traz consigo, principalmente por (aparentemente) usar o material original, ou simplesmente por deixar que cada pequeno arco dramático se afaste demais do objeto principal do filme: as duas irmãs.

Duas Irmãs, Uma Paixão Crítica

Uma impressão de falta de interesse cada vez que o roteiro decide focar, por exemplo, em Schiller, suas aspirações poética, o quadro sócio-político fora daquele cenário imediato e até quando Caroline decide publicar sua obra (ainda que de modo anônimo) na famosa revista Die Horen. Mesmo curiosos e interessantes, cada um desses momentos só te fazem lembrar o quanto o filme é sobre a relação das duas, e não sobre aquilo tudo.

Um arco dramático extremamente interessante, já que vai da paixão e dependência total a quase um desprezo. E isso por meio de um roteiro sutil, que aposta na inteligência do espectador para juntar todas nuances e mudanças para completar esse quadro.

Por outro lado, assuntos que poderiam ser discutidos mantendo a proximidade das protagonistas parecem acabar sendo ignorados, como por exemplo a dependência feminina diante da figura do homem, ou até qualquer preocupação em julgar esse triângulo amoroso. Ainda que em certos momentos ele fique bem claro para todos à volta deles. Dois assuntos modernos para a época, mas que são deixados de lado.

Talvez por que Duas Irmãs, Uma Paixão seja só um esforço para ocupar o olhar perdido de Charlotte na cena de abertura. Ou simplesmente um empenho em descobrir que no final das contas, na penumbra, velando Schiller, as duas irmãs são uma mesma pessoa. Mas tudo isso cercado de um interesse histórico que fica um pouco de lado longe de terras germânicas, ainda que funcione em parte por se tratar de um assunto tão universal como o amor.


“Die Geliebten Schwestern” (Fra/Ale, 2014), escrito e dirigido por Dominik Graf, com Hanah Herzsprung, Florian Stetter, Henriette Confurius, Claudia Messner e Ronald Zehrefeld


Trailer – Duas Irmãs, Uma Paixão

*CinemAqui convidado pelo Cine Roxy para cobrir a Itinerância
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