[dropcap]E[/dropcap]xistem duas certezas na vida: 1) Um exterminador virá do futuro para matar alguém que ainda não nasceu ou que irá comandar uma resistência, 2) A cada filme que alguém usa essa premissa, automaticamente tudo que veio antes é jogado fora enquanto se constrói mais um paradoxo temporal ridículo e cansativo. Exterminador do Futuro: Destino Sombrio não decepciona em nenhum dos dois quesitos.
O filme tem Tim Miller na direção, aquele mesmo de Deadpool, o que garante a ação, mas é impossível não achar que a quantidade enorme de nomes relacionadas ao roteiro tenha feito tão bem assim para o filme. São cinco nomes envolvidos na história e dois deles ainda com um terceiro finalizando o roteiro. Tudo isso para tentar dar um passo inédito na franquia.
Portanto ignore o que aconteceu nos últimos três filmes e na série, volte ao segundo e se prepare para ignorar ele também. Destino Sombrio faz questão de começar uma nova história. Aproveitando alguns detalhes antigos, isso é bem verdade, mas tudo isso sem fazer absolutamente nada de novo.
Não existe nada em Destino Sombrio que já não tenha sido feito em algum momento da série, incluindo os filmes ignorados. E talvez aqui surjam alguns spoilers.
A vítima da vez é Dani Ramos (Natalia Reyes), uma jovem mexicana que vive sua vida de trabalhadora em uma grande fábrica de automóveis. Mas isso não importa muito, já que Grace (Mackenzie Davis) é uma soldado aprimorada que vem do futuro para proteger Dani enquanto as máquinas enviam o Ver-9 (Gabriel Luna), o “exterminador da vez”, com jeitão de T-1000, mas com alguns poderes a mais.
O nome de James Cameron na produção e entre as dezenas de mãos do roteiro ainda deve ter ajudada à volta de Sarah Connor (Linda Hammilton), devidamente trajada como uma senhora de idade ranzinza, amargurada e que mata exterminadores nas horas vagas. Ainda existe uma desculpa estapafúrdia para trazer de volta um dos T-800 (Arnold Swcharzenegger), já que, aparentemente, mesmo com o fim da Skynet e apocalipse de 1998 cancelado, eles continuaram chegando no passado. Sim o inimigo agora é outro, Legião, e isso não importa, já que, assim como toda a franquia, pouca coisa se salva em meio a um monte de furos e paradoxos.
E se o que todo mundo quer é ação, tudo bem, Destino Sombrio tem de sobra. Miller sabe onde colocar a câmera e não se preocupa com os limites dos dólares, muito menos com os efeitos especiais e CGI, portanto, seus personagens voam pelo cenário em brigas enormes e explosivas. E isso deve ser mais que o bastante para satisfazer os fãs. Principalmente quando você olha para a tela e vê um quebra-pau envolvendo quatros exterminadores ao mesmo tempo.
Sim, nunca um filme teve tanta gente vinda do futuro (na verdade três, mas o Rev-9 tem uma surpresinha), o que ajuda o fã a não se importar com a cena da perseguição de carro como em Julgamento Final. Assim como não perceberá que não é novidade o alvo ser o líder da resistência e não a mãe dele. Ainda que isso sirva para “entregar” a franquia para o século 21.
Sim, estamos falando de um posicionamento sócio-político que (mesmo pertinente) beira o esdrúxulo, já que não tem nem um pingo de sutileza. Mas com os parênteses salientaram, ainda assim é um esforço interessante. Se você não percebeu, estamos falando de “uma líder”, não de um cara, assim como não da “mãe de alguém”, mas sim da importância da mulher em si. E lógico, a heroína da vez é uma moça de 1,78 m que parece ser o dobro disso e não irá parar enquanto não quebrar de porrada o exterminador. Por fim, Carl (sim, o T-800 tem nome agora!), é um pai de família amoroso que salvou a esposa de um ex-marido abusivo e construiu uma vida de casado baseada em um relacionamento de companheirismo, não de sexo.
E se você acha que Destino Sombrio não passaria pelo momento político dos EUA, logo vai perceber o quanto a bandeira do país está sempre no uniforme do Rev-9, de piloto até policial da imigração, já que a trinca de protagonistas precisa entrar na America do jeito mais “imigrante ilegal” possível.
Exterminados do Futuro: Destino Sombrio tem essa vontade de entregar a franquia para o século 21, mesmo que seja necessário fechar o que já foi feito e começar de novo. Isso, pelo menos até o próximo filme, que, muito provavelmente, enviará um novo exterminador do futuro, criará um novo paradoxo e destruirá toda mitologia que foi criada nesse. Mas tudo bem, como sempre, ele já volta.
“Terminator: Dark Fate” (EUA, 2019), escrito por James Cameron, Charles H. Eglee, Josh Friedman, David S. Goyer, Justin Rhodes e Billy Ray, dirigido por Tim Miller, com Natalia Reyes, Mackenzie Davis, Linda Hamilton, Gabriel Luna e Arnold Scwarzenegger.