Gostosas, Lindas e Sexyes Filme

Gostosas, Lindas e Sexies | Podia ser um exemplo, mas é um desastre


A indústria da moda, do entretenimento e da beleza definitivamente têm uma parcela enorme de culpa na manutenção dos padrões inalcançáveis de beleza. Assim, em revistas, filmes, seriados e comerciais, as mulheres são magras, sem celulite e com tudo no lugar, enaltecendo dietas milagrosas que as fizeram perder 30 quilos em 30 dias e outros absurdos do tipo. Nesse contexto, uma comédia nacional estrelada por atrizes plus size que se sentem bem consigo mesmas e vivem suas vidas como quaisquer outras mulheres poderia ser muito bem vinda. Infelizmente, a comédia em questão é a abismal Gostosas, Lindas & Sexies.

A jovem Beatriz (Carolinie Figueiredo) trabalha em uma revista feminina que adora reforçar esses padrões, mas sonha em dedicar-se exclusivamente a seu blog de estilo de vida e em escrever um romance. Suas melhores amigas são Tânia (Lyv Ziese), presa a um casamento já sem amor e a um marido que não lhe dá a mínima atenção; Ivone (Cacau Protásio), uma bem-sucedida empresária dona de diversos salões de beleza; e Marilu (Mariana Xavier), uma professora que acredita na livre expressão da sexualidade.

Não dá para dizer que Vinícius Marquez escreveu um roteiro, mas vamos lá: a trama tem início na noite em que Ivone dá uma grande festa para comemorar os dez anos de seu negócio. Lá, duas colegas de trabalho de Beatriz drogam a jornalista, que se entrega a uma dança espalhafatosa ¿ algo que, aparentemente, é ¿coisa de vadia¿. Isso atrai a atenção do charmoso fotógrafo argentino (Marco Antonio Caponi) que também trabalha na revista. Os dois passam a ter um caso, mesmo que Beatriz seja apaixonada por seu namorado (André Bankoff).

A partir daí, Marquez e o diretor Ernani Nunes jogam na tela uma inconsistência atrás da outra, sem que as personagens avancem para lugar algum ou que a trama demonstre ter sequer a mínima ideia de onde quer chegar. Assim, depois de uma cena de montagem em que vemos a relação de Beatriz com o amante pegando fogo, a cena seguinte a traz desolada por estar traindo o namorado. Não há lógica alguma nos sentimentos e ações das personagens, que parecem existir apenas em função do que o roteiro exige delas a cada momento. A subtrama envolvendo a paternidade dos filhos de Ivone (ela é negra; seu casal de gêmeos envolve uma branca e um asiático) não chega a lugar nenhum; e, pior de tudo, ninguém parece questionar o fato de Marilu estar dormindo com um de seus alunos do Ensino Médio.

Além do quarteto central, os demais personagens sofrem ainda mais nas mãos dos cineastas. A bela Juliana Alves é o mais absurdo estereótipo da empregada que ¿vive para fazer faxina¿ e, quando não está limpando, se dedica a servir de psicológica, conselheira, estilista e consultora legal de suas patroas, por que o que seriam delas sem a empregada? Nunes ainda tenta dar algum peso à personagem, mas sua ideia disso é trazê-la revelando, no terceiro ato, uma informação importantíssima que ela aprende no início do filme e que não teria motivo algum para ter guardado até agora. Ah, e como mulata, é claro que ela tem que aparecer sambando.

Gostosas, Lindas e Sexyes Crítica

Da mesma forma, o ¿amor bandido¿ envolvendo Ivone e seu sequestrador (pois é) é outro exemplo da maneira estereotipada com que os cineastas enxergam quem mora nas comunidades cariocas ¿ mas, aqui, a reviravolta é óbvia, além de demonstrar também que, apesar de se acharem muito irreverentes, Nunes e Marquez não resistem a um bom final feliz de novela.

Assim, apesar de se estabelecerem como mulheres independentes e seguras de si, cada uma das quatro termina, é claro, em um relacionamento, pois finais felizes para mulheres devem, invariavelmente, incluir um homem na história. Isso sem falar nos diálogos que, além de terríveis no conteúdo, também erram na forma ¿ Beatriz solta um ¿Darei um jeito de enganá-las¿, recitado como se ela estivesse lendo de um romance histórico, que chega a doer.

Inconsistente também na forma com que trata a autoestima das protagonistas, Gostosas, Lindas & Sexies em um segundo releva que o pseudônimo de Beatriz na internet é ¿Gata Gorda¿ para, no seguinte, trazê-la declarando que ¿não é gorda¿. Além disso, a jornalista em momento algum demonstra comer em excesso, mas conta com uma geladeira falante (no melhor estilo ¿melhor amigo gay¿) que impede que ela afogue as mágoas na comida, algo que ela não tenta fazer em momento algum.

Nem todas as boas intenções do mundo poderiam salvar Gostosas, Lindas & Sexies de ser um desastre. Afinal, o que dizer de um filme que tenta subverter as convenções da sociedade, mas que traz como maior (ou melhor, única) qualidade a beleza de alguns dos atores que vivem os interesses românticos das protagonistas? Estereotípico e ofensivo enquanto tenta se estabelecer como moderno e irreverente, o longa se limita a alternar entre clichês e inconsistências.


¿Gostosas, Lindas & Sexies¿ (Brasil, 2017), escrito por Vinícius Marquez, dirigido por Ernani Nunes, com Carolinie Figueiredo, Cacau Protásio, Mariana Xavier, Lyv Ziese, Marcos Pasquim, Juliana Alves e Marco Antonio Caponi.


Trailer – Gostosas, Lindas e Sexyes

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