Editorial | Qual o impacto do coronavírus nos cinemas?


[dropcap]E[/dropcap]ra óbvio que essa pandemia iria atrapalhar os calendários de estreias dos filmes pelo mundo todo. Por isso, se você não sabe o que ainda vai acontecer com o cinema e o que vai conseguir ver em 2020, vamos dar uma olhada nos principais filmes que acabaram perdendo sua data de estreia e tentar entender o que sobrará de cinema depois que essa crise passar.

Uma das primeiras vítimas do Coronavírus foi o novo filme do James Bond. Sem Tempo Para Morrer tinha estreia prevista para abril, mas não demorou muito para a MGM decidir que isso, decididamente, não iria acontecer. O filme ficou para novembro, mas mesmo assim ninguém sabe se será possível. Nem esse, nem nenhum filme.

Sem tempo para morrer será o último filme estrelado por Daniel Craig no papel do espião à serviço de sua majestade. O filme é dirigido por Cary Joji Fukunuga, mesmo cara que dirigiu os oito episódios da primeira temporada de True Detective e também assinou o drama da Netflix, Beasts of No Nation, que se você não viu, devia ir ver.

Quem também ia estrear e ficou cancelado, foi o terror Um Lugar Silencioso – Parte 2. O filme foi mais uma vez dirigido por John krasinski, que falou sobre a mudança de data, lembrando “o quanto o primeiro filme era uma daquelas produções que todos gostam de ver em galera e que, já que isso não seria possível agora, o melhor é esperar para que todo mundo pudesse ver o filme junto”. O que é bem simpático se a gente não soubesse que eles não querem mesmo é perder dinheiro.

Um Lugar Silencioso – Parte 2 iria estrear em março, enquanto Velozes e Furiosos 9 chegaria aos cinemas em maio. A surpresa de Velozez 9 é que o filme foi logo jogado para o longínquo dois de abril de 2021. A explicação disso pode até ser a agenda apertada da universal, mas soa bastante como a mais pura insegurança, já que ninguém irá querer disputar espaço no segundo semestre com tanto filme sendo jogado para lá.

Falando em segund semestre cheio, quem vai ter que se virar para encaixar tudo na agenda é a Disney. Logo de cara, três de suas maiores estreias no ano tiveram suas datas canceladas: O live action de Mulan, o tão atrasado Novos Mutantes e o terror Espíritos Obscuros (que no original se chama “Antlers”… e parece ser um nome muito mais interessante e menos genérico do que a versão brasileira).

Mulan ainda não tem data marcada para estrear, e Novos Mutantes quase ninguém mais acreditava que iria estrear um dia, já que, herdado da Fox, talvez seja a quarta vez que ganha uma nova data de estreia.

Por fim “Antlers”, que é dirigido pelo mesmo Scott Cooper, de Coração Louco e Tudo por Justiça. Ambos ótimos e que em tempos de quarentena mereceriam que vocês procurassem por eles. Ainda na Disney, o Marvel Cinematic Universe (MCU) também vai sofrer um atraso / já que o filme solo da Viúva Negra também foi empurrado mais para frente.

E esses atrasos não ficarão só nos filmes que estavam prestes a estrear, talvez a maior bagunça será em um futuro não muito distante. Toda programação de 2021 dos estúdios deve acabar comprometida e isso ainda deve dar muito o que falar.

O novo Batman parou as filmagens, assim como o sétimo Missão Impossível e o próximo Jurassic Park, o que deve atrasar o cronograma de muitos estúdios grandes, já que essas estreias ditariam os rumos de diversos calendários. O próprio Avatar 2, que deveria estrear em dezembro de 2020, com certeza não irá cumprir essa data, já que parou a produção e só não teve ainda a estreia postergada, por falta de tempo. E isso quer dizer que as outras duas sequências também devem atrasar, já que James Cameron está filmando tudo junto.

Voltando ao MCU e à Disney, o filme do “mestre do kung-fu”, “Shang Chi and The Legends of the Ten Rings”, está com as filmagens interrompidas, assim como o começo da produção da versão live action de A Pequena Sereia foi interrompida. Matrix 4 tinha acabado suas filmagens em São Francisco, mas teve que parar a produção antes de ir para Berlim acabar a fase de captação imagens.

A lista de filmes que estão parados e que terão suas estreias mudadas é enorme e, muito provavelmente, ela não deve acabar de crescer tão cedo. Assim como esse texto deve se tornar ultrapassado em questões de minutos, mas é preciso olhar para o cenário maior.

O Festival de Cannes, por exemplo, também foi congelado, ele iria acontecer entre 12 e 23 de maio, mas agora não tem nem data e nem certeza de que irá ser realizado em 2020. O problema é que não estamos falando só de um monte de filmes que não irão passar na França, mas sim da, talvez, maior feira de negócios cinematográficos do mundo. Existe uma rede de negócios enorme em Cannes, onde distribuidoras, produtoras, cineastas, artistas, enfim, todo mundo praticamente decide o que vai rolar no cinema e de um monte de filmes nos próximos meses através dessas negociações em Cannes.

Portanto, não se enganem, o cinema não será o mesmo depois dessa pandemia do Coronavírus, ao menos não por um bom tempo. Se preparem para um período conturbado de estreias com distribuições esquisitas, campanhas de marketing pouco eficientes, grandes estreias encavaladas e filmes caindo diretamente nos serviços de streaming .

Isso pode ficar pior ainda se essa quarentena durar mais tempo que os cinemas e redes de salas consigam suportar. Muita gente deve acabar fechando as portas ou diminuindo sua capacidade de exibição, consequentemente, menos salas para os filmes estrearem.

Pior ainda se você lembrar que uma das principais vítimas do Coronavírus é, justamente, a China, hoje segundo maior mercado de cinema do mundo, tanto em termos de bilheterias, quanto de investimento. Isso deve acabar tirando alguns bilhões de muitas produções e ainda diminuindo drasticamente as bilheterias de muita gente que estava contando com os chineses para salvar os próprios números.

Os especialistas do mercado apontam que essa crise possa custar às bilheterias uma perda ao redor de US$ 5 bilhões.

Por definição, o cinema é uma arte coletiva e globalizada, é impossível fazer cinema sem o contato com as pessoas e as viagens pelo mundo. Por unanimidade, todos pararam as produções sabendo o quanto o cinema seria um vetor natural. A saúde acabou ficando em primeiro lugar e todos esses caras merecem uma salva de palmas por isso, afinal, entenderam suas responsabilidades e irão enfrentar uma tonelada de problemas no futuro. Terão que conviver com uma indústria frágil e que irá tropeçar por aí por um bom tempo antes de se recuperarem por completo.

Por outro lado, dessa crise toda, dessa quarentena que está prendendo em casa centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro, pode ser que muito filme ganhem uma segunda chance e mais gente veja mais filmes. Sim, sentados em casa, sem poderem ir para lugar nenhum, muita gente irá ver filmes e isso pode ser bom para que esse maior interesse momentâneo ajude a indústria do cinema a dar a volta por cima em todos cantos do mundo. Hollywood, China, Brasil e todo lugar que produz filmes vai precisar da ajuda dos fãs do mundo inteiro para que essa crise seja um pouco menor do que todo mundo espera que ela seja.

O Coronavírus colocou o cinema dentro de um thriller de suspense onde ninguém sabe o que irá acontecer quando você virar a esquina. Talvez seja difícil ainda ter esperança, mas mesmo assim, como em um bom filme de Hollywood, tudo no final irá dar certo depois do “eu te amo” no aeroporto ou da luta sangrenta contra o vilão. E nesse momento, o que devemos fazer é esperar enquanto assistimos tudo de dentro de nossas casas, quem sabem vendo um bom filme na televisão.

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