Eternos | Crítica do Filme | CinemAqui

Eternos | Impossível de ser ignorado


Existe alguma coisa de diferente em Eternos, vigésimo sexto filme do MCU, e é impossível de ignorar isso. Independente da qualidade do filme ou suas intenções, seu legado de ser o filme mais diferente da Marvel deverá ficar. Se isso é algo que irá mudar os rumos desse universo da Marvel, muito provavelmente não, mas é sempre bom ver algo diferente.

Esse “diferente” talvez venha da presença da vencedora do Oscar, Chloé Zhao, no alto dos créditos, mas talvez muito menos na cadeira de diretora que muita gente espera. Mas com certeza sua clara sensibilidade artística está solidificada no roteiro, escrito em parceria com Patrick Burleigh, Ryan Firpo e Kaz Firpo.

A diretora Zhao não parece preocupada em fugir de uma espécie de “grande esquemão da Marvel”, portanto Eternos some um pouco dentro de certa mesmice visual do MCU. O que não é defeito, já que o visual funciona perfeitamente e não decepciona. Mas não é isso que se destaca, mesmo com o impecável trabalho da criação desse mundo através do olhar da quatro vezes indicada ao Oscar, Eve Stewart.

Talvez seja necessário falar um pouco mais sobre o visual de Eternos, já que ele, não só serve para, mais uma vez, desvendar esse lado cósmico do MCU com propriedade e personalidade, como também deixa claro uma influência (mais que bem-vinda) da inspiração do material original dos quadrinhos, de Jack Kirby. Portanto, um visual fiel e espetacular.

Zhao valoriza isso. A beleza do filme está lá, o tamanho gigantesco do Celestial está lá. Assim como o tamanho diminuto do ser humano diante do universo. E talvez aí esteja a maior qualidade de Eternos.

O filme acompanha esse grupo de heróis cósmicos enviado para a Terra a milhares e milhares de anos atrás para proteger a evolução do ser humano do perigo dos Deviantes, criaturas que tem como único objetivo acabar com quem estiver na sua frente, inclusive os Eternos.

Parece pouco, e esse ponto partida é mesmo pouco. Um esforço óbvio para criar um conceito completamente comum e que não parece ir além do óbvio. Nem quando nos dias de hoje alguns Deviantes voltam a atacar e os Eternos precisam se juntar mais uma vez para enfrentar seus inimigos. Mas o filme também não é sobre isso. Tem muito mais coisa.

Eternos é sobre a responsabilidade de ser um herói. O peso disso e o quanto salvar o dia pode não ser suficiente. O filme de Zhao vai além, conta uma história sobre obediência cega e a oportunidade de entender o verdadeiro papel de cada um desses seres dentro desse mundo. Talvez não simplesmente aceitando o próprio destino.

Zhao busca um filme que se aprofunda nos personagens, quer realmente sabe o que cada um está sentindo diante da obrigação de tomar algumas decisões que podem colocar tudo em jogo. Tanto o que acreditavam, quanto o que achavam que poderia ser o futuro certo. Eternos é o filme mais humano da Marvel, não pela tristeza ou sacrifício, mas por encarar de frente esses personagens em todas suas complexidades.

Esses heróis acabam se tornando não convencionais, nunca por seus poderes, uniformes e efeitos visuais, mas por conversarem. Eternos pode até ser acusado de ter muitos diálogos expositivos, mas talvez isso seja uma intenção de Zhao e isso impacta na clara intenção de Eternos de, simplesmente, escutar seus heróis falando. As personalidades deles estão nos diálogos, principalmente, pois o espectador vai saber como cada personagem está lidando com todas essas transformações.

Mesmo esquematizado de modo quase simples, naquele velho esquema “heróis precisam enfrentar vilões de poderes semelhantes enquanto se juntam em uma equipe”, Eternos dá um passo adiante em uma espécie de “existencialismo heroico”. Em certo momento o filme fica realmente pesado ao discutir as responsabilidades de seus poderes e da presença deles naquele mundo. E o filme de Zhao não está falando de Thanos (isso ele varre para baixo do tapete em duas linhas de diálogo), mas sim da responsabilidade real daqueles seres superiores que estão tão perto dos seres humanos. Mas ao mesmo tempo, distantes.

Um filme sobre heróis que não são “supers”, mas que precisam entender essa possibilidade, mesmo que isso signifique enfrentar tudo aquilo que os forma diante da descoberta de serem tão pequenos e insignificantes quanto eles poderiam achar que seus protegidos humanos eram. A transformação de Phastos (Brian Tyree Henry) diante de Hiroshima é de uma delicadeza e emoção que o fã não está acostumado a encarar no MCU (talvez isso só tenha sido arranhado em Ultimato, mas de um modo muito menos visceral e menos poderoso).

Zhoe usa desses flashbacks para desenvolver a dinâmica entre os personagens e o resultado disso é um ótimo uso de um elenco incrível. Todo mundo parece ter o espaço mais que suficiente para os fãs se simpatizarem e entenderem suas motivações. Richard Madden, como IKaris continua deixando claro o quanto é um ator diversificado e não perde nenhuma oportunidade de brilhar. Tyree Henry é Kumai Nanjiani (Kingo) provam mais uma vez o quanto são dois atores com personalidades incríveis e fazem qualquer personagem brilhar. Entretanto, o destaque do elenco é mesmo a presença de Ma Dong-seok  (que muita gente vai lembra de Invasão Zumbi) como Gilgamesh, conseguindo equilibrar perfeitamente bem força e emoção em um personagem complexo e que vai se tornar o preferido de muitos fãs.

E talvez o maior trabalho de Chloe Zhao também esteja nessa capacidade de fazer esse elenco inteiro funcionar no seu melhor, afinal, eles têm em mãos não um filme qualquer de super-heróis, e, muito provavelmente, enxergam a possibilidade de terem algo a mais. Eternos quebra essas e mais um monte de barreiras com personagens e beijos homossexuais e até uma cena de sexo. Realmente um filme do MCU único e que abre espaço para muitos outros filmes únicos. Um filme diferente e será impossível ignorar isso tudo.


Eternals” (EUA, 2021); escrito por Chloé Zhao, Patrick Burleigh, Ryan Firpo e Kaz Firpo; dirigido por Chloé Zhao; com Gema Chan, Richard Madden, Angelina Jolie, Salma Hayek, Kit Harington, Kumail Nanjiani, Lia McHugh, Brian Tyree Henry, Lauren Ridloff, Barry Keoghan, Ma Dong-seok, Harish Patel e Bil Skarsgard.


Trailer do Filme – Eternos

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