Cinquenta Tons de Ódio

Especial: Cinquenta Tons de Ódio

 

Assistir Cinquenta Tons de Cinza em uma sala de cinema, para um adulto, dá na mesma que espiar sua irmãzinha pré-adolescente assistindo a um filme pornô pela primeira vez. Isto é, não era para você estar lá e o desconforto é total e sufocante.

O livro que deu origem ao filme foi escrito por uma fanática por Crepúsculo, Ericka Mitchell (posteriormente E.L. James), (não, isso não é piada) e é o resultado do desenvolvimento de um texto fanfiction de Crepúsculo escrito pela mesma. Agora, o mais chocante, a autora tem 51 anos. 51. Anos.

E que tal debatermos os problemas gritantes do filme? É certo que o problema não reside nos atores, que até se esforçam. Mas, de fato, e inegavelmente, a maior parte das atrocidades vem do roteiro que – surprise surprise – é uma adaptação consideravelmente fiel ao livro acima citado.

Então vamos lá: por que eu acho 50 Tons abominável?

Cinquenta Tons de Ódio

1) Os Diálogos
Seguindo a mesma linha de Crepúsculo, mas indo muito além, os diálogos entre os personagens são tão completamente inverossímeis que é impossível se envolver com o acontece. As conversas soam tão deslocadas que seria mais provável ver alguém falando como se tivesse saído de um livro de Shakespeare do que pronunciando as falas do filme.

Mas uma comparação melhor talvez sejam as novelas mexicanas. Já assisti a novelas mexicanas com diálogos mais complexos e inteligentes do que os que presenciamos nesta catástrofe. E, que fique claro, isto não é um elogio às novelas mexicanas!

2) Os personagens

2.1) Christian Grey
Ele se define como alguém que “entende pessoas” e é com isso que gerencia seu império multibilionário. Entretanto, o moço tem habilidade zero em seduzir mulheres tratando-as como meros negócios. É óbvio que isso tem a ver com o item 3 diretamente. Mas discutiremos isso mais à frente. A questão é que ele mal tenta conquistar Ana (ou qualquer outra mulher), ele simplesmente as compra. Até aí, tem muitos milionários que certamente fazem isso, mas não tão descaradamente. E certamente, mesmo por dinheiro, nem toda mulher aceitaria fazer o que ele pede.

Vale lembrar que, da forma como ele trata as mulheres, com ou sem NDA (Non Disclosure Agreemente, que é o contrato para não abrir o bico), TODAS chantagiariam ele sem dó após terminarem o relacionamento. E isso estaria rolando forte, no mínimo, como rumores na mídia. O que faz com que toda essa questão do sigilo seja furada a torto e a direito.

2.2) Ana
Ah, Anastasia. Uma mulher que visivelmente está molhada o filme inteiro – e não me refiro à água aqui, embora haja algumas cenas de chuva – é algo difícil de engolir.

3) Incoerências
Falando em personagens não serem o que dizem ser, que tal analisarmos as coisas que Grey diz?
– Ele nunca dormiu na mesma cama com uma mulher. (Ele faz isso na PRIMEIRA noite com Ana.)
– Ele nunca se envolve com as mulheres com quem sai. (Ele tem sentimentos por Ana desde a PRIMEIRA VEZ que a vê.)
– Ele tem regras que sempre faz as mulheres cumprirem. (Ana pinta e borda nas regras.)

Ah, podemos dizer que o “amor à primeira vista muda tudo”. Ok, mas se isso fosse verdade, ele não teria reação de repulsa ao toque de Ana. O fato é que ele está tão condicionado a estes e outros costumes que seria impensável que ele conseguisse mudá-los tão rapidamente (leia-se: instantaneamente).

4) O Sexo
Mulheres gemendo alto sem sequer serem tocadas é coisa de filme pornô. Especialmente quando isso acontece em todas as cenas. Mas os problemas em relação às cenas de sexo vão além disso. Desde os clichés hollywoodianos básico – em que os “movimentos” em nada lembram uma transa de verdade – passando por novos níveis de bizarrice onde…

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5) O Sadismo
…podemos ver um sádico carinhoso. P*ta que pariu! Um sádico carinhoso!!!!!!!!!

Sugiro uma visita a sites educacionais como Youporn, Redtube ou outros similares (me enviem um email caso precisem de mais referências nesta área), pois o que vemos no filme é uma piada. O que mais impressiona, no entanto, é que após todas as “reuniões contratuais” com Grey, todas as conversas e discussões sobre o tema, e após ver com os próprios olhos a sala de jogos do magnata, assim como pesquisar (a pedido dele!) na internet sobre sadomasoquismo, na PRIMEIRA VEZ que Ana recebe uma boa surra dele, ela se sente indignada.

WHAT THE FUCK?!?!?!?!?!?!?!

a) Ela é deficiente mental no livro e esqueceram de explicar isso no filme? Ou b) simplesmente nós, espectadores, temos que aceitar esse conflito que não poderia possivelmente ser mais forçado do que isso? Adivinhe qual a resposta correta.

6) Ana. De novo.
Ela é uma mulher de 25 anos. Linda. Inteligente. Corpão. E virgem. (O filme ainda tem a pachorra de ameaçar deixar subentendido que ela é BV!)

7) Ainda não consegui absorver o argumento número 6…

8) A trilha sonora.
A trilha criada por Danny Elfman (que eu adoro) aqui certamente entra na lista de seus piores trabalhos ao falhar grotescamente no tom, chamando atenção exatamente por destoar do clima do que acontece na tela.

Mas a cereja deste bolo azedo vem mesmo na utilização de músicas melodiosas durante as cenas de masoquismo. As letras podem, em sua maioria, até combinar com o filme, mas quando uma das cenas mais pesadas do longa tem a Beyoncé cantando ao fundo é porque realmente entramos em outra dimensão e ninguém se deu ao trabalho de me avisar.

Cinquenta Tons de Ódio

9) As mensagens de texto em português
As trocas de mensagens feitas pelo celular entre o casal são todas trocadas por suas versões em português na tela. Isto é, a tradução não é feita através de legendas.

Por que isso é idiota? Porque esse espectador escolheu propositadamente ver o filme legendado, isto é, ver sua versão original com legendas. Desta forma o espectador que não quis ver o filme dublado – e escolheu por pagar para ver a versão original – está, mesmo assim, perdendo parte do filme original.

Ok, ok, isso não é culpa dos realizadores do filme, mas da distribuidora internacional que fez essa porcaria. Ainda assim é surpreendente que isso aconteça bem em um filme que já é um lixo.

10) A direção.
Brincadeira. A diretora Sam Taylor-Johnson faz o que pode. O filme visualmente é até aceitável, embora nada sútil. (O sol se pondo pode ser visto pela janela do apartamento de Grey quando os dois estão se conhecendo e, mais tarde, após uma briga, a mesma tomada é construída com chuva ao fundo. Inteligente, né?)

11) Pedofilia.
Achar que transar com um adolescente de 15 anos é pedofilia. Só mesmo nos EUA. Tsc tsc.

Em resumo, 50 Tons é um filme pornô feito para meninas desde a primeira tomada até o apagar das luzes. Se você não ficou excitada (o) vendo o filme, parabéns, você errou de sala na hora de comprar o ingresso. Preste mais atenção da próxima vez, mocinha (o).

Acho que é só isso. Caso eu tenha esquecido algum item, por favor, não hesitem em adicionar aos comentários.

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