Fúria Filme

Fúria

Uma das conclusões que se tira de Fúria é que Nicolas Cage acha realmente que é um camaleão. A outra é que ele é workaholic, mas uma não atrapalha a outra, ainda que, infelizmente, ambas impeçam o filme de estreia em Hollywood do espanhol Paco Cabezas chegar longe o suficiente para, pelo menos, não ser esquecido poucos minutos depois de seu fim.

Se bem que talvez o filme até permaneça com o espectador por algum tempo graças a um final que é um verdadeiro soco no peito e caminha entre a melancolia dos erros passados e o peso da culpa dos equívocos mais recentes. E talvez Fúria, de modo honesto, seja isso mesmo, um filme que até tem um carapaça violenta e cheia de tiros e tipos maus, mas na verdade é um quadro sensível sobre como os dias que se passaram podem voltar para assombrar esse empresário rico e sua família.

Ele é Paul Maguire (Cage) que agora usa um terno e inaugura grandes obras junto com o prefeito da cidade, mas anos atrás estava soterrado em meio a máfia irlandesa. E esses dias de violência acabam tendo que voltar, e a gravata dá lugar a um casaco de couro, quando sua filha some de casa. A primeira suspeita recai então sobre os ombros da máfia russa e uma vingança tardia contra Paul e seus amigos próximos, que até aquele momento carregavam consigo o segredo de um golpe de quando ainda eram jovens.

Uma trama muito bem escrita e que parte de uma premissa que prende a atenção de todos, já que, fato a fato e segredo atrás de segredo, ela não só vai se tornando mais e mais robusta, como faz questão de julgar as ações do protagonista e em como com cada decisão, mesmo sem perceber, ele cava cada vez mais funda sua própria cova. “Fúria” então é um filme sobre erros, mas que expõe e leva até o fim o carma de cada um e o quanto, “dogmaticamente” falando, “aqui se faz, aqui se paga”.

Junto disso, os roteiristas Jim Agnew e Sean Keller (que escreveram Giallo, de Dario Argento), ainda fazem de tudo para surpreender todos com a conclusão da trama, tanto do lado do desaparecimento da filha quanto do embate entre os russos e os irlandeses. Muito provavelmente todos sairão do cinema surpreendidos por ambas linhas, ainda que uma delas (sem tentar cair em nenhum spoiler) acabe enfraquecida por um buraco no roteiro que move essa conclusão, pelo menos se levado em conta a qualidade da polícia ao invés de sua incompetência diante de uma cena do crime (mais precisamente um jardim).

Mas infelizmente, tudo isso perde boa parte de sua força com a presença estabanada de Cage, que acha realmente que mudando seu cabelo se transforma em alguém completamente diferente. Sem muita inspiração o ator é apenas um pastiche sem graça recortado de tantos outros de sua carreira, seja cabeludo guiando um avião cheio de detentos, ou salvando o mundo com Sean Connery em Alcatraz, tendo premonições ou em busca de algum tesouro perdido. Troque seu cabelo que ele agora sai em busca vingança.

Fúria Filme

Para sorte dele, todo resto do elenco também não ajuda, principalmente a fraquíssima Rachel Nichols e o rouco Danny Glover. O que é bom para Peter Stormare e Pasha D. Lynchnikoff, únicas duas atuações sãs do filme e que acabam valendo cada pequena participação na história.

Além disso, entre escorregões e acertos, pelo menos Cabezas consegue aproveitar todas desculpas para cenas de ação, conseguindo até forçar uma perseguição automobilística onde ela não precisaria existir. O espanhol então faz o que seu filme pede, e quando entre em “modo fúria” (dando razão o título), até deixa transparecer uma vontade de homenagear o cinema de algumas décadas atrás e o monte de capangas descartáveis.

E isso enquanto tenta ser minimamente diferente dentro do gênero brucutú (que hoje vem com tudo em um renascimento com Liam Neeson, Luc Besson e Cia.), já que não opta por um caminho dos mais felizes e nem muito politicamente correto. O que seria um prato mais cheio ainda com Nicolas Cage no poster. Mas como o astro nos últimos tempos parece estar mais preocupado em fazer qualquer filme que aparecer na sua frente do que (pelo menos!) ler os roteiros antes, nem sua presença chamará a atenção para Fúria, que talvez até merecesse uma olhada com mais carinho, mas deve mesmo passar despercebido.


Tokarev” (EUA/Fra, 2014), escrito por Jim Agnew e Sean Keller, dirigido por Paco Cabezas, com Nicolas Cage, Rachel Nichols, Max Ryan, Michael McGrady, Peter Stormare, Pasha D. Lynchnikoff e Danny Glover


Trailer do filme Fúria

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