Em Meus Sonhos | Sem a altura da Mostra


Em Meus Sonhos é um filme turco independente desta Mostra de São Paulo em formato de streaming e não me parece o tipo de filme que entraria em uma seleção com sessões no cinema. Tem mais cara de filme lançado direto para TV. Que quase ninguém assiste. Se você tem esse perfil de ficar com insônia na madrugada, talvez dê de cara com com ele em algum “Corujão da vida”, porque o dono da emissora comprou um pacotão de filmes e veio esse de brinde.

Experimental em sua narrativa, gira em torno de um garoto que perde o pai em um acidente de carro e coloca a mãe em coma. Com apenas oito anos, estas são “férias” forçadas para o pequeno Tarik, que passa a viver com seus avós em um vilarejo que mantém muitos dos costumes culturais e religiosos da região.

Este é um filme onde o tema da morte acaba sendo abordado algumas vezes, mas quase não soa proposital. O louco da vila perdeu a amada antes de se casarem, e mesmo décadas depois conversa em seu túmulo. Uma burra é atropelada e vem a falecer, e seu filhote agora tem os dias contados, apesar dos esforços de Tarik e o louco conseguirem leite com todas as crianças.

Tarik vive suas férias sonhando em reencontrar sua mãe. Cada novo momento do longa é entrecortado com esses sonhos. E o garoto acorda: está na casa dos avós. Ele desenvolveu amnésia no acidente e não consegue se recordar o que aconteceu, e não fica claro, mas aparentemente nem de seus pais. É como se ele fosse uma nova criança e que tem que ser ensinada tudo pela geração retrasada, que é o que seu avô, idealista e tranquilo, faz sempre que surge a oportunidade.

O garoto faz amizades com o grupinho local de garotos e logo o filme vira um rito de passagem. A galerinha passa o tempo entre os pequenos eventos de uma vila do interior. O filme não parece nem um pouco interessado em tomar um rumo e seus personagens mal se dão conta de nos chamar a atenção. Quase não dá para perceber que tem um filme passando, não fossem as tentativas pedestres de seu diretor, Murat Çeri, em se colocar entre o espectador, este limitado universo e o elenco amador.

Mas por isso mesmo digo que ele é feito para TV, onde o espectador de sofá pode se distrair e não perder nada; mas para uma mostra de cinema fica devendo aos cinéfilos, um público que costuma ser mais exigente com a linguagem. Eu, por exemplo, não encontro nada que possa comentar que possa ter passado despercebido pelo público comum. Este texto é apenas uma carta aberta de indignação. E uma dica para os que têm insônia.


Bir Düs Gördüm (Tur, 2020); escrito e dirigido por Murat Çeri; com Harun Reha Pakoglu, Recep Çavdar, Nevzat Yilmaz, Ferda İşil, Ismail Hakkı Ürün


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