[dropcap]A[/dropcap]manhã (21 de setembro), o morador mais ilustre do Maine faz 66 anos de vida e umas quatro décadas dedicadas a assustar o maior número de pessoas com seus livros. E isso em um ritmo de quase um livro por ano, o que sempre foi um terreno propício para o cinema chafurdar em suas diversas obras. E é preciso dizer que na maioria do tempo isso não foi tão bom assim.
É óbvio que o personagem em questão é o escritor Stephen King, e em sua homenagem aqui vai uma lista com dez filmes (+1) que se destacam por alguma razão… ainda que não seja das melhores.
Um Bom
Carrie, A Estranha (Carrie, 1976, dirigido por Brian De Palma)O livro de estreia de Stephen King não só foi o primeiro a ganhar os cinemas, como, muito provavelmente, é uma das melhores adaptações. Na história, uma menina loser acaba descobrindo ter poderes telecinéticos e quem “paga o pato” é todo mundo a sua volta que sempre fez de sua vida um inferno.
Carrie não só conta com a qualidade de De Palma para dar certo (além das impressionantes atuações de Sissy Spacek e Piper Laurie), como com a qualidade e a facilidade da história, coisa que ao poucos muda na carreira do autor e complica de vez a vida de quem se aventura a adaptar seus livros.
Além desse filme, Carrie ainda ganhou uma sequencia descartável em 1999 e uma releitura em 2002 (ambos feitos para a TV), além de um musical no circuito off-broadway, para só então esse ano (com estreia marcada para 13 de outubro) ganhar uma refilmagem nos cinemas que promete fazer jus ao original.
Um Ruim
Comboio do Terror (1986, Maximum Overdrive, dirigido por Stephen King)Para começo de conversa Caminhões, pequeno conto da antologia Sombras da Noite nem seria a melhor escolha para uma adaptação, pior ainda quando ela acabou sendo a tentativa (equivocada) do escritor de estrear por trás das câmeras, já que seu nome já estava mais que concretizado no mundo do cinema, tendo mais de uma dezena de obras suas ganhado as telas.
Comboio do Terror é então desastroso, mal dirigido, mal escrito e (infelizmente) inesquecível, já que ninguém consegue esquecer daquele “filme ruim do caminhão sem piloto e com a cara do Duende Verde (e seu… comboio do terror) atacando um monte de inocentes dentro de uma loja de conveniência de um posto de gasolina”.
Uma ótima adaptação
Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994, dirigido por Frank Darabont)Tirando um cachorro louco em Cujo (1983) e a ficção O Sobrevivente (1987, mas que foi escrito pelo seu pseudônimo), somente Louca Obsessão (1990) tinha apostado no lado menos extraordinário do escritor. Até Frank Darabont surgir com Um Sonho de Liberdade, que não só foi um sucesso descomunal como até hoje é o “filme preferido” de muita gente.
E talvez parte disso venha com um dos dogmas que acabaram perseguindo o nome do escritor no cinema: quanto menos páginas, melhor o resultado. Um Sonho de Liberdade então é um conto do livro Quatro Estações (do qual mais duas outras histórias ganharam o cinema e fizeram igual sucesso) e conta a história de um contador que acaba indo parar no presídio de Shawshank e surpreende a todos com um dos planos de fuga mais inesperados do cinema (e da literatura).
Uma péssima adaptação
O Iluminado (The Shining, 1980, dirigido por Stanley Kubrick)Ok, O Iluminado é um dos melhores filmes de terror da história do cinema (e isso sem exageros), mas tirando o hotel, a pai maluco e o menino que “see dead people” bem antes do Sexto Sentido, Kubrick simplesmente mastigou… mastigou… e mastigou mais um pouco o sensacional livro de Stephen King e cuspiu uma história completamente nova e igualmente sensacional.
Em poucas palavras, o melhor do livro não está no filme, e todas aquelas partes clássicas, incluindo o recado na maquina de escrever, o machado e o sangue no elevador (o que quer ele quisesse significar!), só estão no filme. Portanto O Iluminado é realmente sensacional, mas é uma enorme e egocêntrica piada em termos de adaptação.
Um que você talvez não saiba que é do Stephen King
Conta Comigo (Stand by Me, 1986, dirigido por Rob Reiner)Muito provavelmente, a enorme maioria das pessoas viu esse filme sem nem imaginar que foi escrito logo antes de um carro assassino em Christine, um gato preto que volta em Cemitério Maldito e depois do primeiro capítulo do épico fantástico A Torre Negra. Ainda por se tratar de uma história tão sensível sobre esses quatro amigos e essa aventura verdadeira e que queria ter sido vivida por nove entre dez crianças durante a década de oitenta.
Um que não parece ser uma adaptação
O Sobrevivente (The Running Man, 1987, dirigido por Paul Michael Glaser)Teoricamente O Sobrevivente foi escrito em 1982 por um tal de Richard Bachman, que na verdade era um pseudônimo de Stephen King, que entre 1977 e 1984 publicou quatro livros e, não curiosamente, só teve uma dessas obras ganhando o cinema depois do nome do verdadeiro autor vir a tona. Acontece que isso não pareceu fazer diferença, já que quase nada do livro sobrou para o filme.
Pior ainda, O Sobrevivente tinha mais era cara de ser feito para aproveitar a enorme popularidade de Arnold Schwarzenegger nos anos oitenta, e tentar enfiar a maior quantidade de frase de efeito que um filme conseguiria suportar ao invés de aproveitar o esquema dinâmico e o ritmo frenético do livro.
Um que dá muito medo
Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989, dirigido por Mary Lambert)Adaptado de um dos livros mais impressionantes e marcantes de Stephen King, Cemitério Maldito não foi realizado por um diretor com muita experiência, muito menos com um elenco lá muito empolgante, mas como eu disse, a história é tão amedrontadora que seria preciso pouco para que o filme fizesse sucesso.
Do maldito do gato, até toda situação do pai de família que perde o filho em um trágico acidente de carro, o filme faz apenas o necessário para gelar a espinha de qualquer um, principalmente diante das situações e soluções.
Um inesquecível
Louca Obsessão (Misery, 1990, dirigido por Rob Reiner)Não é exagero achar que King é uma verdadeira especialista em colocar os personagens tremendamente normais nas situações mais inesperadas e desesperadoras, que é exatamente o caso do coitado do escritor vivido por James Caan que acaba “caindo no colo” de uma espécie de fã número um e completamente psicopata que faz ele se arrepender de ter matado o personagem principal de sua série de best sellers.
Se arrepender de verdade, já que Reiner consegue captar perfeitamente o clima desesperador da situação e, principalmente, dar espaço pra Kathy Bates sobreviver no subconsciente de muita gente depois da cena do tornozelo por um bom tempo.
Um que merecia uma 2° Chance
It – Obra Prima do Filme (It, 1990, dirigido por Tommy Lee Wallace)Sem dúvida nenhuma It é umas das obras mais assustadoras e completas de King, e isso ainda reflete uma estrutura enorme que, obviamente só conseguiu ganhar vida de modo minimamente coerente diante de uma minissérie para a TV. O problema é que também não há duvidas que a qualidade da série não passa nem perto de suas possibilidades, e se o palhaço Pennywise já fez muita gente descobrir que tinha Coulrofobia, seria um enorme prazer ver esse material agora na mão de um bom diretor e uma produção mais caprichada.
Um que merecia um filme
CelularPrimeiro (em 2007) o diretor Eli Roth foi confirmado na direção de uma adaptação, isso não durou muito, e em 2009 falou que não ia mais fazer parte do projeto. Já em 2012, não só o diretor de Atividade Paranormal 2, Tod Williams afirmou que iria comandar a adaptação, como pouco tempo depois o astro John Cusack também confirmou sua presença. Mas isso já faz um tempão e nada mais foi comentado desde lá.
Mas, sem dúvida nenhuma, esse é o momento desse filme, e não só por se tratar de um filme de zumbis (à moda de Stephen King, é bem verdade!), como também deve acabar sendo lembrado, já que o nome do escritor acaba de ganhar destaque com o sucesso da série de TV Under the Dome e ainda a provável boa bilheteria da nova Carrie.
Entretanto, a melhor notícia de todas é que, recentemente, o próprio King deixou escapar que finalizou a primeira versão de um roteiro e que deve mudar o final que (convenhamos), deixa a desejar demais perto do resto da história.
(Extra)Adaptação mais completa
O Nevoeiro(The Mist, 2007, dirigido por Frank Darabont)Depois de passar por obras sensíveis e que fugiam do espetacular e da fama de “mestre do terror” de Stephen King (em Um Sonho de Liberdade e A Espera de um Milagre), Frank Darabont escolheu o primeiro conto da antologia Tripulação de Esqueletos para sanar a sede de sangues, monstros e nojeiras dos fãs do autor.
E não só isso, O Nevoeiro resume perfeitamente parte da obra de King, daqueles momentos em que ele coloca personagens completamente normais em situações completamente extraordinárias e esses mesmos percebem que, muitas vezes, o pior monstro não é viscoso e cheio de tentáculos. Melhor ainda, além do clima perturbador, Darabont ainda inova com um final surpreendente e a coragem de acrescentar mais qualidade ainda à obra, que já era espetacular.