Franklin: A História de um Bilhete | Acontece tudo e não chega em lugar nenhum

No primeiro ato de Franklin: A História de um Bilhete, muita coisa acontece. Muita. Porradaria, facadas, muito sangue, uma trilha sonora genérica de suspense e ação no talo, tudo com uma montagem que conecta tudo com a graciosidade de uma avalanche. Cada cena parece ser a que antecede algo, mas esse algo não chega e o que acontece é que somos jogados dentro de uma história com a qual o filme não perde tempo tentando nos envolver.

E esses problemas que aparecem logo no início de Franklin… — o título é em referência à nota de cem dólares, estampada com o rosto de Benjamin Franklin, manchada de sangue que o protagonista carrega e que conecta o filme inteiro  — perseveram até a sua conclusão, à qual é completamente inverossímil alguém conseguir chegar vivo, mas chegam! Afinal, desde o momento que dá a razão para o protagonista ser preso, o diretor Lucas Vivo García Lagos mostra que pouco se importa em fazer sentido.

O que não seria um problema, é caro, se o filme conseguisse segurar o tranco de suas insanidades. Bom, mas vamos à sinopse: em Franklin…, acompanhamos o ex-boxeador Correa (Germán Palacios), que vai parar na cadeia depois de matar “acidentalmente” um homem e que acaba de ser solto. Agora, ao lado da namorada, a prostituta Rosa (Sofía Gala Castiglione), ele precisa se livrar de golpistas, policiais corruptos, traficantes vingativos e outras figuras perigosas enquanto tenta ir atrás de um bilhete premiado de loteria e fugir da Argentina, onde uma caralh… quer dize, “monte de gente” quer matá-los.

O primeiro ato do longa é uma bagunça: cenas mal conectadas, saltos temporais longuíssimos que não deixa tempo de nos habituarmos ou nos apegarmos a nada, personagens estereotipados, uma sensação constante de que algo está para acontecer, mas nunca acontece. O resto do filme é… Bem, também é uma bagunça, mas pelo menos um acontecimento se sucede a outro de forma lógica. Pois é: isso é o que dá para encontrar de minimamente decente no longa dirigido por Lucas Vivo García Lagos, que também assina o roteiro ao lado de Marcelo Slavich e Walter Slavich (precisava mesmo de seis mãos para conceber isto aqui?).

O cineasta simplesmente não se preocupa nem um pouco em fazer com que nos importemos com os personagens — o que, considerando que grande parte da “graça” do longa é darmos a mínima para se Correa e Rosa vão ou não conseguir se safar, torna a experiência toda extremamente entediante. Não ajuda o fato de que logo percebemos que, por mais que Franklin seja repleto de matança e sangue e tiros e porradaria, o casal central consegue escapar, se não ileso, ao menos vivo toda vez. Ou que os dois sejam personagens completamente vazios, com os quais Palacios e Castiglione sequer têm a chance de fazer algo interessante.

Aliás, o único personagem minimamente carismático de todo o longa é Yelmo (Joaquín Ferreira), o responsável pelas apostas que é completamente desperdiçado por Lagos — Yelmo é o mais perto que Franklin tem de um alívio cômico, mas o cineasta parece não perceber isso e continua tratando o núcleo dele com a mesma seriedade (e incompetência) do resto.

Embalando cada sequência com uma trilha sonora genérica de filme de ação, é daquelas produções que você vai esquecer assim que se levantar da poltrona na sala de cinema.


“Franklin, Historia de un Billete” (Arg, 2022), escrito por Lucas Vivo García Lagos, Marcelo Slavich e Walter Slavich; dirigido por Lucas Vivo García Lagos; com Germán Palacios, Sofía Gala Castiglione, Joaquín Ferreira, Daniel Aráoz, Cristian Salguero e Isabel Macedo.


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Trailer do Filme – Franklin: A História de um Bilhete

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