Tim Burton já tem sua carreira estabelecida, todos já reconhecem seus filmes só de uma olhada na tela, seus personagens são lembrados depois por anos e anos e até já se dá ao prazer de fazer o que quiser com sua carreira, mesmo que seja uma besteira como Sombras da Noite, só para saciar uma vontade sua. Frankenweenie tem um pouco disso tudo.
Espécie de remake do primeiro curta do diretor (que na época, curiosamente, foi rejeitado pela Disney, que hoje assina essa produção), o filme, todo em preto e branco e feito por meio de stop-motion, é apenas um daqueles momentos em que Burton resolve, independente do que os outros esperam e querem, fazer um filme para si próprio, cheio de referência, homenagens e uma história que parece só estar ali para colar todos esses detalhes.
Nela, um garoto, Victor (que mais tarde se descobre, não por coincidência, levar Frankenstein como sobrenome), meio deslocado dos outros meninos, se divertindo muito mais criando filmes amadores com seu cachorro, Sparky, do que fazendo qualquer outra coisa, mas acaba tendo sua vida destruída com a morte de seu companheiro.
Mas tudo isso pode mudar quando descobre, em uma aula de ciências, com um professor esquisitão, que correlaciona a formação de raios com seu óbvio passado de cientista renomado (soviético talvez, ou alemão) que foi trazido para os Estados Unidos por isso, mas acabou dando aulas para crianças nessa escola de New Holland (e é acara do “Mestre do Macabro”, Vincent Price), que o sistema nervoso dos animais responde a eletricidade. E daí para seu cachorro morto estar no teto de sua casa esperando por um raio é um pulo.
Exatamente do mesmo jeito que o monstro imaginado por Mary Shelley ganhou vida em sua versão cinematográfica mais famosa, de 1931. “Sparky is alive!”, com direito a parafuso ao lado da cabeça e tudo mais, e Tim Burton está livre para se divertir em um desfile de referências e pequenos detalhes, personagens, nomes e o que mais tiver pela frente para divertir o espectador. Do amor pelo cinema através do personagem montando seu filme em uma moviola ao clássico final com moradores aterrorizados perseguindo o “monstro” com tochas em mãos.
Infelizmente, Frankeweenie acaba um pouco soterrado por toda essa vontade de homenagear o cinema de terror clássico (e até os grandes monstros que destruíram Tóquio vez ou outra) e o que sobra é apenas uma história levemente sem graça. Que, é verdade, junta bem todos as situações, mas não parece se importar em dar um segundo passo em direção a algo um pouco menos previsível. Mesmo já tendo os espectadores em sua mão, torcendo por Sparky e Victor, que precisam salvar a cidade de uma invasão de animais de estimação trazidos dos mortos, a animação pouco empolga.
Mas sobre isso, o resultado acaba mesmo sendo uma pequena e passageira declaração de amor ao cinema da parte do diretor, assim como já tinha feito em Ed Wood, Edward Mãos de Tesoura e Marte Ataca. Um amor que, pelo menos é sincero o suficiente para resultar e um filme que, para sorte do espectador, compensa todo desperdício de talento de Burton em seus dois últimos filmes.
idem(EUA/Can, 2012) escrito por Leonard Ripps (roteiro Original), Tim Burton e John August, dirigido por Tim Burton, com vozes na versão original de Martin Short, Martin Landau, Winona Ryder e Charlie Tahan.
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